São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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Um canto xamanístico

Neste canto, o duplo ou alma do xamã Armando Marubo descreve-se a si mesmo como uma pessoa extraordinária, feito uma palmeira de açaí se destacando na floresta. Na sequência, dizendo ser antigo como os próprios espíritos mobilizados por seu canto, utiliza-se de outras imagens para se referir ao poder de seu pensamento e de sua fala.
Com o peito desenhado com padrões geométricos invisíveis, o duplo do xamã é capaz de conhecer o cosmos e os diversos povos que o habitam.

sou o primeiro sou mesmo como o açaí-espírito acima das nuvens rasgando o céu assim sempre vivi minha garganta desenhada as folhas da árvore-espí-rito
as folhas farfalha
estou assim contando
a multidão de espíritos-pássaro
a multidão movimento
estou mesmo cantando
e pelo lábio exalo
ventania de tabaco
assim eu digo
sou o primeiro
com sangue de fresca folha
a frente do peito
foi com desenhos traçada
pelos losangos-espírito
pelos losangos aprendi
com desenhos marcado
o espírito foi criado
sou mesmo o primeiro


ARMANDO MARUBO , 2004. Tradução de Pedro Cesarino .


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