São Paulo, domingo, 12 de junho de 2005

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Biblioteca básica

Palmeiras Selvagens

MILTON HATOUM
ESPECIAL PARA A FOLHA

Palmeiras Selvagens" (1939), de William Faulkner, é tão fascinante quanto "Luz de Agosto" e "O Som e a Fúria". Duas histórias compõem esse romance estranho e ousado, narrado com frases longas e cheias de incisos. Mas nem de longe é um texto enfadonho.
Na primeira história, um casal (Charlotte e Harry) perambula pelos Estados do sul dos EUA em busca de uma vida estável que jamais se realiza. Na outra, um presidiário adquire liberdade provisória para salvar vítimas da maior enchente do Mississippi. Ele navega à deriva no grande rio e, em vez de fugir, retorna ao presídio onde passa o resto da vida. O embate feroz do ser humano com a natureza alterna-se com a moral puritana da sociedade decadente do sul dos Estados Unidos.
Os dois relatos avançam em linhas paralelas, e o que se lê são, na aparência, histórias diferentes, sem pontos de contato. Isso surpreendeu e desconcertou uma parte da crítica da época, que viu uma total discrepância entre as duas narrativas. Na verdade, elas convergem de um modo secreto e subjacente para um foco dramático, revelando no destino dos personagens uma dimensão trágica, em que a sordidez, a loucura, o preconceito, o desespero e a sobrevivência formam o lastro comum de vidas desgarradas.


Milton Hatoum é escritor, autor de "Dois Irmãos" e "Relato de Um Certo Oriente" (ambos pela Companhia das Letras).

A obra
"Palmeiras Selvagens", de William Faulkner. Tradução de Newton Goldman e Rodrigo Lacerda. 296 págs., R$ 47. Ed. Cosacnaify (tel. 0/xx/11/3218-1444)


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