São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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DECLÍNIO DO IMPÉRIO

PARA BUZZ ALDRIN, SEGUNDO HOMEM A PISAR NA LUA, EUA PERDERAM A HEGEMONIA NO ESPAÇO, DEVERIAM DESISTIR DE VOLTAR AO SATÉLITE E JÁ ESTÃO EM DESVANTAGEM NA CORRIDA RUMO A MARTE

DEBORAH SOLOMON

Edwin Eugene "Buzz" Aldrin foi o segundo homem a pisar em solo lunar, minutos depois do colega Neil Armstrong. Piloto de caça, veterano da Guerra da Coreia, formou-se doutor pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts -sua pesquisa versava sobre navegação espacial- antes de se tornar um astronauta.
Na entrevista abaixo, Aldrin pondera sobre a importância da Lua para os programas espaciais e revela, entre outras coisas, que ainda frequenta reuniões para ex-alcoólatras e que gravou um vídeo de rap.

 

PERGUNTA - Quarenta anos atrás, o mundo viu transfixado sua caminhada na Lua. Fizemos algum progresso desde o voo da Apollo-11?
BUZZ ALDRIN
- Não muito. Transferimos nossas atenções aos voos espaciais em órbita baixa da Terra.

PERGUNTA - O sr. quer dizer o programa do ônibus espacial, que está a caminho do encerramento?
ALDRIN
- Nós temos dedicado nossa atenção ao ônibus espacial, à estação espacial e aos preparativos para um retorno à Lua. A parte perturbadora disso é que, ao longo de todo esse tempo, a Rússia vem concentrando suas atenções em Phobos, uma das luas de Marte, e muitos dentre nós viemos recentemente a perceber que importância ela poderia ter como parada no caminho de Marte.

PERGUNTA - O sr. acredita que Marte tenha mais a oferecer do que a Lua?
ALDRIN
- Sim, muito mais. Trata-se de um planeta com características muito mais terrestres. Tem uma atmosfera, ainda que rala, e um ciclo de dia e noite bastante semelhante ao nosso. Também tem estações do ano. A Rússia talvez esteja ainda discutindo a possibilidade de que as luas de Marte ofereçam acesso a gelo ou a água.

PERGUNTA - O sr. quer dizer que a Lua saiu de moda?
ALDRIN
- Não é um território promissor para atividades comerciais. Tem importância científica, pode ter valor em termos estratégicos, mas não creio que seja necessário que astronautas norte-americanos estejam presentes para explorar seus recursos. A viabilidade disso pode ser determinada por robôs.

PERGUNTA - Os dias da preeminência dos EUA no espaço se acabaram?
ALDRIN
- Sim.

PERGUNTA - É verdade que Buzz Lightyear, o astronauta do desenho "Toy Story", recebeu esse nome em homenagem ao sr.?
ALDRIN
- Aparentemente, mas minha conta bancária não apresenta provas que permitam substanciar a afirmação.

PERGUNTA - O sr. conhece Charles Bolden, o antigo astronauta que foi apontado pelo presidente Obama para dirigir a Nasa?
ALDRIN
- Conheço-o bastante bem. Fiquei um pouco intrigado quando percebi que o maior defensor de sua indicação foi o senador Bill Nelson, da Flórida, que voou com ele ao espaço.

PERGUNTA - Certo, Nelson era deputado federal quando voou no ônibus espacial. Mas isso não seria uma vantagem, facilitando a Bolden a conquista de apoio à Nasa no Legislativo? Por que o sr. ficou intrigado?
ALDRIN
- Eu defendo que o destino das missões tripuladas por seres humanos seja alterado. Existem muitas missões tripuladas que podem ser realizadas, mas não em direção à Lua. Não estou certo quanto a Bill Nelson. Não o ouvi dizer que o melhor seria cancelar os planos da Nasa para levar pessoas de volta à Lua. Ele dificilmente diria algo assim. Não seria uma declaração muito popular.

PERGUNTA - O sr. foi o segundo homem a caminhar na Lua, depois de Neil Armstrong. Foi um incômodo ser o segundo?
ALDRIN
- Não. Naquela época, eu não estava em busca de novas glórias.

PERGUNTA - O sr. comungou na Lua. Continua a ir regularmente à igreja?
ALDRIN
- Não. Minhas manhãs de domingo agora são dedicadas a reuniões de ex-alcoólatras em Pacific Palisades [na Califórnia].

PERGUNTA - Em seu novo livro de memórias, "Magnificent Desolation" [Magnífica Desolação], o sr. relata um período ruinoso de abuso de álcool e depressão clínica, depois dos anos como astronauta.
ALDRIN
- Herdei a depressão do lado materno de minha família. O pai de minha mãe se suicidou. Ela mesma se suicidou um ano antes de eu ir à Lua.

PERGUNTA - O nome de solteira de sua mãe era mesmo Marion Moon?
ALDRIN
- Sim. Mas eu não achava que a Nasa precisasse saber disso. Alguém poderia pensar que eu estava tentando obter tratamento preferencial porque meus antepassados tinham o sobrenome Moon [Lua]. E isso seria uma piada.

PERGUNTA - O sr. vê algo de estranho que estejamos celebrando o 40º aniversário tanto da primeira caminhada na Lua quanto de Woodstock [festival de música]?
ALDRIN
- Não creio que eu pretenda ir a Woodstock.

PERGUNTA - Que tipo de música o sr. prefere?
ALDRIN
- Acabo de gravar uma sessão de rap com Snoop Dogg e uma composição de rap chamada "Rocket Experience". Vai ser um vídeo on-line [disponível em www.youtube.com].

PERGUNTA - O sr. realmente canta no vídeo?
ALDRIN
- Eu relato. Não é cantar, é fazer um rap.

PERGUNTA - Quantos anos o sr. tem agora?
ALDRIN
- Em 20 de julho, o aniversário do pouso na Lua, eu terei precisamente 79 anos e meio. É um prazer estar do lado de cá das águas conturbadas.


Este texto foi publicado na "New York Times Magazine".
Tradução de Paulo Migliacci.


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