São Paulo, domingo, 20 de setembro de 1998

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UM TEXTO

A Casa da Praia

ZULMIRA RIBEIRO TAVARES

Nós crescemos. E por termos crescido o verão muitas vezes se afastou e aproximou de nós. Esse o mais claro andamento do tempo; nele entram sóis e luas e o muro da casa ao lado que amanhece cedo no verão, e quando deixa de receber água por alguns dias sua superfície torna-se igual a pedra-pomes; e parece ter o peso diminuído. Crescemos -e quantas vezes o muro perdeu e ganhou peso, e o sol voltou a ser de fogo. A tristeza também passou pelas janelas como a cauda de um animal de nuvem que se demorasse apenas o tempo de embaçar o sol; sem suprimi-lo. Crescemos. E já agora não crescemos. E quando o verão volta a cada ano, surpreendemo-nos que o muro ao lado tenha se tornado a superfície onde nos encontramos reunidos, todos nós, levemente porosos e cinzentos -como pedras-pomes. Assim nos tornamos. E o peso já nos foge.


Extraído do livro "Cortejo de Abril"



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