São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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MARCOS SISCAR

O autor
A hierarquia poderia ter interesse se ajudasse a discutir seriamente as visões de cultura e de literatura que dois grandes escritores brasileiros suscitam para um leitor contemporâneo, com o risco sempre iminente de reeditar a velha "Guerra dos Cem Anos" da própria crítica, mais ou menos preocupada em acertar o "alvo" (como dizia Sartre).
No fundo, desconfio que a pergunta não ofenderia nenhuma das partes envolvidas, uma vez que mantém aquilo que há de compartilhado entre todos, que é o balanço convencional do panteão literário brasileiro dos séculos 19 e 20.
Eu preferiria dizer que Machado e Guimarães são casos especialmente marcantes daquilo que a literatura oferece para resistir à já antiga demanda de homogeneização cultural de nossas sociedades democráticas -que, apesar disso, são os espaços onde essa literatura continua sendo possível.

A obra
Para não perder o aspecto lúdico da enquete, evoco a experiência pessoal: uma das obras cuja leitura mais me mobilizou foi "Grande Sertão: Veredas".
No momento da descoberta, eu já tinha lido outros textos de Guimarães muito relevantes para o poeta iniciante que eu era, e uma das surpresas do enredo do livro já estava definitivamente proibida pela celebridade do romance. Mas a experiência me marcou profundamente pelo modo como o texto suscita estranhezas inusitadas dentro de uma situação de língua e de cultura muito familiar, pelo modo como alterna a acumulação e o deslocamento do conhecimento prático.
Certamente, algo desse impacto provém da amplitude e do acabamento admiráveis do projeto, num século que foi tão insatisfeito com seus épicos quanto sedento por eles.


MARCOS SISCAR leciona literatura na Universidade Estadual Paulista (São José do Rio Preto) e é autor de "O Roubo do Silêncio" (7 Letras).


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