São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2000


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A "Bibliotheca" é um livro que visa salvar os livros que não existem mais; a ele se deve boa parte do que se conhece hoje da literatura grega
O patriarca da memória

Mario Vitor Santos
especial para a Folha

Um livro raro, escrito há mais de 11 séculos, trazido de Portugal por d. João 6º em sua bagagem e achado na Biblioteca Nacional do Rio. Esta era uma motivação grande o suficiente para que o historiador e filólogo italiano Luciano Canfora viesse pela primeira vez ao Brasil. Autor de um livro controvertido sobre a biblioteca de Alexandria, Canfora agora busca pistas de um outro livro sobre livros que não existem mais, uma obra circular até no nome: "Bibliotheca".
Trata-se do livro do patriarca bizantino Fócio (820-891), que se dedicou a escrever descrições dos melhores e mais raros livros que conseguiu reunir em todos os cantos do mundo antigo. A "Bibliotheca" resume mais de 270 livros, quase todos desaparecidos, e dos quais só se sabe da existência por meio de Fócio, que é considerado uma espécie de pai da resenha literária. Além de intelectual, Fócio foi patriarca de Constantinopla em duas ocasiões.
A partir do trabalho de Canfora, dois exemplares da "Bibliotheca", ou "Fócio", como é também chamado, foram localizados na Biblioteca Nacional, do Rio. Eles estão no Brasil desde 1808, quando d. João 6º, perseguido por Napoleão, deixou Lisboa às pressas para refugiar-se no país, trazendo sua biblioteca na bagagem.
Assim que surgiu, a "Bibliotheca" foi considerada herética e sua reprodução proibida, apesar de o autor ter sido canonizado desde o século 10. O livro só teve a primeira impressão no início do século 17, por editores protestantes. Os dois exemplares localizados no Rio são de uma outra edição, impressa em Rouen em 1653 e submetida a censura em parte da tiragem. Em visita ao bibliófilo José Mindlin, em São Paulo, Canfora pôde confirmar que nessa época as tiragens variavam de 450 a 500 exemplares. O caçador de "Bibliothecas" desaparecidas já localizou quase todos.

Qual é a importância histórica de Fócio?
Fócio é um personagem a quem devemos boa parte do que se conhece da literatura grega -profana e teológica- em prosa. Nascido de uma grande família de Constantinopla, muito religiosa, inimigo dos iconoclastas, pois seu pai e seu avô sofreram com a perseguição religiosa ao tempo em que o imperador favoreceu os iconoclastas, Fócio veio a ser um dignitário e, em seguida, tornou-se patriarca, isto é, chefe da igreja de Constantinopla.
Na época, a Igreja era policéfala, havia cinco patriarcas na cristandade: em Roma (o papa), Constantinopla, Alexandria, Jerusalém e Antioquia.
Em Roma, havia um papa que não tinha grande poder político, tanto que o patriarca de Constantinopla era, de sua parte, o imperador de Bizâncio, o que equivale a dizer, o imperador romano.
Era difícil para o patriarca de Constantinopla aceitar ser subordinado à autoridade moral do papa. A luta que se abre entre Constantinopla e Roma justamente na época em que Fócio era patriarca está ligada no fundo ao problema da primazia, ou seja, se Roma deve ter a primazia sobre os outros patriarcados ou não. E Fócio evidentemente diz não.
Mas, se esse é um personagem de primeiro nível para a história da Igreja e a história em geral, é também de primeiro nível do ponto de vista da renascença no Oriente. A renascença bizantina, por assim dizer, começa com ele. É o seu amor pelos livros que o animou a pesquisar por todos os lugares. Colecionava-os infatigavelmente. Procurava raridades, não comprava volumes nas livrarias.
Sua coleção era, na grande maioria, de peças únicas. Com seus alunos, lia os textos, comentava, fazia extratos, juntava em fichários. Era um trabalho de elite, uma elite cultivada que se reunia em torno dele, formada com critérios bastante amplos, não segundo essa idéia ocidental da aristocracia hereditária.
São artesãos, pessoas da Igreja, até pescadores. Isso é sabido por um texto muito conhecido, as atas do Concílio Ecumênico que se reuniu em Constantinopla em 869 e que condenou Fócio, em consequência da aliança que se estabeleceu entre o imperador de Bizâncio e o papa. Fócio, posteriormente, foi capaz de reverter a situação e recuperar a posição patriarcal, razão de minha simpatia total por ele. É curioso, porque a Igreja bizantina lutava encarniçadamente com Roma por mais autonomia, mas também era intolerante no plano interno. O círculo de leitores é considerado perigoso pela ala mais obscurantista da Igreja de Bizâncio. Inácio, o patriarca anterior, fora perseguido no momento em que Fócio assume o posto. Não é o santo Ignácio de Loyola, é o santo Inácio da Igreja grega, assim como Fócio, que também é santo. A Igreja bizantina tem esse caráter eclético. Os adversários se tornaram santos, os dois. Santo Inácio permaneceu no posto por algum tempo antes de Fócio ser renomeado patriarca.
Mas, no momento daquela queda, em que ele estava na prisão, os livros e notas foram confiscados, uma parte ao menos da coleção foi destruída. A coleção em si era considerada como algo temível. Alguma coisa foi queimada em público, o que é descrito nas atas do concílio de maneira um pouco obscura. Depois da condenação, Fócio conseguiu recuperar as notas de leitura, mas grande parte dos livros desaparecera. Ele copiou essas notas e é dessa maneira que nasceu a "Bibliotheca", cujo título verdadeiro é "Lista Razoável dos Livros Que Eu Li", encontrado no manuscrito de Veneza, talvez contemporâneo do autor.
É então um livro que tem o propósito de salvar os livros que já não existem mais, de salvar a memória destes livros. Há consequências negativas disso. No momento em que as notas foram copiadas os livros já não estavam lá, nem foram incluídas as notas que foram apostas junto ao texto dos livros. Como se sabe que as obras incluídas na "Bibliotheca" foram destruídas? Porque, imediatamente depois de Fócio, os grandes sábios já não conheciam os livros dos autores que ele tinha estudado, mas conheciam a "Bibliotheca". E o fato de que tenha sido salvo, em Veneza, na biblioteca de Bessarião, um exemplar desse livro, é para nós uma ocasião preciosa. Ele nos dá de presente os livros com que os bizantinos obtinham prazer.
Como para nós, que estudamos a tradição clássica, grega em particular, o problema principal é saber como determinar a escolha do que chegou até nós, um livro como a "Bibliotheca" de Fócio é mais importante do que qualquer outro. Ele nos dá trechos, algumas vezes em dezenas e dezenas de páginas, dos autores que se perderam. Meu objetivo é escrever uma história da gênese deste volume e também da tradição de suas impressões.
Como a "Bibliotheca" foi descoberta? O livro chegou ao Ocidente no início do século 15 pelo cardeal Bessarião, que vivia entre Roma e Veneza. Ao morrer, em 1448, deixou sua coleção de manuscritos para a República de Veneza. A coleção ficou guardada na Biblioteca de São Marcos, na praça célebre de Veneza. Os manuscritos de Bessarião ficaram em caixas por dezenas de anos porque a república não tinha ninguém para administrar. Sabia-se da existência de um tesouro naquelas caixas, mas não de Fócio.
Talvez à época do concílio de Trento (1545-63), ou um pouco antes, tenham aparecido dois personagens. Um deles, Henri Estienne, grande helenista parisiense, pertencente a uma memorável família de tipógrafos helenistas, protestante e exilada em Genebra, retornado à França duas gerações mais tarde, foi também embaixador em Roma. O outro é d. Diego Hurtado de Mendoza, grande humanista, representante do poder político católico, mas intimamente cético.
Henri Estienne, de um lado, e don Diego, de outro, descobriram o Fócio em Veneza e o recopiaram. A cópia de Estienne está na Biblioteca de Londres, a de Hurtado, no Escorial, em Madri. Ambos não publicaram o texto. Estienne, porque escolheu uma via um pouco comercial. Publicou como achados seus os autores profanos que Fócio resumira em algumas partes da "Bibliotheca". Autores que não existem mais. Publicou Ctésias, um historiador grego do início do século 4 a.C., de que não existe registro. Fócio dedica a ele 30 páginas. Estienne disse ter encontrado Ctésias, só não disse onde o encontrou.
De tempos em tempos, ele publicava uma novidade, conquistou um prestígio enorme, era um milagre, evidentemente. De outro lado, Urtado não publicou o texto, não por falta de interesse, mas porque a Igreja Católica era contra. Por que a "Bibliotheca" demorou tanto para ser impressa? Os jesuítas, sobretudo, diziam que não se devia publicar a obra de um heresiarca. Estamos a partir de então na mesma época do Index Librorum Prohibitorum, o índex de livros proibidos. Os heresiarcas são proibidos em bloco. Não se pode ter nem publicar Lutero, Calvino, mas também Fócio, Filostórgio, Ario. Foi tudo queimado. A primeira edição impressa apareceu na Alemanha, em Augsburgo, em 1601, por um editor luterano. Aí começa a história da impressão de Fócio, que dura até o século 19.
Comecei por uma edição publicada em Rouen em 1653. É célebre, exaltada hoje injustamente por várias razões, mas é a última antes da edição moderna. Descobri que essa edição foi submetida a censura, páginas foram cortadas no início. Estou tentando fazer uma lista completa dos exemplares existentes.
Amigos de todo o mundo estão fazendo consultas nas bibliotecas mais importantes. Tive o prazer de constatar a existência de dois exemplares da "minha edição" no Rio. Os exemplares que escaparam à censura são quatro. E porque há uma razão precisa para que sejam esses quatro, eu tenho o dever científico de pesquisar os outros. Preciso estar preparado para a descoberta de um quinto ou sexto. Como o sr. localizou os mais de 450 volumes da edição? Fiz contato por carta. Há instituições que permitem que se conheça tudo o que é procedente da França, por exemplo, ou ainda, com igual eficácia, tudo o que se publicou na Alemanha. Na Inglaterra, publicou-se um catálogo de bibliotecas de catedrais. Assim, podemos escrever para cada catedral e consultar. Há também um site na Internet chamado "Ex-libris", que é uma associação de fanáticos bibliômanos que trocam informações sobre livros do mundo inteiro. Trocam-se mensagens de alarme do tipo "Atenção! A biblioteca tal está ameaçada!".
Há ainda o "World of Learning", que é um repertório bem-feito, publicado anualmente com a lista das instituições bibliotecárias de todo o mundo. Eu escrevi às bibliotecas em busca desta edição de Rouen e descobri o destino de quase todos os exemplares. É comum esse tipo de pesquisa, em que a história de um livro é recuperada em todo o mundo? Efetivamente, não. Minha pesquisa com Fócio começou em 1993, na Biblioteca de Florença, onde estão, por exemplo, os manuscritos da família Médicis, na pequena praça de São Lourenço. Eu então estava envolvido em fazer a mesma pesquisa com um outro texto do humanista francês Denis Lambin, editor de Horácio, Lucrécio, Cícero, grande humanista e autor de um comentário à "Vida dos Homens Ilustres" de Cornelius Nepos.
Eu tinha a intenção de localizar o maior número possível de exemplares do comentário. Localizei cerca de 20 entre França, Itália e Inglaterra. Abandonei, porque era suficiente para mim constatar o fenômeno. Não interessava saber quantos exemplares foram impressos com as 12 páginas de acréscimo e quantos não. Foi a pré-história de Fócio. Eu aprendi o modo de realização de uma edição à época.
Não se imprimia uma edição inteira de uma vez. Imprimia-se muito calmamente. As grandes folhas eram impressas a mão durante meses e meses. Então, eventualmente, o conhecimento de uma parte da obra era difundida. Se havia contestação pública, você tinha a possibilidade de replicar ainda durante a impressão. Os livros não eram necessariamente encadernados. Circulavam como os manuscritos, sem encadernação, como fascículos.
No momento em que o livro entrava na biblioteca, ele era então magnificamente encadernado, de maneira definitiva. Assim, a distinção entre provas, folha de estampa e o livro em si era bastante nuançada, tanto no século 16 quanto no 17. Em que medida a própria Igreja preservava os textos que considerava heréticos? Pegue um livro inocente, como a "Antologia Grega Palatina". Mesmo o destino de sua impressão não foi totalmente inocente, elementos de tipo ideológico-culturais foram aplicados aqui e ali. A biblioteca palatina, por exemplo, foi impressa em Heidelbergue em 1621 e 22. Depois, foi para Roma graças a um grande estudioso, Leone Allacci, um bibliotecário do papa que se beneficiou da derrota dos protestantes numa batalha para privá-los deste tesouro. É por isso que existe um fundo palatino, da Biblioteca Palatina de Heidelbergue no Vaticano. É um despojo de guerra, o que acontece com frequência.
Como as vicissitudes históricas podem afetar os destinos de um texto? Se alguém se dedica, por exemplo, às relações entre Alemanha e Rússia, vê tesouros viajando de Dresden a Moscou e vice-versa nos séculos 18, 19 e 20. Eu sofri muito para localizar um Demóstenes. Era um manuscrito de Dresden que estava em Moscou e que em seguida estava em Dresden. Quando o procurei em Dresden, ele estava na Rússia. Isso depende das relações internacionais.
No caso da Palatina, foi a mesma coisa. Quando Napoleão invadiu Roma e prendeu o papa, o que o torna um pouco simpático para mim, transferiu para Paris os volumes que Allacci havia levado a Roma no século 17. Assim, os manuscritos da Biblioteca Palatina durante os anos do consulado e do império estavam na Biblioteca Nacional da França.
Mas os bibliotecários em Paris dividiram o manuscrito em duas partes. A maior foi para Roma no momento da queda de Bonaparte. Uma parte menor ficou lá porque os funcionários encarregados de informar a comissão em Roma não foram avisados de que uma parte estava ainda em Paris, e lá ficou. O interesse de Fócio por obras raras constituía um caso isolado ou havia outros como ele? Fócio ligou-se a personagens que viviam sob autoridade muçulmana. Teve excelentes relações com l'Emir, governador de Creta, graças a um sobrinho deste, chamado Nicolas, o místico, que também veio aser patriarca. Sendo místico, ele tinha o direito de ser patriarca. Os dois impérios em conflito, o grego, isto é, o romano -os gregos se denominavam romanos à época- e o árabe, os dois impérios universais do Oriente, tinham o mesmo amor pelos livros.
Foi nessa época que os árabes descobriram a filosofia e a ciência gregas. Os árabes, portanto, também procuravam livros nessa época. E Fócio fez amizade com os califas, que o ajudaram a achar livros que estavam sob a soberania árabe. O crescimento do islã foi prejudicial à transmissão dos livros da Antiguidade clássica? Imediatamente após a conquista de Alexandria, a tradição árabe dedicou-se à redescoberta da ciência grega: matemática, física, ótica, geometria e medicina. Pode-se dizer, com uma fórmula rápida, que os árabes tiveram chance de coletar nos países de cultura grega que ocuparam muito mais livros gregos do que os que restavam no centro do império, em Bizâncio. Imediatamente exploraram essa riqueza. Solicitaram tradutores para verter para o árabe muitos livros científicos gregos.Em Bagdá, quando a cidade foi fundada, havia uma escola de tradutores que se chamava a "Casa da Sabedoria".
Hunain Ibn-Isaac, o maior tradutor do grego para o árabe que já houve, deixou um pequeno tratado sobre tradução, do qual há uma versão em alemão. É um livro precioso, onde ele diz entre outras coisas que fundou à sua volta um círculo de leitores perfeitamente idêntico ao grupo de Fócio. Os dois impérios se reúnem. Os bizantinos puderam recuperar uma parte do tesouro que haviam perdido através do vínculo que tinham com os árabes. E os árabes foram tolerantes, aceitaram junto a eles um historiador caçado pelo império. Os heresiarcas, como os denominavam o império cristão, refugiaram-se junto aos árabes. Estes aceitaram um patriarcado greco-cristão em Alexandria, o qual durou ao longo de todo o reinado do califa até a chegada dos turcos.
Foi com os turcos que a história mudou profundamente. Eles destruíram Bagdá e sua coleção de livros. Logo, o caminho era Egito, Bagdá, Bizâncio. Neste triângulo é que os textos gregos reapareceram. Como os árabes dominaram também o Ocidente, os judeus da Espanha traduziram do árabe ao latim os textos gregos que são reencontrados no Ocidente através da Espanha moura. Conhece-se Aristóteles porque ele foi traduzido do árabe para o latim. O Ocidente recuperou Aristóteles por meio desse caminho, que coincide com a geografia da mediterraneidade. Aí está minha idéia sobre este problema. Não lhe parece contraditório que o grande desenvolvimento dos estudos clássicos no século 20 coincida com o uso de valores da Antiguidade pelo nazismo e pelo fascismo, com consequências históricas tão graves? O problema histórico que está na base de sua questão é o da apropriação mais ou menos violenta, mais ou menos correta, de valores da tradição clássica. Grande problema que começa bem antes do século 20, evidentemente. No século 20, surge um elemento a mais. Antes do século passado, do positivismo, da crítica filológica, do desenvolvimento dos estudos científicos da Antiguidade, uma exploração direta dos valores reputados como típicos do mundo antigo era uma operação questionável. Pode-se bem aceitar que Luís 14 tivesse a idéia de representar a continuação de Alexandre, o Grande, ou Júlio César.
Existe difundida na cultura daquela época uma exploração da Antiguidade de tipo abertamente ideológico, que não é interessada verdadeiramente no progresso da pesquisa. No século 20 isso não é mais possível. A consciência do progresso da pesquisa cresceu tanto que não permite estabelecer, como se fez durante o fascismo, a continuidade entre os romanos e nós, italianos.
Um dos elementos capitais da ideologia de representação do fascismo é a idéia de uma Itália eterna, que começa com Rômulo, o assassino do irmão, e que continua com Catão, Júlio César, Aureliano e chega até Mussolini. É uma idéia que tinha uma certa fascinação com o Ressurgimento. Esse tipo de exploração da Antiguidade, no momento em que se produzem obras críticas admiráveis e em que a ciência histórica atinge um progresso enorme, foi uma violência insuportável.
A exploração fascista da Antiguidade clássica foi um fenômeno unicamente negativo. O caso alemão é mais complicado porque lá houve ao mesmo tempo a idéia de uma superioridade germânica sobre o mundo latino, a idéia de uma fraternidade espiritual profunda entre o mundo germânico e o grego, o que é uma loucura evidentemente tardo-romântica. Trata-se de uma exploração violenta e ignorante, realizada quando os estudiosos da cultura clássica na Alemanha haviam abandonado o país, porque se tratava também de uma classe cultivada de origem judia e, portanto, perseguida.
Pode-se constatar que havia contradições profundas entre Alemanha e Itália, sobre se o germanismo era superior à latinidade ou se esta, ao contrário, é o máximo que a humanidade já viu. A Antiguidade clássica compreende tudo, a filosofia materialista, platônica, Tucídides e Tácito, as idéias de monarquia e liberdade; abrange, portanto, complexas realidades. As idéias de utopia social nos traz Aristóteles, que as discute e combate.
A herança escrita nos permite um conhecimento amplo, nuançado, contraditório. A exploração unicamente reacionária, de um certo tipo de valor antidemocrático -uma categoria com representantes desde pseudo-Xenofonte até o século 20-, privilegia unicamente uma linha, reduzindo os contrários. Os estudos clássicos não coincidem com a habitual exploração que deles faz a cultura reacionária.


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