São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
+autores Paradoxos da crise
BORIS FAUSTO COLUNISTA DA FOLHA
Tornou-se um lugar comum falar do fim da
hegemonia norte-americana e até do
deslocamento do eixo
do mundo para os países asiáticos, numa constatação que
mescla razões de ordem estrutural com o papel desempenhado pelos agentes históricos.
De fato, seria simplista atribuir ao governo de George W.
Bush todos os problemas que
os EUA vêm enfrentando.
Mas isso não contradiz a nítida percepção de que a chegada
de Bush e sua gente ao poder
agravou fatores negativos já
existentes, além de criar muitos outros.
Na área econômica, o governo republicano gerou os déficits gêmeos das contas externa
e interna; no plano internacional, as intervenções militares,
já de si bastante controversas,
de outros tempos, transformaram-se em aventuras guerreiras unilaterais, culminando na
invasão do Iraque.
Os direitos humanos foram
pisoteados, a ponto de admitir
a "tortura leve" e o escândalo
dos presos sem julgamento, na
prisão de Guantánamo. Por
fim, a crença na liberdade ilimitada do mercado e na sua auto-regulação redundou no milagre da multiplicação infinita
de papéis virtuais até que tudo
viesse a terminar numa crise
avassaladora cujo alcance e duração ninguém pode prever.
Mas é significativo constatar
que, em meio à crise, gerada a
partir dos EUA, sua moeda e,
principalmente, os títulos do
Tesouro sejam vistos como
portos seguros.
Como bem notou Celso
Ming, em "O Estado de S. Paulo" de 5/10, o dólar vem se valorizando não apenas com relação ao real, mas também em relação ao euro e outras moedas,
enquanto se intensifica a corrida dos investidores rumo aos
papéis do Tesouro americano,
sem a expectativa de obter ganhos, em busca tão somente da
redução de riscos.
Seguindo adiante, a crise explodiu paralelamente a uma
disputa eleitoral com ressonâncias internacionais, como
se verifica seja pela acolhida
entusiástica de Barack Obama
[candidato democrata] na Europa, seja pela atenção que a
mídia dedica à disputa, em todo o mundo.
Na verdade, após a razia provocada pelo triunfo da aliança
entre neoconservadores e fundamentalistas, a possibilidade
da abertura de novos caminhos
se torna agora possível.
Paradoxalmente, o agravamento da crise econômica veio
concorrer para tanto, não obstante seus terríveis efeitos sociais e financeiros. E isso por
duas razões básicas.
Em primeiro lugar, porque o
quadro atual coloca a economia no centro do debate, favorecendo os democratas. Não há
contorções verbais ou encantos femininos que possam
ofuscar esse fato.
Tudo indica que a corrida
apertada de algumas semanas
vai se converter numa clara vitória de Obama, salvo surpresas de última hora.
|
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |