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Uma síntese da eugenia e do anti-semitismo
NELSON ASCHER
COLUNISTA DA FOLHA
Terminada a Primeira Guerra
Mundial (1914-18), militares desmobilizados criaram, na Alemanha recém-derrotada, grupos de
extrema direita que tinham em comum o revanchismo, o nacionalismo radical e o anti-semitismo.
Em 1919, o Exército alemão encarregou Adolf Hitler de espionar
um desses grupos, o Partido dos
Trabalhadores Alemães. Aderindo
à organização, rebatizada de Partido Nazista (Partido Nacional Socialista do Trabalhador Alemão),
tornou-se seu líder e, ao chegar ao
poder em 1933, iniciou a reconstrução do poder bélico do país e a
reorganização da sociedade. A hierarquia das raças e a eugenia estavam entre suas doutrinas centrais.
Os judeus, embora fossem menos de 1% da população alemã,
eram considerados seu grande inimigo racial, e os nazistas se empenharam em resolver o "problema"
confiscando-lhes os direitos e as
propriedades, boicotando seus negócios, banindo-os de várias profissões e demonizando-os através
da propaganda. Se o objetivo original era expulsá-los do país, a ocupação da Áustria, da Checoslováquia e a eclosão da Segunda Guerra, iniciada com a conquista da Polônia, onde vivia a maior comunidade judaica do continente (3 milhões), inviabilizaram essa solução. Os judeus foram encerrados
em guetos enquanto os nazistas
discutiam o que fazer com eles.
Como, com o ataque à União Soviética (1941), mais judeus foram
capturados, o Terceiro Reich acionou grupos móveis para exterminá-los. Se bem que centenas de milhares tenham sido executados, o
processo era oneroso e demorado.
Para levar a cabo a "solução final",
a erradicação dos judeus, os nazistas construíram, na Polônia, seis
campos de extermínio: Auschwitz-Birkenau, Belzec, Chelmno, Majdanek, Sobibor e Treblinka.
Cerca de seis milhões de judeus
foram mortos entre 1939 e 45, talvez um terço em Auschwitz. Foi lá
que Mengele se instalou, em 1943,
como um de seus mais altos oficiais. Sua tarefa era separar prisioneiros aptos a trabalhar como escravos dos que seriam mandados
às câmaras de gás. Médico, filho de
um fabricante de máquinas agrícolas, seu "hobby" era realizar experiências com cobaias humanas.
O Holocausto nascera tanto do anti-semitismo quanto da eugenia que,
popularíssima então entre os médicos (uma das categorias mais nazificadas), dera origem, na Alemanha
dos anos 30, a um "programa de eutanásia" que consistia na eliminação
de gente física ou mentalmente incapacitada. As atividades de Mengele
foram a síntese exemplar disso tudo.
O "anjo da morte" deixou Auschwitz em janeiro de 45 e, não obstante
fugir para nossos trópicos, manteve
contatos com sua família, cuja indústria, segundo testemunho do escritor
H.M. Enzensberger, continuava, nos
anos 90, a existir sob o mesmo nome.
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