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DECLÍNIO DO IMPÉRIO
PARA BUZZ
ALDRIN,
SEGUNDO
HOMEM A
PISAR NA LUA,
EUA PERDERAM
A HEGEMONIA
NO ESPAÇO,
DEVERIAM
DESISTIR DE
VOLTAR AO
SATÉLITE E JÁ
ESTÃO EM
DESVANTAGEM
NA CORRIDA
RUMO A MARTE
DEBORAH SOLOMON
Edwin Eugene "Buzz"
Aldrin foi o segundo
homem a pisar em solo lunar, minutos depois do colega Neil
Armstrong. Piloto de caça, veterano da Guerra da Coreia,
formou-se doutor pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts -sua pesquisa versava sobre navegação espacial- antes
de se tornar um astronauta.
Na entrevista abaixo, Aldrin
pondera sobre a importância
da Lua para os programas espaciais e revela, entre outras coisas, que ainda frequenta reuniões para ex-alcoólatras e que
gravou um vídeo de rap.
PERGUNTA - Quarenta anos atrás, o
mundo viu transfixado sua caminhada na Lua. Fizemos algum progresso desde o voo da Apollo-11?
BUZZ ALDRIN - Não muito.
Transferimos nossas atenções
aos voos espaciais em órbita
baixa da Terra.
PERGUNTA - O sr. quer dizer o programa do ônibus espacial, que está
a caminho do encerramento?
ALDRIN - Nós temos dedicado
nossa atenção ao ônibus espacial, à estação espacial e aos
preparativos para um retorno à
Lua. A parte perturbadora disso é que, ao longo de todo esse
tempo, a Rússia vem concentrando suas atenções em Phobos, uma das luas de Marte, e
muitos dentre nós viemos recentemente a perceber que importância ela poderia ter como
parada no caminho de Marte.
PERGUNTA - O sr. acredita que Marte tenha mais a oferecer do que a
Lua?
ALDRIN - Sim, muito mais. Trata-se de um planeta com características muito mais terrestres. Tem uma atmosfera, ainda
que rala, e um ciclo de dia e noite bastante semelhante ao nosso. Também tem estações do
ano. A Rússia talvez esteja ainda discutindo a possibilidade
de que as luas de Marte ofereçam acesso a gelo ou a água.
PERGUNTA - O sr. quer dizer que a
Lua saiu de moda?
ALDRIN - Não é um território
promissor para atividades comerciais. Tem importância
científica, pode ter valor em
termos estratégicos, mas não
creio que seja necessário que
astronautas norte-americanos
estejam presentes para explorar seus recursos. A viabilidade
disso pode ser determinada por
robôs.
PERGUNTA - Os dias da preeminência dos EUA no espaço se acabaram?
ALDRIN - Sim.
PERGUNTA - É verdade que Buzz
Lightyear, o astronauta do desenho
"Toy Story", recebeu esse nome em
homenagem ao sr.?
ALDRIN - Aparentemente, mas
minha conta bancária não
apresenta provas que permitam substanciar a afirmação.
PERGUNTA - O sr. conhece Charles
Bolden, o antigo astronauta que foi
apontado pelo presidente Obama
para dirigir a Nasa?
ALDRIN - Conheço-o bastante
bem. Fiquei um pouco intrigado quando percebi que o maior
defensor de sua indicação foi o
senador Bill Nelson, da Flórida,
que voou com ele ao espaço.
PERGUNTA - Certo, Nelson era deputado federal quando voou no ônibus espacial. Mas isso não seria uma
vantagem, facilitando a Bolden a
conquista de apoio à Nasa no Legislativo? Por que o sr. ficou intrigado?
ALDRIN - Eu defendo que o destino das missões tripuladas por
seres humanos seja alterado.
Existem muitas missões tripuladas que podem ser realizadas,
mas não em direção à Lua. Não
estou certo quanto a Bill Nelson. Não o ouvi dizer que o melhor seria cancelar os planos da
Nasa para levar pessoas de volta à Lua. Ele dificilmente diria
algo assim. Não seria uma declaração muito popular.
PERGUNTA - O sr. foi o segundo homem a caminhar na Lua, depois de
Neil Armstrong. Foi um incômodo
ser o segundo?
ALDRIN - Não. Naquela época,
eu não estava em busca de novas glórias.
PERGUNTA - O sr. comungou na
Lua. Continua a ir regularmente à
igreja?
ALDRIN - Não. Minhas manhãs
de domingo agora são dedicadas a reuniões de ex-alcoólatras em Pacific Palisades [na
Califórnia].
PERGUNTA - Em seu novo livro de
memórias, "Magnificent Desolation" [Magnífica Desolação], o sr. relata um período ruinoso de abuso de
álcool e depressão clínica, depois
dos anos como astronauta.
ALDRIN - Herdei a depressão do
lado materno de minha família.
O pai de minha mãe se suicidou. Ela mesma se suicidou um
ano antes de eu ir à Lua.
PERGUNTA - O nome de solteira de
sua mãe era mesmo Marion Moon?
ALDRIN - Sim. Mas eu não achava que a Nasa precisasse saber
disso. Alguém poderia pensar
que eu estava tentando obter
tratamento preferencial porque meus antepassados tinham
o sobrenome Moon [Lua]. E isso seria uma piada.
PERGUNTA - O sr. vê algo de estranho que estejamos celebrando o 40º
aniversário tanto da primeira caminhada na Lua quanto de Woodstock
[festival de música]?
ALDRIN - Não creio que eu pretenda ir a Woodstock.
PERGUNTA - Que tipo de música o
sr. prefere?
ALDRIN - Acabo de gravar uma
sessão de rap com Snoop Dogg
e uma composição de rap chamada "Rocket Experience". Vai
ser um vídeo on-line [disponível em www.youtube.com].
PERGUNTA - O sr. realmente canta
no vídeo?
ALDRIN - Eu relato. Não é cantar, é fazer um rap.
PERGUNTA - Quantos anos o sr. tem
agora?
ALDRIN - Em 20 de julho, o aniversário do pouso na Lua, eu terei precisamente 79 anos e
meio. É um prazer estar do lado
de cá das águas conturbadas.
Este texto foi publicado na "New York Times
Magazine".
Tradução de Paulo Migliacci.
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