São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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9. Favela X zona sul

Apenas a minoria mora em favelas. Os recrutas são aprovados em concurso que exige ensino médio e tem dez candidatos por vaga, mais que muitos vestibulares.
Único morador da zona sul no pelotão -talvez na companhia-, sou apelidado de "Zona Sul". "É outra realidade, outro mundo. O PM na zona sul dá até "boa noite, senhor". Aqui na zona oeste é: "Vai dando logo, entrega logo que, se eu achar, tá fodido! Sai do carro, sai, sai!"", brinca um colega.
"A PM é malvista na zona sul, né? Fui taxista e ouvia falarem muito mal", ri um rapaz que ficou amigo.
Os instrutores reconhecem a atuação distinta da PM, de acordo com a área. "Vai abordar do mesmo jeito na Vieira Souto [Ipanema] e no Jacaré [favela da zona norte]? Depende da situação, da área de risco, do padrão social. Na favela, se der as costas, leva rajada."
Eu vivia situação dúbia: era militar sem ser e tinha jornada dupla, de PM e jornalista.
Além da rotina militar, tinha de prestar atenção a tudo. "Quer ser o 01 mesmo, hein? Anota tudo..." Tinha bom relacionamento no pelotão. Emprestei caderno para colegas copiarem e ajudei a escrever bilhetes e documentos.
Brincava, fiz amizades -gostei de muitos e mantive contato com alguns. Não podia revelar minha atividade, mas às vezes desconfiavam. "Você é muito calmo, não tem cara de soldado. É "moita", na sua. Fica só ouvindo tudo, quietinho. Vai ser da P2 [serviço reservado da PM]", dizia um colega.


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