São Paulo, domingo, 14 de fevereiro de 2010

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Santa padroeira salvou a cidade das águas em 451, diz autor em novo livro

O relacionamento entre Paris e seu rio sempre foi precário. A despeito de toda a vida que o Sena nutriu, o rio também provocou morte e destruição, sob a forma de enchentes periódicas.
O bispo e historiador Gregório de Tours registrou uma grande inundação do Sena no ano 582, que se espalhou por centenas de acres e chegou a reativar temporariamente o antigo braço norte do rio, que secara havia muito tempo.
Em 814, em um livro sobre milagres na cidade, um autor anônimo escreveu que, quando "Deus quer castigar o povo de Paris pela água, ele envia uma enchente enorme e faz o rio Sena transbordar de maneira nunca antes vista, de tal modo que a cidade inteira é inundada e só é possível deslocar-se de barco".
Uma enchente, em 886, destroçou a Petit-Pont, que atravessava o rio entre a Île de la Cité, no centro de Paris, e a margem esquerda do rio.
"De repente", descreveu uma testemunha ocular, "no silêncio da noite, o meio da ponte desabou, carregado pela ira de ondas furiosas que crescem e transbordam".
Entre 886 e 1185, a Petit-Pont foi destruída dez vezes pela elevação da águas; e, como testemunho da obstinação parisiense, a cada vez foi reconstruída.
Durante séculos, os parisienses pouco puderam fazer senão apelar para uma força superior. Em 1206, quando quase metade da cidade ficou debaixo d'água, o povo exortou os líderes da igreja a invocar a ajuda divina de Genoveva, a santa padroeira de Paris.

Procissão sombria
O bispo da cidade, Eudes de Sully, tirou as relíquias de Genoveva da igreja da abadia no alto da colina da margem esquerda, hoje ocupado pelo Panteão, e liderou uma procissão sombria de parisienses que desceu pela encosta.
Reverenciada havia muito tempo por ter unido Paris contra uma invasão de Átila, o Huno, em 451, santa Genoveva compareceu em espírito para ajudar a cidade.
Segundo a história oficial, após a missa rezada na Notre Dame com suas relíquias presentes, as águas começaram a recuar, milagrosamente.
Deixando a catedral para conduzir as relíquias da santa de volta à abadia, a grande procissão atravessou a Petit-Pont. Após os fiéis terem atravessado a água, no momento exato em que o bispo recolocou o relicário sobre o altar, a Petit-Pont veio abaixo. Ninguém se feriu -foi o segundo milagre do dia.


Trecho de "Paris Debaixo d'Água".
Tradução de Clara Allain .


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