São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Profissão: prostituta

Ong criada em 1985 orienta as profissionais do sexo da tailândia a lidarem com seus clientes para não serem lesadas

DO ENVIADO A BANCOC

Entre as muitas organizações civis envolvidas com o mundo da prostituição na Tailândia, uma se destaca por remar contra a corrente.
Em vez de tentar tirar as mulheres do mercado do sexo, principal objetivo da maioria, a fundação Empower considera mais produtivo e realista reconhecer a prostituição como profissão e ensinar aqueles que a praticam a se defenderem.
Sua presidente e fundadora, Chantawipa Apisuk, ficou conhecida pela visão moralmente neutra do comércio sexual e por seus métodos heterodoxos e pragmáticos.
Em 2004, causou polêmica ao montar um bar de striptease na Conferência Internacional sobre Aids, em Bancoc, para encorajar o uso de preservativos entre as prostitutas.
Nos cinco escritórios da Empower espalhados pelo país, as profissionais do sexo podem aprender gratuitamente inglês, cuidados médicos básicos e até receber orientação para realizar com segurança os bizarros shows de pompoarismo (técnica muscular para fortalecer a região pélvica feminina) que são uma das marcas da vida noturna tailandesa.
Leia trechos da entrevista que Apisuk concedeu à Folha. (MN)

 

FOLHA - Qual é a principal diferença entre a Empower e outras organizações civis?
CHANTAWIPA APISUK
- As outras organizações veem as profissionais do sexo como vítimas, pessoas tolas que vendem seus corpos.
Já a Empower as considera pessoas inteligentes, que em muitos casos são líderes de suas famílias e quem as sustenta. Se fossem homens, seriam chamadas de "chefes de família".
A maioria das profissionais do sexo envia dinheiro para suas famílias e alimenta cinco, seis outras vidas. Elas trabalham duro porque sabem que não podem esperar por benefícios sociais que nunca chegam.

FOLHA - O que torna países como Tailândia e Brasil atraentes para turistas sexuais?
APISUK
- Somos parecidos não apenas nisso, países quentes e apimentados e -por que negar?- nossas mulheres são lindas. Mas também vivemos em países em que os governos têm interesse em atrair capital estrangeiro, e a incapacidade de vender produtos industriais é muitas vezes compensada pelo comércio de diversão e sexo. É o tipo de capital de curto prazo que interessa aos governos.

FOLHA - Apesar de ilegal, a prostituição continua a crescer na Tailândia. Como é a ação do governo?
APISUK
- É algo para deixar qualquer um confuso.
Os complexos de diversão com arranha-céus, hotéis, restaurantes e casas de massagens são de propriedade dos superpoderosos, como generais e os políticos.
Um ex-político, conhecido publicamente como "padrinho" da indústria do sexo, é membro de um partido político. O negócio da diversão na Tailândia é muito mais moderno que os hospitais e as escolas.

FOLHA - Qual é sua opinião sobre os estrangeiros que buscam a Tailândia como centro de prostituição?
APISUK
- As mulheres preferem os "farangs" [estrangeiros] porque o dólar, o euro e o iene valem mais que o baht [moeda tailandesa]. É claro que há bons e maus clientes, e isso independe de raça ou nacionalidade.

FOLHA - Qual é o principal objetivo da sua organização?
APISUK
- Trabalho sexual é trabalho. Portanto, a atividade deve ser reconhecida pelas leis trabalhistas -isso é o que defendemos. Uma profissional do sexo deve estar envolvida na elaboração das leis e políticas públicas, o que aos poucos já está acontecendo.
A Empower participa de programas nacionais como o de HIV/Aids, de educação e de desenvolvimento humano. Desde que foi fundada, há 24 anos, nossa organização nunca deixou de estar presente nos debates nacionais.

FOLHA - Qual é o resultado desse esforço?
APISUK
- O mais importante é que mais profissionais do sexo ganharam voz e aprenderam a se representar.


Texto Anterior: Os sexpatriados
Próximo Texto: O corpo no tempo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.