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Resposta à Confederação Abolicionista
Por que a confederação despreza a raça por tanto
tempo espoliada?
Sentimos ter ainda de voltar ao
assunto visto o tempo de que
dispúnhamos não nos permitir fazer algumas considerações que se nos afiguram indispensáveis.
Disse a Confederação que tinha
convidado todos os elementos que
reprovamos para dar-lhes o agradecimento pelo concurso que prestaram à libertação dos escravos.
Em primeiro lugar essas associações ou indivíduos só concorreram
para a libertação dos escravos depois que a idéia abolicionista tinha
lavrado em todo o país e dominava
em todas as consciências; e portanto
não poderiam, quem quer que fossem, afastar-se ou colocar-se fora da
ação do meio em que viviam e haviam forçosamente de concorrer para esse fim, como muitas vezes concorreram, bem a pesar seu, os escravocratas.
Migalhas das orgias
Em segundo lugar, esse concurso
foi devido, como já o fizemos ver, ou
aos impulsos naturais ao coração
humano, de alguns indivíduos, ou
da parte das sociedades a sobra das
migalhas de suas orgias e ganhos. E
esse mesmo concurso resultou não
só da imposição dos sócios e dos
sentimentos generosos dos indivíduos como também e principalmente da vaidade filantrópica, a modo
porque foi abolicionista o Sr. D. Pedro 2º.
Em terceiro lugar porque essas sociedades concorreram, não deixam
por isso de ser profundamente imorais, os seus fins continuam os mesmos, e quando o concurso deles
viesse a auxiliar a questão, isto não
implicaria hoje o seu comparecimento, porque nessa ocasião tratava-se de obter por todos os meios a
libertação de nossos semelhantes e
hoje tratamos de fazer-se-lhes a glorificação, e glorificação que possa
educar a sociedade. Portanto aí só
podem entrar elementos sérios e que
devem ter uma existência normal
em uma sociedade moralizada.
Além disso. se a Confederação
quer fazer agradecimentos, que o faça àqueles que já não têm mais interesse nesse agradecimento, visto
materialmente não existirem mais.
Rememore os José Bonifácio, Eusébio Ferreira França, Visconde do
Rio Branco, Ferreira de Menezes,
Luiz Gama e todos os grandes trabalhadores da santa causa, que caíram
na luta e que não puderam presenciar o espetáculo da terminação de
sua obra.
Por que a Confederação Abolicionista despreza a raça por tanto tempo espoliada e não lhe faz a glorificação, não só representando nesse dia
as mais elevadas qualidades que fazem o seu apanágio, glorificando-os
nos grandes vultos ou tipos a ela pertencentes e cujo modelo é o grande
Toussaint-Louverture?
Por que a Confederação Abolicionista gastou dois contos e tanto de
réis para comprar uma estátua de
bronze e fazer presente ao marechal
chefe do governo provisório e não
empregou esse dinheiro em auxiliar
a fundação de uma escola para libertos com o nome do ínclito marechal?
Concorrência desastrosa
Este fato, garantimos, agradaria
mais ao ilustre marechal e exprimiria os sentimentos abolicionistas da
Confederação, por fazer crer que ela
estaria cuidando em preparar o proletariado preto e nacional para resistir vantajosamente a concorrência
que em breve lhe farão os operários
estrangeiros, concorrência essa desastrosa pela superioridade de educação profissional e de hábitos dos
operários estrangeiros, e que será a
aniquilação dessa generosa raça por
tanto tempo tão dura e nefandamente explorada.
A Confederação, por que não faz
nesta festa um público e solene agradecimento à Sra. D. Isabel, merecedora de que essa associação lhe fosse
mais grata do que agora se mostra?
Não! isso não se faz simplesmente
porque a Confederação entende que
fazer uma comemoração é fazer
uma festa pela festa, e não é educar;
e, ainda mais, que se pode desvirtuar
pelo fato de se fazer festa, os termos
da língua não só etimológica como
sintaticamente.
Eis as razões poderosas porque
não damos o nosso concurso a essa
desvirtuação de uma grande data.
Rio, 12 de Maio de 1890
Saturnino Nicoláo Cardoso
N. no Rio Grande do Sul em 1858
Rua do Lavradio 139
Thomaz Cavalcanti de Albuquerque
N. no Ceará em 1855
Rua da Floresta n. 21
Euclides da Cunha
N. no Rio de Janeiro em 1867
Campo de S. Cristovão 18
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