São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2004

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Uma síntese da eugenia e do anti-semitismo

NELSON ASCHER
COLUNISTA DA FOLHA

Terminada a Primeira Guerra Mundial (1914-18), militares desmobilizados criaram, na Alemanha recém-derrotada, grupos de extrema direita que tinham em comum o revanchismo, o nacionalismo radical e o anti-semitismo.
Em 1919, o Exército alemão encarregou Adolf Hitler de espionar um desses grupos, o Partido dos Trabalhadores Alemães. Aderindo à organização, rebatizada de Partido Nazista (Partido Nacional Socialista do Trabalhador Alemão), tornou-se seu líder e, ao chegar ao poder em 1933, iniciou a reconstrução do poder bélico do país e a reorganização da sociedade. A hierarquia das raças e a eugenia estavam entre suas doutrinas centrais.
Os judeus, embora fossem menos de 1% da população alemã, eram considerados seu grande inimigo racial, e os nazistas se empenharam em resolver o "problema" confiscando-lhes os direitos e as propriedades, boicotando seus negócios, banindo-os de várias profissões e demonizando-os através da propaganda. Se o objetivo original era expulsá-los do país, a ocupação da Áustria, da Checoslováquia e a eclosão da Segunda Guerra, iniciada com a conquista da Polônia, onde vivia a maior comunidade judaica do continente (3 milhões), inviabilizaram essa solução. Os judeus foram encerrados em guetos enquanto os nazistas discutiam o que fazer com eles.
Como, com o ataque à União Soviética (1941), mais judeus foram capturados, o Terceiro Reich acionou grupos móveis para exterminá-los. Se bem que centenas de milhares tenham sido executados, o processo era oneroso e demorado. Para levar a cabo a "solução final", a erradicação dos judeus, os nazistas construíram, na Polônia, seis campos de extermínio: Auschwitz-Birkenau, Belzec, Chelmno, Majdanek, Sobibor e Treblinka.
Cerca de seis milhões de judeus foram mortos entre 1939 e 45, talvez um terço em Auschwitz. Foi lá que Mengele se instalou, em 1943, como um de seus mais altos oficiais. Sua tarefa era separar prisioneiros aptos a trabalhar como escravos dos que seriam mandados às câmaras de gás. Médico, filho de um fabricante de máquinas agrícolas, seu "hobby" era realizar experiências com cobaias humanas.
O Holocausto nascera tanto do anti-semitismo quanto da eugenia que, popularíssima então entre os médicos (uma das categorias mais nazificadas), dera origem, na Alemanha dos anos 30, a um "programa de eutanásia" que consistia na eliminação de gente física ou mentalmente incapacitada. As atividades de Mengele foram a síntese exemplar disso tudo.
O "anjo da morte" deixou Auschwitz em janeiro de 45 e, não obstante fugir para nossos trópicos, manteve contatos com sua família, cuja indústria, segundo testemunho do escritor H.M. Enzensberger, continuava, nos anos 90, a existir sob o mesmo nome.


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