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A ilha da fantasia
Moças, rapazes e "ladyboys" fazem de phuket, arrasada pelo tsunami em 2004, um mercado humano noite e dia
DO ENVIADO A PHUKET
No provocador e politicamente incorreto romance
"Plataforma" (ed.
Record), do francês Michel Houellebecq, o protagonista descreve a ilha tailandesa de Phuket como a síntese de tudo o que o mundo civilizado já produziu para o consumo turístico.
Arrasada pelo tsunami de
2004, Phuket se reergueu e
voltou a ser um dos principais
destinos do turismo sexual no
país, uma mistura explosiva de
luxúria e encanto tropical.
No romance de Houellebecq,
Michel, funcionário público
em férias, está mais interessado na farta oferta de serviços
sexuais que o turista tem a sua
disposição na maior ilha da
Tailândia, mas não tem como
ignorar a profusão de produtos
que ocupam as ruas de Patong,
a principal praia de Phuket.
"Final feliz"
Réplicas perfeitas de ternos
Armani feitos sob medida em
dois dias (por menos de US$
200), passeios de lancha, caça
submarina, uma infinidade de
roupas e tecidos, loções afrodisíacas, drogas legais e ilegais e
todo tipo de tratamento estético: a sensação é a de que Phuket
tem tudo, para todos os gostos.
Basta uma curta caminhada
pela orla de Patong, porém, para ficar claro que a maior atração local é o mercado de sexo.
Ao contrário de Bancoc, em
que a prostituição é discreta de
dia e fervilha à noite, em Phuket a atividade não tem hora
para começar nem terminar.
A competição é acirrada e
não há tempo a perder.
Dezenas de casas de massagem disputam os dólares dos
turistas posicionando as profissionais na calçada logo de manhã cedo.
Cada uma tem nas mãos um
cardápio com os vários tipos de
massagem disponíveis e não
deixa de abordar qualquer pessoa com traços estrangeiros.
Um dos grandes desafios é
distinguir entre as que fazem só
massagem e aquelas que oferecem algo mais. Mas algumas
deixam claro logo de cara.
"Nossa massagem tem final
feliz", diz a recepcionista de
uma das casas, em referência à
gíria usada para descrever o
"bônus", que pode ser felação
ou o ato sexual completo.
Outras, preocupadas em não
afastar as famílias que frequentam Phuket em busca de sol,
praia e diversão permitida para
menores, não se acanham em
destacar em seus letreiros:
"Massagem sem sexo".
Nas areias de Patong, jovens
sorridentes abordam turistas
tostados de sol oferecendo
companhia.
"Geralmente faço uma massagem de manhã, na praia, e um
programa à noite. Se a menina
me agrada, faço os dois com
ela", diz o alemão Robert, 34,
que trabalha numa gráfica em
Hamburgo e estava na segunda
de suas três semanas de férias
em Phuket.
Para todos os bolsos
Mas é à noite que o mercado
humano de Patong de fato ferve. O foco é na rua Thanon
Bangh, onde dezenas de bares e
boates colocam à disposição
dos turistas meninas, meninos
e transexuais, conhecidos por
aqui como "ladyboys".
Nas boates, bares, karaokês e
casas de massagem, as quantidades impressionam. Em uma
das casas de massagem, a reportagem da Folha contou 112
garotas atrás de uma vitrine,
cada uma com um número de
identificação, à espera de serem escolhidas.
O gerente logo explica duas
coisas: primeira, garante que
todas fazem exames de HIV semanais. E, em segundo lugar,
explica que há preços para todos os bolsos.
"Aquelas da direita custam
3.000 bahts (R$ 170), as do
meio, 4.000 (R$ 225) e, as da
esquerda, 5.000 (R$ 285)",
afirma, sem esconder que o que
dá as cartas é uma espécie de
darwinismo sexual.
"Se uma menina fica uma semana sem ser escolhida, cai de
preço. Se ficar duas, cai fora."
(MN)
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