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Discoteca básica
A Sagração da Primavera
JÚLIO MEDAGLIA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quando adolescente, no início dos anos 50, eu vivia na Lapa paulistana e integrava uma dessas
turmas de periferia. Certa vez fomos à casa de
um dos amigos para conhecer uma estranha
"victrola" que rodava devagarinho e cujo som, além de
grande realismo, não fazia ruído.
Encantados, passamos a nos reunir regularmente em
torno daquela caixa mágica e chegamos a fazer vaquinha
para comprar discos à prestação. Mas, certa vez, a audição de um LP a todos perturbou. Naquela tarde saímos
da reunião cambaleando, com a sensação de que a música havia chegado ao fim. A obra responsável por esse
"trauma" foi "A Sagração da Primavera" [foto, em montagem do Balé de Tóquio], de Stravinsky.
O tempo foi passando, meus estudos musicais chegando, e comecei a entender a razão daquele impacto assim
como do escândalo causado pela obra na Paris do início
do século 20. O susto inicial, porém, foi se transformando
numa grande admiração por esse autor e pela obra, que
hoje considero a maior do século.
Uma espécie de "Divina Comédia", "Fausto", "Ilíada"
ou "Capela Sistina" de nossa era. Chego a entender, aliás,
o entusiasmo das palavras do melhor crítico de arte inglês, sir Herbert Read, quando diz que "o artista que vai
representar o século 20 não será um escultor ou um poeta, mas, sim, Igor Stravinsky".
Júlio Medaglia é maestro e apresentador do programa "Prelúdio", na
TV Cultura. É autor de "Música Impopular" (Global).
A obra
"Le Sacre du Printemps", de Igor Stravinsky. Cleveland Orchestra.
Regência de Pierre Boulez. Selo Deutsche Grammophon
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