São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mídia

O rei da CNN

Há 22 anos entrevistando popstars e presidentes no principal canal de notícias do mundo, Larry King fala da infância pobre e da vida como celebridade

MARGARET KEMP

O apresentador de TV Larry King, 73, nasceu no Brooklyn, em Nova York. Sem diploma universitário, teve vários empregos, incluindo o de entregador de pacotes, antes de tornar-se mundialmente famoso com seu programa de entrevistas "Larry King Live", que há 22 anos é transmitido pelo canal de informações CNN.
King vive em Beverly Hills com sua mulher, Shawn Southwick, e os dois filhos deles.
Na entrevista abaixo, ele fala da vida dura na infância e da vida como estrela.

PERGUNTA - Descreva sua infância.
LARRY KING -
Meu pai era austríaco, minha mãe, imigrante russa. Vivíamos num bairro de classe média, apesar de sermos de classe média baixa. Meu pai morreu quando eu tinha 9 anos e minha mãe precisou da assistência da Previdência Social para nos sustentar, a mim e meu irmão. Foi duro, mas tive uma infância maravilhosa.

PERGUNTA - Foi frustrante ser pobre, não poder cursar a faculdade?
KING -
Não foi problema. Minha fantasia, desde os dez anos de idade, era trabalhar no rádio ou na televisão. Estou vivendo meu sonho. Muitas vezes eu me belisco para ter a certeza de que é tudo verdade.

PERGUNTA - Você olhava para casas grandiosas e dizia a você mesmo: "Um dia..."?
KING -
Não havia casas grandiosas em Bensonhurst. Quando íamos a Manhattan e caminhávamos pela Park Avenue ou quando íamos a Miami, então sonhávamos sonhos grandiosos, meu irmão e eu, como fazem todos os garotinhos.

PERGUNTA - Você é afetado pelo lugar onde se encontra?
KING -
Sabe de uma coisa engraçada? Sempre sou o mesmo. Vou a um ambiente e me adapto a ele. Se estou em um hotel, não sinto saudades de minha casa. Por falta de um termo melhor: sou um sujeito comum.

PERGUNTA - Você se interessa por decoração de interiores ou deixa tudo nas mãos de Shawn?
KING -
Não entendo nada de decoração. Shawn tem ótimo gosto. Só quero vir para casa, me sentar numa poltrona confortável e ver cores agradáveis.

PERGUNTA - Qual é o seu cômodo favorito?
KING -
São dois: a sala dos troféus, que é elegante e muito descontraída, e a sala de estar principal, que é iluminada e arejada, onde temos todos os televisores Sony mais modernos, de tela plana. A casa tem televisores Sony por toda parte.

PERGUNTA - A casa tem uma sala de mídia ou "home cinema"?
KING -
Você quer dizer o tipo de lugar onde se pode ter mil filmes e tudo isso? Sim, mas ainda não usei. A gente vai colocá-la para funcionar assim que eu puder chamar alguém para apertar os botões certos. Não sou um sujeito técnico. Tenho horror à tecnologia moderna. Não uso nem mesmo e-mail.

PERGUNTA - Você já entrevistou desde popstars até presidentes. Você recebe pessoas em casa?
KING -
[O cantor] Lionel Richie já esteve aqui, e [o ator] Al Pacino. Nancy Reagan é uma boa amiga nossa. A primeira inspeção completa da casa que ela fez levou duas horas.

PERGUNTA - Você cozinha?
KING -
Não. Não sei nem se consigo fazer café e sou péssimo com torradas. Preciso que me tragam minha comida pronta.

PERGUNTA - A arte é uma parte essencial de sua toda casa. Você é colecionador?
KING -
Sim, temos várias obras de arte. Peter Max, um artista americano de talento que pinta em cores fortes e belíssimas, é bom amigo nosso. Tenho um bico-de-pena de Picasso e prezo muito o desenho que Al Hirschfield fez de mim, uns dez anos atrás, que é incrível. Como disse Katharine Hepburn, "o desenho conta a história inteira". Gosto da sensação de ter arte e escultura pela casa.

PERGUNTA - Você já escreveu 13 livros. Como arruma tempo?
KING -
Pode não parecer, mas na realidade trabalho apenas uma hora por dia, então tenho bastante tempo livre. Depois de levar os meninos à escola, eu dito e escrevo. E já estive em 22 filmes. O último é "Bee Movie", a comédia animada de Jerry Seinfeld sobre uma dupla de amigos insetos que estréia em novembro [nos EUA]. Sinto tanto prazer com o que faço -escrever, fazer meu programa, viajar por aí fazendo discursos, contar piadas, brincar com os meninos.

PERGUNTA - Se você não vivesse em Beverly Hills, onde viveria?
KING -
Em San Francisco. É minha cidade favorita. Gosto do ar refrescante, das colinas, da sofisticação, dos restaurantes. Não é um centro da mídia, mas eu viveria lá facilmente.

PERGUNTA - Recentemente, você fez uma homenagem a Elvis no "Larry King Live", apresentando o programa a partir de Graceland. Alguma vez você se sente encurralado, como Elvis?
KING -
Nem um pouco. Vivemos no circuito das celebridades. As pessoas passam por aqui o tempo todo para tirar fotos da casa. E se elas não se interessassem? Seria deprimente. Vou lhe contar uma coisa: eu estava andando numa rua na África do Sul e um sujeito saiu de um barraco e disse: "Larry King Live". Falei: "Você só pode estar brincando".

PERGUNTA - Se alguém sem diploma universitário viesse procurá-lo, em busca de emprego, você lhe daria uma chance?
KING -
Sem dúvida nenhuma. Algum dia esse alguém pode querer comprar minha casa.



A íntegra deste texto saiu no "Financial Times". Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: + História: Floresta encantada
Próximo Texto: + Livros: Guerra verde
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.