São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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Cinema e resistência

S e eu acreditasse que meu cinema fosse completamente integrado por uma sociedade que quer inclusive o tipo de filme que faço, então talvez eu não o fizesse. [...]
A sociedade burguesa digere tudo: amalgama, assimila e digere tudo. Porém, em cada obra em que a individualidade e a singularidade se afirmam com originalidade e violência, há algo de inintegrável.
[...] Tenho essa confiança na liberdade humana, que não saberia expor em termos racionais. Mas percebo que, se as coisas continuarem assim, o homem se mecanizará e alienará a tal ponto, se tornará tão antipático e odioso, que essa liberdade se perderá inteiramente. Eu continuaria a fazer cinema do mesmo modo, ainda que a liberdade estivesse apenas comigo e se exaurisse com a expressão.
Continuaria a fazê-lo do mesmo modo porque preciso fazê-lo. Ou me suicido ou sigo fazendo. [...]
Penso que em nenhuma sociedade o artista é livre. Sendo esmagado pela normalidade e pela média de qualquer sociedade onde viva, o artista é uma contestação vivente. Representa sempre o outro daquela idéia que todo homem, em toda sociedade, tem de si mesmo.
Em minha opinião, uma margem mínima de liberdade, ainda que nem seja mensurável, sempre existe. Não sei dizer até que ponto isso é ou não liberdade. Mas com certeza há algo que escapa à lógica matemática da cultura de massa.


Esses trechos foram extraídos de "Pasolini, Nosso Próximo", de Giuseppe Bertolucci.


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