São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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Clima e ambiente

O planeta estufa

PAULO ARTAXO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A expressiva vitória dos democratas nas eleições legislativas americanas da última semana traz esperança na política ambiental, em especial na questão das mudanças globais. A participação dos EUA, como o país mais poluidor do planeta (responsável por cerca de 25% das emissões de gases de efeito estufa), é crucial em qualquer estratégia de encaminhamento da questão das mudanças climáticas globais.

Kyoto com bom olhos
O governo republicano, cedendo às pressões da indústria do petróleo e carvão, tem sistematicamente negado qualquer compromisso americano de redução das emissões, mesmo tímida, como propõe o protocolo de Kyoto [cujas metas para diminuir a emissão de poluentes -principalmente nos países mais industrializados- não foram ratificadas pelos EUA].
Os democratas têm uma visão mais positiva nessa área, como mostra o filme de Al Gore [vice de Bill Clinton e candidato derrotado à Presidência em 2000], em cartaz no Brasil, que tem o título "Uma Verdade Inconveniente" e está fazendo muito sucesso no mundo todo.
Alguns Estados americanos, contrariando o governo de George W. Bush, estão aprovando legislações que reduzem as emissões de gases de efeito estufa. As pressões populares americana e internacional estão aumentando significativamente para que os EUA assumam sua responsabilidade ambiental para com o planeta.
Ironicamente, o Estado americano da Califórnia tem tido um papel de forte liderança ambiental na redução de emissão dos gases de efeito estufa e é governado por um republicano, Arnold Schwarzenegger.
O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) está finalizando seu próximo relatório científico sobre mudanças climáticas globais e terá sua reunião de apresentação formal dos resultados em Paris na última semana de janeiro de 2007.
As evidências científicas do agravamento da questão ambiental global crescem a cada momento, e medidas importantes de controle de emissões e de mitigação dos efeitos terão que ser tomadas rapidamente.
O Brasil também tem sua lição de casa por fazer, que é controlar o desmatamento da Amazônia e as queimadas de florestas, que também contribuem de modo significativo para o crescimento da concentração dos gases de efeito estufa.

Poderosos lobbies
Mas o papel da Presidência dos EUA ainda é muito forte, e certamente a batalha terá importantes etapas de negociação ao longo dos próximos dois anos de mandato do presidente Bush. O forte lobby das indústrias de petróleo e carvão continuará muito influente, tanto no governo quanto na Câmara e no Senado dos EUA.
O planeta tem um enorme desafio diante de si, que não tem precedentes na história humana. As implicações econômicas e sociais, além das ambientais, serão enormes, e relatórios recentes apontam a possibilidade de efeitos muito danosos para a economia mundial, em particular para a dos países em desenvolvimento.
As lideranças democráticas na Câmara e no Senado americanos podem iniciar uma nova fase, em que estes assumam suas responsabilidades ambientais para com o planeta, reduzindo suas emissões de gases de efeito estufa e estabelecendo políticas de auxílio à mitigação dos efeitos climáticos em países em desenvolvimento.


PAULO ARTAXO é professor no Instituto de Física da Universidade de São Paulo e é especialista em química atmosférica.


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