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"EUA terão que aumentar impostos"
Professor na Sorbonne, historiador fala do trabalho em Paris, a "grande capital", e nos Emirados Árabes, pólo da economia emergente
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ERNANE GUIMARÃES NETO
DA REDAÇÃO
Criado em 2006, o
campus Abu Dhabi
da Universidade de
Paris-Sorbonne recebe pela segunda
vez o professor Luiz Felipe de
Alencastro, 62.
Em sua passagem de duas semanas pelos Emirados Árabes
Unidos, o historiador, autor do
seminal "O Trato dos Viventes"
(Cia. das Letras) -sobre o tráfico de escravos entre Brasil e
África-, pode ver de perto o
novo "pólo de ligação" entre o
Ocidente e a economia asiática,
que, em sua opinião, avulta como protagonista do século 21
[leia texto acima].
Em entrevista por telefone à
Folha, Alencastro, que passará
a escrever a cada dois meses no
Mais!, diz que a preocupação,
nas últimas semanas, com a crise financeira ainda não teve
desdobramentos em um setor
importante: a política internacional. "Agora é que estão começando a discutir isso."
FOLHA - Sobre que o sr. pretende
escrever em sua coluna?
LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO - É interessante estar fora do Brasil,
mas indo e voltando, há quase
dez anos, estar numa grande
capital européia.
Havia um editor do "International Herald Tribune", jornal
com sede em Paris, que reclamava das greves, de como o
turno de 35 horas semanais
prejudicava a empresa. Um jornalista francês perguntou por
que ele não voltava para Londres: "Porque Londres não é
uma grande capital européia".
Quero falar, por exemplo,
dos 200 anos da vinda da corte.
Ela foi a ocidentalização do
Brasil, o começo do progresso,
mas também o momento da
entrada no impasse histórico
que foi o tráfico negreiro.
FOLHA - Como estudioso das relações entre metrópole e colônia, qual
é sua opinião sobre o acordo ortográfico da língua portuguesa?
ALENCASTRO - Sou favorável, é
muito importante em nível internacional. Há uma marginalização de línguas secundárias,
um dos problemas da globalização, e o fato de haver uma diferença muito escarpada entre as
variantes prejudica o aprendizado [por estrangeiros].
FOLHA - O que faz em Abu Dhabi?
ALENCASTRO - Leciono história
da presença portuguesa na
Ásia, em particular no Golfo
Pérsico. Falo da rivalidade de
Portugal não só com ingleses e
holandeses, mas também com
otomanos e persas.
FOLHA - Que outras atividades o sr.
está desenvolvendo?
ALENCASTRO - Estou preparando a versão brasileira de "O Império Português Frente aos Outros Impérios", que organizei a
partir de um colóquio organizado na Sorbonne, com Francisco Bittencourt. Sairá em
2009 -ainda não posso dizer o
nome da editora. Também em
2009 sai uma coletânea de artigos meus, pela Cia. das Letras.
FOLHA - Pretende voltar em definitivo ao Brasil?
ALENCASTRO - Eu volto. Aqui [na
Sorbonne] ainda faltam cinco
anos para me aposentar. Mas
passo férias no Brasil, participo
sempre de eventos e colóquios.
FOLHA - Que elementos novos a
atual crise financeira traz para a história econômica mundial?
ALENCASTRO - Acabou a idéia de
que o Estado não deve intervir
na economia. Os EUA tentarão
ajustar sua economia diminuindo o déficit, e isso implica
aumentar impostos. O nível de
vida da população deve cair,
pois os americanos viviam do
crédito. Estive na Universidade
Brown, em 2002 e 2004, e ouvi
brasileiros estranharem que,
mesmo sem documentação nenhuma, conseguia-se empréstimo. Isso não voltará mais.
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