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Cinema e resistência
S
e eu acreditasse que meu
cinema fosse completamente integrado por uma
sociedade que quer inclusive o
tipo de filme que faço, então
talvez eu não o fizesse. [...]
A sociedade burguesa digere
tudo: amalgama, assimila e digere tudo. Porém, em cada obra
em que a individualidade e a
singularidade se afirmam com
originalidade e violência, há algo de inintegrável.
[...] Tenho essa confiança na
liberdade humana, que não saberia expor em termos racionais. Mas percebo que, se as
coisas continuarem assim, o
homem se mecanizará e alienará a tal ponto, se tornará tão
antipático e odioso, que essa liberdade se perderá inteiramente. Eu continuaria a fazer
cinema do mesmo modo, ainda
que a liberdade estivesse apenas comigo e se exaurisse com
a expressão.
Continuaria a fazê-lo do
mesmo modo porque preciso
fazê-lo. Ou me suicido ou sigo
fazendo. [...]
Penso que em nenhuma sociedade o artista é livre. Sendo
esmagado pela normalidade e
pela média de qualquer sociedade onde viva, o artista é uma
contestação vivente. Representa sempre o outro daquela idéia
que todo homem, em toda sociedade, tem de si mesmo.
Em minha opinião, uma
margem mínima de liberdade,
ainda que nem seja mensurável, sempre existe. Não sei dizer até que ponto isso é ou não
liberdade. Mas com certeza há
algo que escapa à lógica matemática da cultura de massa.
Esses trechos foram extraídos de "Pasolini,
Nosso Próximo", de Giuseppe Bertolucci.
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