São Paulo, domingo, 19 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Visões do paraíso

Reprodução
Homem usa vestido feminino no Dragapalooza, parada gay de Nova York, em 1996



Analistas comentam dados da pesquisa Datafolha na 9ª Parada GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) e traçam diferentes retratos da homossexualidade no Brasil

DA REDAÇÃO

Pesquisa inédita do Datafolha com participantes homossexuais, bissexuais e transexuais da 9ª Parada Gay de São Paulo mostra que 76% deles concordam totalmente ou em parte com a frase "alguns homossexuais exageram nos trejeitos, o que alimenta o preconceito contra os gays".
A Folha convidou cinco especialistas para analisar esse e outros dados, que traçam retratos dos participantes da parada, e pensar características -surpreendentes, insuspeitadas- próprias aos homossexuais brasileiros em geral.
Para o escritor João Silvério Trevisan, a recusa ao "exagero" nos "trejeitos" demonstra "uma rejeição ao estereótipo social que define homossexuais como efeminados". Mas ao mesmo tempo, ele diz, essa reação leva muitos gays a "praticarem o mesmo preconceito que os vitima". O antropólogo Sérgio Carrara vê na rejeição à feminilidade um redirecionamento do preconceito "para um subgrupo ainda mais vulnerável".
Os perfis da homossexualidade no país que saem da pesquisa Datafolha são, no entanto, complexos. Se são capazes de introjetar o preconceito, os homossexuais também demonstram rejeitar as religiões evangélicas pentecostais -que muitas vezes combatem o homossexualismo como doença-, conclui Antônio Flávio Pierucci.
A antropóloga Mirian Goldenberg vê semelhanças entre homens hétero e homossexuais, que atribuiriam a características "biológicas" os seus desejos. Em oposição às mulheres -lésbicas ou não- que teriam sempre a tarefa de "se tornarem" o que são. O infectologista Caio Rosenthal teme que o alto grau de conscientização quanto à Aids seja mais um retrato do perfil socioeconômico de quem foi à avenida Paulista do que opiniões próprias aos mais ameaçados pela doença -os pobres.
Entre os 303 entrevistados, o perfil de renda e escolaridade é bastante superior ao da média paulistana (50% têm curso superior completo, contra 14% na população adulta de São Paulo; e 43% ganham mais de R$ 2.600, contra apenas 12% dos paulistanos). A margem de erro da pesquisa é de seis pontos percentuais para mais ou para menos.


Texto Anterior: Filmes na lata de lixo
Próximo Texto: O preconceito espelhado
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.