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Pior que um monstro, um monstro doutor
DA REPORTAGEM LOCAL
Josef Mengele não era apenas
um monstro, era um monstro
com doutorado. Ele tinha no currículo passagem por algumas das
mais importantes universidades
alemãs e austríacas. Mengele estudou medicina e antropologia nas
universidades de Munique, Viena
e Bonn. Fez um doutorado em
Munique sobre as diferenças "raciais" na mandíbula inferior.
Estava perfeitamente dentro do
espírito que o nazismo incutiu na
Alemanha, incluindo sua elite
pensante: o de que haveria uma
raça "ariana", cujo exemplo perfeito eram os alemães, nascida para governar o mundo, e que outras
serviriam de escravas, como os
povos da Europa oriental, ou deveriam ser exterminadas, como os
judeus e os ciganos. Professores
universitários que comungavam
dessas teses correram para produzir a "ciência" que as justificaria.
Assim como essas espúrias credenciais acadêmicas, o que Mengele fez durante a guerra também
não tinha nenhum valor científico.
Era loucura pura, o que facilita a
questão ética para os cientistas.
Mengele e colegas experimentaram com seres humanos: se tivessem obtido resultados válidos, como um cientista de hoje deveria
receber esses dados? Felizmente
para a consciência dos pesquisadores, quase nada da "ciência" nazista era aproveitável, ao contrário
de sua tecnologia, que produziu
tanques, submarinos e foguetes
bem melhores que os dos aliados.
Por exemplo, Mengele tentava
mudar a cor dos olhos de crianças
prisioneiras injetando substâncias
químicas. E tinha uma obsessão
por estudar gêmeos, matando-os e
dissecando-os cuidadosamente.
Além dessa pesquisa "pura", de
busca de conhecimento pelo conhecimento, Mengele e colegas tinham também um lado prático: o
país estava em guerra e era importante descobrir os limites aos
quais um corpo humano poderia
ser sujeito. Por exemplo, era comum aviadores e marinheiros caírem no mar gelado; quanto tempo
agüentariam antes de um resgate?
Haveria como reanimá-los? Para
responder a essas questões, prisioneiros no campo de Dachau eram
colocados em tanques com água
gelada, alguns deliberadamente
até a morte. Também eram inoculados em experiências sobre doenças infecciosas ou parasitárias.
Outra linha de pesquisa era a esterilização. Era importante para o
nazismo encontrar um método
rápido e eficaz de impedir que os
"sub-homens" se reproduzissem.
As declarações do médico Franz
Blaha, interrogado em Nuremberg, são das mais impressionantes: operações e dissecações em
pessoas saudáveis, experimentos
com drogas, pressão do ar, amputações. O catálogo de horrores do
que se fazia em Dachau é extenso.
Não era ciência. Era apenas sadismo.
(RICARDO BONALUME NETO)
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