|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
+ tecnologia
Uma ética dos robôs
Forte expansão da robótica já provoca debate no Reino Unido, Japão
e na Coréia do Sul sobre o estatuto humanos das máquinas
FRANÇOISE LAZARE
PHILIPPE MESMER
O mais novo dos robôs humanóides
japoneses tem capacidades impressionantes. Desenvolvido por meio de uma parceria entre a Kawada e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Avançada (AIST) do
Japão, o "HRP-3 Promet" tem
tudo que o trabalhador do futuro precisa. A máquina branca e
preta, de 1,60 metro e 80 quilos, consegue se movimentar
nos terrenos mais acidentados,
e em qualquer clima.
O robô é capaz de caminhar
durante duas horas, manipular
com precisão uma chave de
fenda, ajudar um homem a carregar uma tábua, conduzir veículos de trabalho. Seus criadores esperam começar a comercializá-lo em 2010.
Em menos de uma década,
de acordo com os pesquisadores, os robôs farão parte da vida
cotidiana dos japoneses. Bill
Gates, cuja Microsoft acaba de
desenvolver um sistema operacional padronizado para esse
tipo de máquina, acredita que a
indústria da robótica, como a
dos computadores pessoais 30
anos atrás, está às portas de
uma forte expansão.
As novas máquinas evoluirão
no contato com os seres humanos e poderão substituí-los na
execução de certas tarefas; mas
será que terão direitos?
A questão já está em debate
no Reino Unido, em um relatório encaminhado ao governo
em dezembro de 2006. O projeto Horizon Scan teve por tema cerca de 250 assuntos que
estão em desenvolvimento, entre os quais as conseqüências
da evolução da robótica.
Podem votar?
Sob o título "sonhos utópicos
ou máquinas melhores", os especialistas discutem aquilo que
será preciso prover aos robôs à
medida que sua inteligência artificial se desenvolva. Será que
terão direito de voto? Serão
forçados a pagar impostos, a
prestar serviço militar?
De acordo com o estudo, caso
os robôs participem da força de
trabalho e, portanto, do crescimento da economia, será necessário fornecer a eles, por
exemplo, uma cobertura de seguro social que garanta o bom
funcionamento de seus equipamentos. Como aponta o texto,
um computador, que legalmente não é considerado uma pessoa, não poderia ser responsabilizado judicialmente por
qualquer delito.
Seu fabricante, no entanto,
poderia proteger seus direitos
de propriedade intelectual.
No Instituto de Tecnologia
de Massachusetts (MIT), uma
das organizações líderes na
pesquisa em robótica nos EUA,
Aaron Edsinger está envolvido
há três anos no desenvolvimento do robô Domo.
Trata-se de uma fusão entre
o Kismet, robô criado para o estudo dos contatos entre máquinas e humanos e da aprendizagem que eles propiciam, e do
Cog, muito eficiente na manipulação de objetos.
"A questão dos direitos dos
robôs será importante no futuro não apenas para os estudiosos da robótica mas para a sociedade em geral", diz ele.
"Não estou certo de que ela
venha a ser tão diferente da
questão dos direitos animais. A
probabilidade é que venhamos
a nos comportar assim também
em relação às diferentes categorias de robôs. Uma lavadora
de louças deve continuar a ser
uma lavadora de louças. Já os
robôs mais infantilizados talvez venham a ocupar o lugar de
um cão ou gato. E creio que
dentro de 50 anos parecerá natural que concedamos direitos
semelhantes aos dos animais a
essas duas categorias de companheiros", diz.
Isaac Asimov
No Japão, a questão vai se
apresentar mais cedo, dada a
posição importante que a robótica já ocupa na vida cotidiana
do país. O envelhecimento da
população apresenta problemas de mão-de-obra para as
empresas, e também no que
tange a encontrar assistência
para os idosos. Por isso, laboratórios e parcerias, sob forte
pressão do governo, estão investindo pesadamente nesse
ramo de atividade.
Os robôs humanóides vêm
sendo desenvolvidos pouco a
pouco pelos laboratórios, como
por exemplo o Wakamaru, que
já está à venda para trabalhar
como recepcionista em empresas. Já a Alsok, uma fabricante
de produtos de segurança, está
oferecendo aos clientes os robôs de vigilância C4 e C5, para
operar em centros comerciais.
Com uma abordagem bastante pragmática, o Ministério
da Economia japonês está trabalhando na redação de normas de segurança para o uso de
robôs. A comissão criada para
essa finalidade em dezembro
de 2006 não deve se pronunciar em favor do estabelecimento de uma distinção entre
robôs e outras máquinas.
O fabricante será sempre
considerado responsável pelos
problemas criados por seu produto, a não ser que as instruções de uso tenham sido desrespeitadas. As normas do governo exigirão que os fabricantes garantam fiscalização séria
dos robôs que prestarão serviços pessoais.
Na Coréia do Sul, país igualmente avançado em termos de
robótica e grande rival do Japão nessa área, uma "carta ética
dos robôs" deve ser redigida
neste ano. O texto se inspira
nos princípios propostos pelo
escritor de ficção científica
Isaac Asimov.
Os robôs não deverão fazer
mal aos seres humanos ou permitir que estes os façam sofrer.
Deverão obedecer aos seres humanos, a menos que isso contradiga a primeira lei. E deverão garantir sua própria proteção, caso isso não contradiga as
duas primeiras leis.
Este texto foi publicado no "Le Monde".
Tradução de Paulo Migliacci.
Texto Anterior: Os livros básicos da dama do mistério Próximo Texto: + livros: Fogo pálido Índice
|