São Paulo, domingo, 15 de novembro de 1998

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Dylan Thomas escreve a Caitlin, sua mulher
Nova York, 7 de maio de 1953

Oh Caitlin Caitlin Caitlin meu amor meu amor, onde está você & onde estou eu e por que você não escreveu e eu te amo todo segundo de toda hora de todo dia & noite. Eu te amo, Caitlin. Em todos os quartos de hotéis em que eu estive nessas duas semanas, esperei por você o tempo todo. Ela não há de demorar, digo a mim mesmo, infeliz e suarento, a qualquer instante ela entrará no quarto: a mulher mais bela na face da Terra, e ela é minha & eu sou dela, até o fim dos tempos e muito muito depois. Caitlin, eu te amo. Você me esqueceu? Você me odeia? Por que não me escreve? Duas semanas podem parecer pouco tempo, mas para mim tem a idade das montanhas & a profundidade de minha devoção por você. Duas semanas aqui, nesse inferno abrasador e eu não sei de mais nada exceto que eu aguardo você e que você nunca vem. Querida Cat, minha mulher, minha linda Cat. E em duas semanas eu viajei por toda essa calamidade, até para o extremo sul: em 14 dias eu fiz 14 preleções & estou gastando o menos possível para poder levar algum dinheiro para casa e para que a gente possa ir para o sol. John Brinnin tem todo um livro sobre uns bons lugares ensolarados & exatamente como chegar lá & exatamente quanto se gasta para morar lá; & o melhor e mais barato me parece Mallorca, onde eu posso, espero, alugar uma casa & ter criados por muito muito pouco. Vou ver se descubro mais sobre o assunto antes de partir. Voltarei no dia 26 de maio, de avião, & lhe direi mais tarde a hora exata da chegada do vôo. Você me encontra em Londres? Envio em anexo um cheque de US$ 250 para as contas e o resto. David Higham escreveu & disse que estava lhe mandando algum dinheiro. Será que chegou? Você recebeu minha carta do terrível navio? E a cartinha com o cheque de US$ 100 do Oscar? Eu não sei o que está acontecendo, por que você não escreve. Eu te amo, eu te quero, é um inferno sem você, eu não quero ver nem falar com ninguém, estou perdido sem você. Eu amo seu corpo & sua alma & seus olhos & seu cabelo & sua voz & o jeito que você anda & fala. E é só isso que eu consigo ver agora: você em movimento, numa luz. Eu te amo, Caitlin. Estive na hedionda Washington, estive em Virginia & Carolina do Norte e Pensilvânia & Syracuse & Bennington & Williamstown & Charlottesville; e agora estou de volta a Nova York, por dois dias, no mesmo quarto que dividimos. Isso foi o cúmulo do amor & do terror, porque eu sei que você entrará no quarto & eu escondo minhas pilhas de doces & espero por você como se esperasse pela luz. E então me dou conta de que você não está aqui; você está em Laughame, com o solitário Colm; & então a luz se apaga e eu tenho de vê-la no escuro. Eu te amo. Por favor, se você me ama, escreva-me. Conte-me, querida querida Cat. Não há nada para contar-lhe que você já não saiba: eu estou profundamente apaixonado por você, a única profundidade que eu conheço. Toda dia é uma tortura atroz & toda noite eu me consumo por você. Por favor por favor escreva. Estou suportando esse suplício com você por trás de meus olhos. Você me diz o quanto isso é terrível & eu vejo. Mas eu terei o dinheiro para Mallorca. Procure Mallorca na enciclopédia no Pelican. Você acha que eu não compreendo a mágoa & a solidão; compreendo sim, compreendo a sua & a minha quando não estamos juntos. Em breve estaremos juntos. E, se você quiser, nunca mais não estaremos juntos outra vez. Eu disse que te venerava. E venero; mas também te quero. Deus, as noites são longas & solitárias.
EU TE AMO. Oh, doce Cat.


Esta é uma das últimas cartas do poeta a Caitlin. Ele morreu seis meses depois, em Nova York, aos 39 anos.


Tradução de José Marcos Macedo.



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