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Seleção natural explica comportamento sexual
especial para a Folha
São raros os cientistas que podem ser acusados de fazer pornografia. Esse é o caso de Robin Baker, professor de zoologia da
Universidade de Manchester,
Reino Unido. Seu livro "Guerra
de Esperma - Infidelidade, Conflito Sexual e Outras Batalhas de
Alcova", publicado no Brasil no
ano passado pela Editora Record,
conteria "pornografia leve", segundo resenhas.
E de fato tem. "Muitas cenas e
detalhes que aqui descrevo poderiam, num outro contexto, ser
considerados pornográficos",
escreveu o autor no prefácio.
A justificativa é razoável, contudo. Baker quer demonstrar como o comportamento sexual humano é regulado pela evolução
biológica e pelo seu motor, a seleção natural darwiniana.
Esse livro é uma versão de divulgação popular do seu trabalho
acadêmico. Portanto, ele primeiro descreve em detalhes algum tipo de comportamento sexual humano, a "pornografia", e depois faz uma análise baseada na
seleção natural. Paradoxalmente,
essa é a falha e o charme do livro.
Alguns parênteses são necessários para entender a afirmação.
Charles Darwin criou sua teoria
na metade do século passado, antes que se começasse a entender
os mecanismos da transmissão
dos caracteres hereditários -a
disciplina chamada "genética".
Apesar disso, essa explicação
teórica continua sendo a base da
moderna biologia, apesar de
contestações sérias e necessidade
de adaptações. O adjetivo "sérias" é para lembrar que há contestações de fanáticos religiosos,
dos militantes criacionistas, que
acham que seu Deus criou o
mundo e as espécies em sete dias.
"Adaptar" é uma palavra-chave. Os organismos precisam se
adaptar ao meio ambiente para
sobreviver e para conseguir deixar descendência fértil.
As espécies, segundo Darwin e
seus sucessores, evoluem por
meio da popularmente batizada
"sobrevivência dos mais fortes"' -dos mais "aptos" seria
uma versão mais adequada.
Viver e deixar prole é o objetivo
de todo ser vivo. E isso serve, para Baker, para explicar comportamentos humanos tão variados
como infidelidade ou masturbação. O autor é um legítimo herdeiro de uma tradição de explicar
o comportamento humano pelo
lado que a espécie tem em comum com os animais -a disciplina chamada etologia.
Outro zoólogo britânico com
trabalhos clássicos e ao mesmo
tempo populares é Desmond
Morris, autor de "O Macaco
Nu" (Record), de 1967. Assim
como ele, Baker usa muitas hipóteses não-confirmadas por experimentação, e altamente discutíveis, para justificar suas teorias.
Morris, por exemplo, acha que
a forma dos seios femininos, globulares e pouco práticos para bebês sugarem, replica o formato
das nádegas. Isso porque a espécie teria deixado no passado de
fazer preferencialmente a relação
sexual "por trás", como é a praxe nos quadrúpedes, para se concentrar na posição frontal, a
"papai-e-mamãe".
Mas o maior problema é a identificação de certas atitudes com o
que ocorre entre outros animais.
A idéia básica é que todo indivíduo compete para passar seus genes para as próximas gerações, e
a medida de "sucesso" seria o
número de descendentes.
Assim, um camponês que teve
12 filhos -dos quais alguns morreram no parto, na infância sem
cuidados ou no árduo trabalho
do campo- pode ter tido mais
de seus genes passados para a
frente do que um executivo que
decidiu ter apenas um ou dois filhos, que foram estudar na Suíça.
Autores como Baker esquecem
que a sociedade humana é mais
complexa que uma colônia de
formigas, um cardume de golfinhos ou um bando de chimpanzés. Mas o charme do livro vem
dessa alternativa de explicação.
Por que o sexo oral é tão comum?
Por que os homens lambem as
vaginas de suas consortes?
Segundo Baker: "Os homens
não são, obviamente, os únicos
animais que indulgenciam o sexo
oral. A maioria dos mamíferos
masculinos, de ratos e cachorros
a elefantes e macacos, também
mete o focinho, cheira e lambe a
vulva da fêmea nas preliminares
do sexo. Os macacos também tocam no aparelho genital da fêmea, às vezes inserindo os dedos
na vagina, para depois cheirá-los
e lambê-los. O que todos esses
machos estão fazendo é recolhendo informações. Estão procurando a resposta para três
questões: A fêmea é saudável? Está no período fértil? Andou tendo
relações sexuais com outro homem? Um homem faz exatamente a mesma coisa -e a informação que ele junta pode ser de
grande ajuda na busca do sucesso
na reprodução".
(RBN)
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