São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2008

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"Fomos abandonados"

PARA CÔNSUL-ADJUNTO DO PAÍS EM MADRI, QUEIXAS DOS PRESOS NÃO PROCEDEM, POIS NINGUÉM QUER IR PARA O "INFERNO QUE É A PRISÃO NO BRASIL"

DO ENVIADO A DUEÑAS

Fomos abandonados pelo Brasil." A frase, dita em tom dramático pelo goianiense Luis Humberto, 24, condenado a seis anos por tráfico, poderia ter partido de qualquer um dos 40 brasileiros presos em La Moraleja. Nenhum está satisfeito com a assistência que recebe do consulado, em Madri.
As queixas principais se referem à dificuldade em fazer contato com os diplomatas, a demora nos procedimentos que poderiam encurtar sua permanência na cadeia e a falta de visitas. "Estamos cansados de ver os presos de outros países receberem visitas e serem ajudados", diz Humberto.
Reunidos num dos 14 módulos do presídio, os brasileiros se exaltam quando falam do serviço diplomático de seu país.

Prisão cinco estrelas
"Teve um rapaz aqui, o André, que demorou três meses para ser solto porque o consulado não enviava o salvo-conduto para ele poder voltar para o Brasil", diz o paulista Giovani de Souza. "Também tem muita gente que gostaria de cumprir o resto da pena no Brasil, mas não consegue por falta de colaboração do consulado."
Embora reconheça que algumas das reclamações dos brasileiros presos em La Moraleja são justas, o consulado em Madri considera a maioria fruto da ignorância sobre os limites da ajuda que a diplomacia pode lhes prestar.
Para cônsul-adjunto Pedro Frederico Garcia, responsável pelo assunto no consulado, a afirmação de que presos brasileiros deixaram de cumprir pena no Brasil por falta de ajuda diplomática é "falaciosa".
"Ninguém quer sair de uma prisão cinco estrelas para ingressar no inferno, no campo de concentração que é a prisão no Brasil", diz o diplomata. "Isso é falacioso, porque nenhum deles tem coragem de peitar uma prisão brasileira."
Outra reclamação constante dos detentos brasileiros é a falta de notícias e de visitas. "Não custava nada mandar de vez em quando uma revista velha", diz o paranaense Paulo Teixeira. "Uma visita também não faria mal."
O consulado reconhece as falhas. "Algumas reclamações procedem, por exemplo, em relação às visitas e ao atendimento telefônico. Simplesmente o consulado não tem pessoal suficiente", diz Garcia.
"Quanto à falta de notícias, o consulado está desenvolvendo um projeto para distribuir uma revista que forneça minimamente informações do país aos brasileiros que estão presos na Espanha." (MN)


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