São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2001

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No início de setembro o diretor Julio Bressane apresentará no Festival de Cinema de Veneza "Dias de Nietzsche em Turim", seu longa mais recente, rodado em Turim e no Rio.

Como surgiu "Dias de Nietzsche em Turim"?
O filme foi feito a partir de uma pesquisa minuciosa, micrológica, de Rosa Maria Dias. Ele surgiu a partir desse material fascinante que foi a passagem de Nietzsche por Turim. O resultado é uma coisa mínima, de uma hora e meia, sobre esse grande signo que é Nietzsche. Minha intenção foi recriar em imagens, em ritmo, em luz, em montagem o original que está sendo referido, poder sugerir essa diáspora de fragmentos.

Onde o filme foi rodado?
No Rio e em Turim, em quatro etapas (1995, 97, 99 e 2000), com tomadas de lugares que ele frequentou, a casa onde morou, os teatros, os cafés. Dos 210 minutos filmados em Turim, me vali de 14.

Em Turim Nietzsche enlouquece...
Dizer que ele ficou louco é algo questionável, tal a sofisticação de seu pensamento: o que aconteceu com ele significaria outra coisa hoje. Seus cadernos, seus fragmentos, o "Ecce Homo", o "Contra Wagner", tudo aquilo que ele escreveu naqueles meses mostra uma radicalização e uma fertilidade extremas. A junção filosofia-vida se cristalizou em Turim, que eu vejo -como já viu Pierre Klossowski- como um momento de euforia, de introjeção do divino, de encampação total do signo dionisíaco.

Mas depois ele pára de escrever.
O que aconteceu ali só poderia se dar de forma violenta, só era possível sair daquela cultura filológica por uma retirada da linguagem, no silêncio. Todos os seus "bilhetes da loucura" são escritos lá, sobretudo sua filosofia final, que eleva os "párias" como um antídoto contra a racionalidade ocidental e as guerras que se seguiram.



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