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Romance dos mais influentes, "Os Três Mosqueteiros" ganha nova tradução
Dumas renasce das cinzas da história
MARCOS FLAMÍNIO PERES
EDITOR DO MAIS!
Romance histórico, de capa-e-espada, de folhetim ou de aventuras, "Os Três Mosqueteiros"
(1844), de Alexandre Dumas, é
uma das obras mais influentes da
história da literatura -embora,
em muitos casos, as narrativas que
se lhe seguiram tenham se constituído contra ela, como em Flaubert
e Machado de Assis, e não apenas
em seu favor, como em José de
Alencar e no best-seller contemporâneo Arturo Pérez-Reverte.
A história dos mosqueteiros do
rei Athos, Porthos e Aramis -que
logo no início da trama passam a
contar com a companhia do jovem
e destemido D'Artagnan para salvar a honra da rainha das maquinações do cardeal de Richelieu e
sua agente, a temível e sedutora
Milady- foi atacada pela crítica
justamente por agregar em uma só
narrativa os, então, piores gêneros
possíveis -todos de apelo popular
e mirando o gosto do público médio que se formava então por meio
da leitura dos jornais.
De fato, Dumas escreveu o romance ajudado por Auguste Maquet, uma das peças-chave de sua
"linha de produção". Como recebia por página escrita, ele certa vez
chegou a apresentar a seu editor
um romance escrito em diálogos
monossilábicos, mas este, dando-se conta da artimanha, passou a remunerá-lo pela quantidade de palavras. Foi um dos primeiros escritores a enriquecer com seu trabalho -e sem se envergonhar disso.
Como folhetim, suas melhores
realizações deram consistência a
um gênero que sempre tendeu a se
dispersar em uma infinidade de
histórias paralelas que se perdiam
no meio do caminho -como no
clássico "Os Mistérios de Paris", de
Eugène Sue. Por outro lado, ele imprimiu dinamismo aos estáticos
romances históricos do escocês
Walter Scott (1771-1832).
Dumas tinha claro que estava lidando com gêneros e públicos
"convencionais", ligados à classe
média em ascensão. Mas a amplitude e a força de sua obra vêm justamente de saber usar a convenção
em proveito de sua obra.
A começar do próprio título: os
três mosqueteiros são, na verdade,
quatro, e é justamente por meio do
quarto deles -D'Artagnan, que
nem sequer figura no título- que
o enredo avança. Nesse sentido, a
divisa que tornou esses superamigos tão famosos lança luz sobre a
complexa estrutura deste romance: "Todos por um, um por todos".
Os cortes precisos dos capítulos,
derivados da experiência dramatúrgica de seu autor e adaptada ao
formato jornal, já foram comparados à decupagem cinematográfica.
Nas poucas zonas de repouso
que o romance concede ao leitor
esbaforido, avulta o passado misterioso e amargo dos três experientes espadachins, uma memória sinistra que remete à novela gótica
de fins do século 18.
Contudo, de modo mais complexo que este último gênero, "Os
Três Mosqueteiros" -que sai agora em tradução do proustiano Fernando Py- reúne os fios da memória desses heróis em um final
surpreendente, que levou um escritor francês a descrevê-lo como
"o mais belo livro sobre o tempo
que se esvai" (Patrick Rambaud).
Hoje o status de Dumas mudou:
seus restos mortais foram transferidos para o Panthéon em 2002,
suas obras fazem parte da prestigiosa coleção "Pléiade" há algum
tempo, e prepara-se mais uma filmagem de "Os Três Mosqueteiros", com a participação da "bela
intrigante" Emmanuelle Béart. Caso raro, a crítica tem cedido ao público e procurado resgatar Dumas
das cinzas -onde seus leitores, de
resto, nunca o lançaram.
Os Três Mosqueteiros
628 páginas, R$ 54,90
de Alexandre Dumas. Tradução de
Fernando Py. Ed. Ediouro (r. Nova
Jerusalém, 345, Bonsucesso, CEP
21042-230, Rio de Janeiro, RJ, tel.
0/xx/21/ 3882-8200).
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