|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Clima e ambiente
O planeta estufa
PAULO ARTAXO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A expressiva vitória
dos democratas nas
eleições legislativas
americanas da última semana traz esperança na política ambiental,
em especial na questão das mudanças globais.
A participação dos EUA, como o país mais poluidor do planeta (responsável por cerca de
25% das emissões de gases de
efeito estufa), é crucial em
qualquer estratégia de encaminhamento da questão das mudanças climáticas globais.
Kyoto com bom olhos
O governo republicano, cedendo às pressões da indústria
do petróleo e carvão, tem sistematicamente negado qualquer
compromisso americano de redução das emissões, mesmo tímida, como propõe o protocolo
de Kyoto [cujas metas para diminuir a emissão de poluentes
-principalmente nos países
mais industrializados- não foram ratificadas pelos EUA].
Os democratas têm uma visão mais positiva nessa área,
como mostra o filme de Al Gore
[vice de Bill Clinton e candidato derrotado à Presidência em
2000], em cartaz no Brasil, que
tem o título "Uma Verdade Inconveniente" e está fazendo
muito sucesso no mundo todo.
Alguns Estados americanos,
contrariando o governo de
George W. Bush, estão aprovando legislações que reduzem
as emissões de gases de efeito
estufa. As pressões populares
americana e internacional estão aumentando significativamente para que os EUA assumam sua responsabilidade ambiental para com o planeta.
Ironicamente, o Estado americano da Califórnia tem tido
um papel de forte liderança
ambiental na redução de emissão dos gases de efeito estufa e é
governado por um republicano,
Arnold Schwarzenegger.
O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) está finalizando seu
próximo relatório científico sobre mudanças climáticas globais e terá sua reunião de apresentação formal dos resultados
em Paris na última semana de
janeiro de 2007.
As evidências científicas do
agravamento da questão ambiental global crescem a cada
momento, e medidas importantes de controle de emissões
e de mitigação dos efeitos terão
que ser tomadas rapidamente.
O Brasil também tem sua lição de casa por fazer, que é controlar o desmatamento da
Amazônia e as queimadas de
florestas, que também contribuem de modo significativo para o crescimento da concentração dos gases de efeito estufa.
Poderosos lobbies
Mas o papel da Presidência
dos EUA ainda é muito forte, e
certamente a batalha terá importantes etapas de negociação
ao longo dos próximos dois
anos de mandato do presidente
Bush. O forte lobby das indústrias de petróleo e carvão continuará muito influente, tanto no
governo quanto na Câmara e
no Senado dos EUA.
O planeta tem um enorme
desafio diante de si, que não
tem precedentes na história
humana. As implicações econômicas e sociais, além das ambientais, serão enormes, e relatórios recentes apontam a possibilidade de efeitos muito danosos para a economia mundial, em particular para a dos
países em desenvolvimento.
As lideranças democráticas
na Câmara e no Senado americanos podem iniciar uma nova
fase, em que estes assumam
suas responsabilidades ambientais para com o planeta, reduzindo suas emissões de gases
de efeito estufa e estabelecendo
políticas de auxílio à mitigação
dos efeitos climáticos em países em desenvolvimento.
PAULO ARTAXO é professor no Instituto de Física da Universidade de São Paulo e é especialista em química atmosférica.
Texto Anterior: Brasil e América Latina: O bode expiatório Próximo Texto: Cultura e comportamento: Imaginário incorreto Índice
|