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Livro que será
publicado pela Jorge Zahar
até o final do mês
reúne desde personagens
históricas até
cantoras como
Elis Regina
e Dolores Duran
Dicionário traz as mulheres do Brasil
da Redação
Será lançado até o final deste mês pela editora Jorge
Zahar o "Dicionário Mulheres do Brasil" (organização de
Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil e editoria de
texto de Ana Arruda Callado). A obra, que foi feita em
parceria com a Rede de Desenvolvimento Humano e a
Fundação Ford, traz verbetes de 1500 até a atualidade.
São reproduzidos, a seguir, quatro verbetes do volume.
Adelina - a charuteira (séc. 19)
Escrava e abolicionista
Nasceu em São Luís do Maranhão, filha de uma escrava
conhecida como Boca da Noite e de um rico senhor. Ela
e a mãe recebiam, por parte dos senhores, tratamento
diferenciado dos demais escravos. Adelina, que sabia
ler e escrever, ao completar 17 anos não viu cumprida a
promessa de libertação feita pelo pai.
Era adolescente quando seu pai e senhor sofreu um
revés financeiro, empobreceu e passou a fabricar charutos. Adelina era a encarregada das vendas: duas vezes ao
dia, ia pela cidade entregando tabuleiros de charutos de
botequim em botequim e vendendo avulso para os
transeuntes. Em sua peregrinação por São Luís, procurava parar sempre no largo do Carmo, onde estudantes
do Liceu eram seus fregueses. Aí teve a oportunidade de
assistir a numerosos comícios abolicionistas promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola. Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar manifestações e
passeatas em prol da abolição da escravidão.
O ofício de vendedora levou Adelina não só a formar
uma vasta rede de relações, mas também a conhecer todos os meandros da cidade. Sua facilidade em circular
pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a
escravatura, pois possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem às ações da polícia e articulassem fugas de escravos. Ajudou diretamente alguns a escaparem, como foi o caso de uma escrava chamada Esperança, que fugiu para a Província do Ceará com o comerciante português de quem estava grávida.
Dolores Duran (1930-59)
Cantora e compositora
Nasceu no bairro da Saúde, no Rio de Janeiro, no dia 7
de junho de 1930. Filha de Josefa Silva da Rocha e de Armindo José da Rocha, sargento da Marinha, foi registrada como Adiléia Silva da Rocha. Desde pequena, costumava cantar em festinhas nos subúrbios de Irajá e Pilares, onde morou. Aos 10 anos, apresentou-se no programa "Calouros em Desfile", comandado por Ary Barroso na Rádio Tupi. Apesar da resistência do apresentador em ouvir composições estrangeiras, a menina cantou "Vereda Tropical" em português e espanhol, dividindo o primeiro prêmio com o conjunto Nativos da
Lua. Pouco depois apresentou-se no programa "Escada
de Jacó", cuja equipe depois integraria, em shows de
bairro, em cinemas e teatros.
Aos 12 anos, após a morte do pai, começou a trabalhar
em programa infantil de radioteatro na Tupi, "Teatro
da Tia Chiquinha", ajudando no pequeno orçamento
da família. Na mesma época, integrou um grupo de teatro infantil. Sua facilidade para aprender línguas, mesmo sem ter concluído o curso primário, levou-a a participar do concurso "À Procura de uma Cantora de Boleros", promovido pela rádio Nacional. Não ganhou, mas
continuou frequentando a rádio e apresentando-se em
alguns programas de calouros. Numa dessas apresentações, em 1940, foi convidada para um teste na boate Vogue, frequentada pela elite carioca, onde então começou
a trabalhar com o nome de Dolores Duran.
Posteriormente, trabalhou no programa "César de
Alencar", na rádio Nacional, e cantou nas principais
boates do Rio, com um repertório que incluía músicas
em francês, espanhol e inglês. Estreou em disco em
1952, gravando dois sambas para o Carnaval do ano seguinte. Em 1954, lançou outras canções, entre elas
"Canção da Volta", de Antônio Maria e Ismael Neto, e
"Bom É Querer Bem", de Fernando Lobo. Em 1955, casou-se com o ator de rádio Macedo Neto, uma união
que duraria três anos, e fez sua primeira composição,
"Se É por Falta de Adeus", em parceria com Tom Jobim.
Em 1957, fez parceria com Vinícius de Moraes com a letra de "Por Causa de Você", que gravaria em 1958. Outras composições se seguiram, como "Castigo" (1958),
"A Noite do Meu Bem", "Fim de Caso" e "Solidão"
(1959). Sua última apresentação foi na boate Little Club,
em Copacabana, na noite de 23 de outubro de 1959. No
dia seguinte morreu, vítima de problemas cardíacos.
Dolores Duran conquistou sucesso como cantora nos
anos 50, mas sua fama como compositora só se consolidou após sua morte, com a gravação feita por Lúcio Alves de um disco exclusivamente de músicas suas.
Elis Regina (1945-82)
Cantora
Nasceu em Porto Alegre (RS), no dia 17 de março de
1945. Aos 11 anos, Elis Regina Carvalho da Costa apresentou-se na Rádio Farroupilha, de Porto Alegre, cantando no programa "Clube do Guri", cujo elenco passou a integrar. Foi contratada como cantora pela rádio
Gaúcha, em 1959, gravando seu primeiro compacto em
1960. Viajou, então, para o Rio de Janeiro, onde fez
apresentações na televisão e gravou o LP "Viva a Brotolândia". Transferiu-se definitivamente para a capital do
então Estado da Guanabara em 1964.
Em abril de 1965, participou do Primeiro Festival de
Música Popular Brasileira, realizado pela TV Excelsior,
cantando "Arrastão" (Edu Lobo e Vinícius de Moraes),
conquistando o primeiro lugar e projetando-se nacionalmente. Seguiram-se muitos outros sucessos, como
"Canto de Ossanha" (Vinícius de Moraes e Baden Powell) e "Louvação" (Gilberto Gil e Torquato Neto). Em
janeiro de 1966, apresentou-se em Lisboa e Luanda, ao
lado de Jair Rodrigues e do Zimbo Trio.
Em dezembro de 1967, Elis casou-se com Ronaldo
Bôscoli, com quem teve um filho. Ao longo desse ano,
gravou sucessos como "Travessia" (Milton Nascimento) e "Upa Neguinho!" (Edu Lobo e Gianfrancesco
Guarnieri), música muito aplaudida no Segundo Mercado Internacional do Disco e da Edição Musical (Midem), realizado em Cannes, em janeiro de 1968, e se
apresentou no teatro Olympia, em Paris. Em maio, obteve o primeiro lugar na Primeira Bienal do Samba, interpretando "Lapinha" (Baden Powell e Paulo César Pinheiro).
Retornou à Europa em 1969, apresentando-se novamente em Cannes, além de gravar programas para as televisões francesa, inglesa, holandesa, suíça, belga e sueca. Em abril de 1970, grávida de sete meses, fez temporada no Canecão, onde cantou músicas de Caetano Veloso e Gilberto Gil, feitas especialmente para ela e enviadas de Londres, onde os dois compositores encontravam-se exilados.
Em 1971, estreou dois programas na TV Globo, além
de gravar o disco "Top Star Festival", produzido pela
ONU em solidariedade aos refugiados do mundo, sendo a única brasileira a participar. Em comemoração dos
seus 15 anos de carreira, lançou, em 1974, o disco "Elis e
Tom", gravado em Los Angeles, do qual participou o tecladista César Camargo Mariano, com quem Elis passaria a viver e teria três filhos.
Estreou em Porto Alegre, em dezembro de 1977, o espetáculo "Transversal do Tempo", que seria apresentado em Roma, Milão e Barcelona em princípios de 1978,
e depois faria turnê pelo Brasil.
Elis recusou convite para apresentá-lo em Buenos Aires, alegando que, enquanto seu disco "Falso Brilhante", censurado por causa da música "Gracias a la Vida",
de Violeta Parra, estivesse proibido na Argentina, não
se apresentaria no país.
Em maio de 1979, participou, ao lado de outros artistas, do "Show de Maio", cuja renda foi revertida para o
fundo de greve dos metalúrgicos de São Paulo. No mesmo mês, foi lançado compacto com "O Bêbado e o
Equilibrista" (João Bosco e Aldir Blanc), que foi chamado de "hino pela anistia", pois a campanha pela volta
dos exilados ganhava força no Brasil. Ainda em 1979,
Elis apresentou-se em Bruxelas, participou do Festival
de Jazz de Montreux e do Festival de Jazz de Tóquio,
além de fazer temporadas pelo Brasil.
Em janeiro de 1980, estreou no Rio de Janeiro o show
"Saudades do Brasil", a respeito do qual declarou: "Não
se trata de saudade de alguma coisa que acabou ou pessoa que morreu... Saudade do que está aí vivo, solto, e
nunca deixou de existir. Se não temos acesso a isso, é
por falta de uma batalha maior". Em 1981, percorreu
palcos de São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro com
o show "Trem Azul". Em dezembro faria sua última
apresentação na televisão, num especial de fim de ano
da TV Record.
Elis morreu em São Paulo, no dia 19 de janeiro de
1982, aos 37 anos, em decorrência de overdose.
Iolanda Pereira (1910)
Primeira Miss Universo brasileira
Nasceu em 16 de outubro de 1910 na cidade de Pelotas
(RS). Filha de Branca Conceição Pereira e de Lídio Alves
Pereira. Fez seus estudos secundários em Pelotas, onde
sua beleza e seu porte altivo eram muito admirados.
Quando, em 1929, o jornal carioca "A Noite" começou a
patrocinar um concurso de beleza que culminaria com
a eleição da Miss Brasil e Miss Universo no então Distrito Federal, Iolanda foi eleita representante do Rio Grande do Sul por votação popular, de acordo com o regulamento em vigor na época para a primeira etapa do concurso. No Rio de Janeiro, ela encantou o júri, do qual faziam parte os escritores Anibal Machado e Álvaro Moreira, e conquistou sucessivamente os dois títulos.
Nos episódios que culminaram com a Revolução de
30, o nome de Iolanda foi a senha utilizada para anunciar o início da movimentação das tropas rebeldes gaúchas, de Porto Alegre ao Rio de Janeiro, então capital federal. Em 1936, Iolanda casou-se com o capitão da Aeronáutica Homero Souto de Oliveira, com quem teve
quatro filhos. Quando a baiana Marta Rocha ficou em
segundo lugar na etapa internacional do mesmo concurso, o Brasil inteiro se emocionou e o nome de Iolanda foi lembrado pela imprensa.
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