SÉRGIO DE CARVALHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Faces", de John Cassavetes [1929-89], me trouxe a vontade de fazer cinema. Sua beleza impressionante não é técnica. Câmera documental, sem plano e contraplano, descontinuidade, marcas de muitos cineastas modernos. O assunto tem algo de banal: o casal burguês em crise se refugia no sexo pago. Mas, como em Tchekhov [escritor russo], os estragos psíquicos surgem patéticos, em contextos sociais precisos.
O trato de classe vem no desvio: a prostituta tem uma ternura atípica por um financista, o rapaz de programa vê o custo alto da alegria que não se quer mercantil. A câmera serve à atuação. Cassavetes e seu grupo improvisavam. Daí as crateras épicas no chão do drama.