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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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ALFREDO VALLADÃO

[FRANÇA]

1. Deixei o Brasil quando ainda era estudante. Com um pai diplomata, sempre vivi viajando entre o Brasil e a Europa.

2. Formado por uma universidade de língua francesa, comecei minha vida profissional como jornalista independente, correspondente de jornais franceses. As necessidades profissionais -e o amor de uma francesa- me levaram a me radicar em Paris. Uma carreira muito satisfatória me fez ficar.

3. Esses dois chavões continuam existindo na França. Mas outros aspectos do Brasil também são cada vez mais conhecidos e populares, sobretudo na juventude: a música popular brasileira, a idéia de um país mestiço e tolerante (importante numa sociedade francesa em que movimentos racistas e xenófobos continuam fortes e que sempre teve grandes dificuldades em se adaptar ao Outro), a percepção de um país jovem, com grandes oportunidades e liberdade (comparado com um certo envelhecimento e rigidez da sociedade francesa), mas bem diferente do modelo norte-americano.

4. Nos dois países a carreira universitária é muito rígida, com muitos formalismos. Tive a boa sorte de entrar para o Instituto de Ciências Políticas (Sciences Po), que é uma instituição universitária cujo estatuto lhe garante muita flexibilidade e capacidade criativa. Comparando os níveis de vida, os salários de professores na França são equivalentes aos do Brasil (muitas vezes, professores "seniors" vivem até melhor no Brasil, mas é verdade também que os serviços sociais franceses são bem mais desenvolvidos e eficientes). Claro, as condições de trabalho intelectual (bibliotecas, contatos com colegas estrangeiros, possibilidades de publicação, seminários etc.) são muito superiores às do Brasil. Porém as relações cotidianas são sem dúvida mais agradáveis no Brasil.

5. Meu campo são as relações internacionais. No Brasil, ainda estamos na infância dessa disciplina, comparando-se com a sofisticação dos debates, os conhecimentos acumulados pelos pesquisadores na França (franceses e estrangeiros) e o acesso à pesquisa de ponta no mundo.

6. Pessoalmente não, apesar de conhecer muitos estrangeiros que sofreram discriminação.

7. O meu trabalho -atual diretor da cátedra Mercosul da Sciences Po- implica viagens regulares ao Brasil e trabalho em conjunto com colegas e instituições brasileiros. Por enquanto -e salvo alguma oportunidade excepcional- essa vida e missão de "ponte" entre o Brasil e a Europa me convêm.


Comparando os níveis de vida, os salários de professores na França são equivalentes aos do Brasil


Cientista político, 57
Instituto de Estudos Políticos (Paris)
Deixou o Brasil em: 1965
Principais obras: "Le Retour du Panamericanisme" (La Documentation Française), "Le 21ème Siècle Sera Américain" (La Découverte), "Les Mutations de l'Ordre Mondial" (La Découverte)



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