São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 2009

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A ilha da fantasia

Moças, rapazes e "ladyboys" fazem de phuket, arrasada pelo tsunami em 2004, um mercado humano noite e dia

DO ENVIADO A PHUKET

No provocador e politicamente incorreto romance "Plataforma" (ed. Record), do francês Michel Houellebecq, o protagonista descreve a ilha tailandesa de Phuket como a síntese de tudo o que o mundo civilizado já produziu para o consumo turístico.
Arrasada pelo tsunami de 2004, Phuket se reergueu e voltou a ser um dos principais destinos do turismo sexual no país, uma mistura explosiva de luxúria e encanto tropical.
No romance de Houellebecq, Michel, funcionário público em férias, está mais interessado na farta oferta de serviços sexuais que o turista tem a sua disposição na maior ilha da Tailândia, mas não tem como ignorar a profusão de produtos que ocupam as ruas de Patong, a principal praia de Phuket.

"Final feliz"
Réplicas perfeitas de ternos Armani feitos sob medida em dois dias (por menos de US$ 200), passeios de lancha, caça submarina, uma infinidade de roupas e tecidos, loções afrodisíacas, drogas legais e ilegais e todo tipo de tratamento estético: a sensação é a de que Phuket tem tudo, para todos os gostos.
Basta uma curta caminhada pela orla de Patong, porém, para ficar claro que a maior atração local é o mercado de sexo.
Ao contrário de Bancoc, em que a prostituição é discreta de dia e fervilha à noite, em Phuket a atividade não tem hora para começar nem terminar.
A competição é acirrada e não há tempo a perder.
Dezenas de casas de massagem disputam os dólares dos turistas posicionando as profissionais na calçada logo de manhã cedo.
Cada uma tem nas mãos um cardápio com os vários tipos de massagem disponíveis e não deixa de abordar qualquer pessoa com traços estrangeiros.
Um dos grandes desafios é distinguir entre as que fazem só massagem e aquelas que oferecem algo mais. Mas algumas deixam claro logo de cara.
"Nossa massagem tem final feliz", diz a recepcionista de uma das casas, em referência à gíria usada para descrever o "bônus", que pode ser felação ou o ato sexual completo.
Outras, preocupadas em não afastar as famílias que frequentam Phuket em busca de sol, praia e diversão permitida para menores, não se acanham em destacar em seus letreiros: "Massagem sem sexo".
Nas areias de Patong, jovens sorridentes abordam turistas tostados de sol oferecendo companhia.
"Geralmente faço uma massagem de manhã, na praia, e um programa à noite. Se a menina me agrada, faço os dois com ela", diz o alemão Robert, 34, que trabalha numa gráfica em Hamburgo e estava na segunda de suas três semanas de férias em Phuket.

Para todos os bolsos
Mas é à noite que o mercado humano de Patong de fato ferve. O foco é na rua Thanon Bangh, onde dezenas de bares e boates colocam à disposição dos turistas meninas, meninos e transexuais, conhecidos por aqui como "ladyboys".
Nas boates, bares, karaokês e casas de massagem, as quantidades impressionam. Em uma das casas de massagem, a reportagem da Folha contou 112 garotas atrás de uma vitrine, cada uma com um número de identificação, à espera de serem escolhidas.
O gerente logo explica duas coisas: primeira, garante que todas fazem exames de HIV semanais. E, em segundo lugar, explica que há preços para todos os bolsos.
"Aquelas da direita custam 3.000 bahts (R$ 170), as do meio, 4.000 (R$ 225) e, as da esquerda, 5.000 (R$ 285)", afirma, sem esconder que o que dá as cartas é uma espécie de darwinismo sexual.
"Se uma menina fica uma semana sem ser escolhida, cai de preço. Se ficar duas, cai fora." (MN)


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