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Profissão: prostituta
Ong criada em 1985 orienta as profissionais do sexo da tailândia a lidarem com seus clientes para não serem lesadas
DO ENVIADO A BANCOC
Entre as muitas organizações civis envolvidas com o mundo da
prostituição na Tailândia, uma se destaca por remar contra a corrente.
Em vez de tentar tirar as mulheres do mercado do sexo,
principal objetivo da maioria, a fundação Empower considera mais produtivo e realista reconhecer a prostituição como profissão e ensinar aqueles que a praticam a se defenderem.
Sua presidente e fundadora, Chantawipa Apisuk, ficou conhecida pela visão moralmente
neutra do comércio sexual e por seus métodos heterodoxos e pragmáticos.
Em 2004, causou polêmica ao montar um bar de striptease na Conferência Internacional
sobre Aids, em Bancoc, para encorajar o uso de preservativos entre as prostitutas.
Nos cinco escritórios da Empower espalhados pelo país, as profissionais do sexo podem
aprender gratuitamente inglês, cuidados médicos básicos e até receber orientação para realizar com segurança os bizarros shows de pompoarismo (técnica muscular para fortalecer a região pélvica feminina) que são uma das marcas da vida noturna tailandesa.
Leia trechos da entrevista que Apisuk concedeu à Folha.
(MN)
FOLHA - Qual é a principal diferença entre a Empower e outras organizações civis?
CHANTAWIPA APISUK - As outras organizações veem as profissionais do sexo como vítimas,
pessoas tolas que vendem seus corpos.
Já a Empower as considera pessoas inteligentes, que em
muitos casos são líderes de suas famílias e quem as sustenta. Se fossem homens, seriam chamadas de "chefes de família".
A maioria das profissionais do sexo envia dinheiro para
suas famílias e alimenta cinco,
seis outras vidas. Elas trabalham duro porque sabem que não podem esperar por benefícios sociais que nunca chegam.
FOLHA - O que torna países como
Tailândia e Brasil atraentes para turistas sexuais?
APISUK - Somos parecidos não apenas nisso, países quentes e
apimentados e -por que negar?- nossas mulheres são lindas. Mas também vivemos em
países em que os governos têm
interesse em atrair capital estrangeiro, e a incapacidade de
vender produtos industriais é
muitas vezes compensada pelo
comércio de diversão e sexo. É
o tipo de capital de curto prazo
que interessa aos governos.
FOLHA - Apesar de ilegal, a prostituição continua a crescer na Tailândia. Como é a ação do governo?
APISUK - É algo para deixar qualquer um confuso.
Os complexos de diversão com arranha-céus, hotéis, restaurantes e casas de massagens
são de propriedade dos superpoderosos, como generais e os políticos.
Um ex-político, conhecido
publicamente como "padrinho" da indústria do sexo, é
membro de um partido político. O negócio da diversão na
Tailândia é muito mais moderno que os hospitais e as escolas.
FOLHA - Qual é sua opinião sobre os estrangeiros que buscam a Tailândia como centro de prostituição?
APISUK - As mulheres preferem os "farangs" [estrangeiros] porque o dólar, o euro e o iene valem mais que o baht [moeda tailandesa]. É claro que há bons e maus clientes, e isso independe de raça ou nacionalidade.
FOLHA - Qual é o principal objetivo
da sua organização?
APISUK - Trabalho sexual é trabalho. Portanto, a atividade deve ser reconhecida pelas leis
trabalhistas -isso é o que defendemos. Uma profissional do
sexo deve estar envolvida na elaboração das leis e políticas públicas, o que aos poucos já está acontecendo.
A Empower participa de programas nacionais como o de
HIV/Aids, de educação e de desenvolvimento humano. Desde
que foi fundada, há 24 anos, nossa organização nunca deixou de estar presente nos debates nacionais.
FOLHA - Qual é o resultado desse
esforço?
APISUK - O mais importante é
que mais profissionais do sexo
ganharam voz e aprenderam a
se representar.
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