São Paulo, domingo, 21 de março de 2004 |
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O caminho das índias
BRASIL DEVE SE ESPELHAR NO PAÍS ASIÁTICO E ABANDONAR
CARTILHA DO CONSENSO DE WASHINGTON, REDUZINDO
AS TAXAS DE JUROS E CONTROLANDO O FLUXO DE CAPITAIS
Talvez a diferença mais representativa entre essas duas opções seja o que se chama de regime cambial. No Consenso de Washington o câmbio deveria ser livremente fixado pelos mercados e, portanto, fortemente influenciado pela movimentação de capitais financeiros e da política de taxas de juros internas. No segundo caminho, o governo procuraria limitar a influência dos capitais financeiros de curto prazo na formação da taxa de câmbio, favorecendo com isso as exportações. Todos sabemos hoje que o presidente Fernando Henrique optou pelo caminho mais ortodoxo. Os resultados dessa decisão foram: a falta de crescimento, o aumento extraordinário da dívida pública e a queda constante da renda real do brasileiro durante seus últimos seis anos de governo. O presidente pagou por isso e Lula foi eleito por prometer emprego e crescimento. Portanto foi com enorme surpresa que assistimos a Lula se transformar, de crítico sistemático, em ardoroso defensor dessa política no início de seu governo. Mesmo agora, quando os resultados do ano de 2003 mostram uma queda nominal de nosso PIB, o governo reafirma seu apoio a esse caminho que tanto atacou durante seus tempos de oposição. Acena-se, como fez no passado o ex-ministro Malan, com a volta do crescimento nos próximos anos. Mas já vimos esse filme à exaustão! Não conseguiremos sair da armadilha a que a decisão tomada por Fernando Henrique em 1996 nos conduziu se não mudarmos a política econômica atual. O crescimento de vários países da Ásia nesse mesmo período nos mostra, com atraso, o caminho a seguir. Abandonar as idéias simplistas do Consenso de Washington -hoje repudiadas por seus próprios criadores- e olhar para países como a Índia. E o que nos ensina o exemplo indiano? Primeiro, que o equilíbrio fiscal é condição necessária, mas não suficiente, para atingir o nirvana do crescimento econômico. Não podemos ter no chamado superávit primário do setor público uma espécie de mito divino para chegar ao crescimento. Em segundo lugar, que se deve ter como elemento básico da ação do governo o setor produtivo, e não o setor financeiro. Para tal é necessário um controle inteligente dos fluxos de capitais financeiros para evitar que movimentos especulativos influenciem a formação da taxa de câmbio, preço básico para o setor exportador. Devemos também, em momentos oportunos, aproveitar a liquidez internacional para aumentar nossas reservas externas e diminuir a importância da política de juros externos para manter a solvência internacional. Juros administrados Outra diferença abissal entre Brasil e Índia é a forma como a questão da taxa de juros é vista pelos gestores da política econômica. Na Índia, os juros são administrados com parcimônia e levando em consideração sua importância como fator de custo para o setor privado e público; no Brasil ele é visto como um preço a ser pago para satisfazer o investidor financeiro privado, nacional e estrangeiro, na sua sagrada missão de financiar a dívida pública e nossa conta corrente externa. Por causa dessa maneira diferenciada de entender a questão dos juros, eles são de 6% ao ano na Índia e de mais de 16% no Brasil. Em outras palavras, para sairmos da armadilha em que estamos presos é preciso mais do que se admirar com o crescimento do país de Ghandi e Nehru, como aconteceu com o presidente Lula e sua comitiva recentemente. É preciso mudar o enfoque que tem prevalecido nos últimos anos e trazer, para comandar a economia, técnicos e políticos comprometidos com o caminho das Índias, e não de Washington! Luiz Carlos Mendonça de Barros é engenheiro e economista, sócio e editor do site de economia e política "Primeira Leitura". Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC). Texto Anterior: O país flutuante Próximo Texto: Desrazões do desastre Índice |
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