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"As sociedades modernas são menos exploradoras que as antigas"
DA SUCURSAL DO RIO
Para o economista do
Banco Mundial
Branko Milanovic,
autor principal do estudo comparando desigualdade entre sociedades
antigas e modernas, os resultados de seu trabalho não devem
ser tratados como uma medida
precisa e irrefutável da desigualdade em economias pré-industriais.
Para ele, porém, os dados podem ser interpretados como
indicativos de que, apesar de os
índices de desigualdade do passado e do presente serem muitos parecidos, havia, ontem e
hoje, sociedades mais e menos
desiguais. Leia a entrevista que
concedeu ao Mais!
(AG)
FOLHA - O fato de os níveis de desigualdade em sociedades modernas
ou pré-industriais serem parecidos
não mostra que se trata de uma característica natural de qualquer sociedade?
BRANKO MILANOVIC - É uma conclusão errada por duas razões.
Primeiro, se é verdade que, na
média, a diferença nos índices
de Gini das sociedades antigas e
modernas é pequena, também
é verdade que há muita variação entre países.
Hoje, há nações mais igualitárias com Gini próximo de 20
[na escala de zero a cem], como
Finlândia, Suécia ou Holanda, e
outras com níveis muito mais
altos, próximos de 60, como
Brasil e África do Sul. O mesmo
acontecia nas sociedades antigas. Olhar apenas para as médias, portanto, seria enganoso.
Segundo, mesmo que duas
sociedades -uma antiga e outra moderna- possuam o mesmo Gini, seu significado é bem
diferente. Isso está expresso
em nosso trabalho no cálculo
da taxa de extração de desigualdade. Em sociedades antigas,
em que a renda média é baixa,
uma alta iniqüidade só era possível quando uma elite pequena
se apropriava de quase todo o
excedente da riqueza, deixando
mais de 90% da população com
um mínimo apenas para subsistência.
As sociedades modernas, no
entanto, são muito mais ricas e,
por isso, podem manter o mesmo nível de desigualdade sem
extrair tanto desse excedente.
O que mostramos em nosso
trabalho é que as sociedades
modernas são, em média, muito menos exploradoras em
comparação com as antigas.
FOLHA - Comparações de desigualdade entre países hoje já são feitas
com cautela e ressalvas. Não seria
ainda mais duvidoso fazer isso entre
sociedades antigas e modernas?
MILANOVIC - Sem dúvida, é um
grande problema. Nossos números são mais sugestivos,
uma tentativa, e refletem muito mais tendências gerais do
que dados precisos e acurados.
Talvez à medida que mais informações fiquem acessíveis
-e estamos hoje testemunhando um grande incremento na
pesquisa da história econômica- possamos confirmar ou rejeitar estimativas para as sociedades antigas.
No entanto, acreditamos que
a abordagem que adotamos para as sociedades antigas, usando a classificação dos grupos
sociais de acordo com suas rendas médias, é relativamente robusta e provavelmente a única
factível.
FOLHA - Países mais ricos são menos desiguais. Não é uma evidência
de que a desigualdade trava o crescimento econômico?
MILANOVIC - Essa correlação
pode ser verdadeira, mas sua
causalidade é mais difícil de ser
comprovada.
Esses países são ricos porque
foram mais igualitários em sua
origem ou porque sua desigualdade foi caindo à medida que
enriqueciam? Provavelmente
as duas hipóteses são verdadeiras e é por isso que é tão difícil
estabelecer a relação de causa e
efeito. Além disso, a mudança
no padrão de desigualdade não
é um produto apenas da realidade econômica, mas de várias
outras forças: sociais, históricas, culturais.
De qualquer jeito, há muitos
exemplos de países que conseguiram reduzir sua desigualdade ao mesmo tempo em que
cresceram.
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