São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Os sexpatriados

Crescem no país casos de estrangeiros que se casam com prostitutas e depois são abandonados

DO ENVIADO A BANCOC

De todos os subprodutos da indústria do sexo na Tailândia, um dos que mais chamam a atenção é o fenômeno dos casamentos entre estrangeiros e as profissionais que eles conheceram na noite.
A ilusão do amor à venda deixa cicatrizes.
Não faltam finais felizes, mas quem percorre bares e hotéis da capital tailandesa logo encontra uma legião de corações partidos, homens que tiveram relacionamentos fracassados com mulheres locais, mas não conseguem deixar o país: são os chamados "sexpatriados".

Jogo de sedução
Em geral, trata-se de homens com idade acima de 40 anos provenientes de países europeus ou de outra parte do mundo rico, como Austrália, Nova Zelândia e EUA.
No sinuoso jogo de sedução, que começa nas casas de massagem e muitas vezes acaba no altar, a lógica pode se inverter, transformando euforia em desespero e predador em vítima.
Harry tem 57 anos, nasceu e morou a maior parte da vida em Manchester, no Reino Unido, onde tem uma loja de ferramentas, até se aposentar, há alguns anos. Foi casado por 21 anos com uma colega de escola, com quem tem dois filhos.
A primeira visita a Bancoc foi logo depois do divórcio. Estava deprimido e, seguindo o conselho de um amigo, embarcou numa viagem que o levou do céu ao inferno emocional em poucos meses.
"Os bares e casas de massagem mudaram a minha vida. Nunca havia sentido o carinho que aquelas mulheres me dedicavam", conta Harry, encostado no balcão de um bar de Patpong. "Até que conheci Nan e me apaixonei. Em cinco semanas, estávamos casados e morando em Manchester."
No começo, tudo correu bem. Harry voltou a trabalhar em sua loja e Nan cuidava de casa.
"Ela sempre pedia dinheiro para a família e com o tempo as quantias foram aumentando. Livros para o irmão, uma cirurgia do pai, cada vez era uma história diferente. Até que um dia disse que ia visitar a família e não voltou mais", diz Harry.
"Descobri depois que ela nunca parou de trabalhar como prostituta. Eu era só mais uma fonte segura de dinheiro."

Escrava sexual
A história do comerciante britânico se repete em dezenas de outros relatos semelhantes, em que as mulheres tailandesas são descritas como cínicas e interesseiras e, os estrangeiros, como vítimas.
Para Siriporn Skrobanek, da Fundação para a Mulher, em Bancoc, a decepção é fruto da atitude paternalista e do preconceito dos homens ocidentais, que procuram na Tailândia uma combinação de dona de casa com deusa do sexo.
"Um casamento não pode funcionar quando as expectativas são totalmente diferentes. Enquanto as mulheres buscam segurança, os homens querem uma escrava sexual carinhosa que lave suas roupas. É difícil dar certo." (MN)


Texto Anterior: A ilha da fantasia
Próximo Texto: Profissão - prostituta
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.