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+ comportamento
O não essencial
Psiquiatra critica a fragilidade e a ausência dos pais na educação dos filhos adolescentes
MARTINE LARONCHE
Os pais estão desorientados e têm dificuldade crescente para assumir
seu papel diante
dos filhos adolescentes. Eles
não se sentem mais autorizados a lhes impor limites, sob o
risco de ver os filhos se afundarem, às vezes colocando em perigo seu futuro ou sua vida.
Como a mãe que deixa a filha
anoréxica definhar porque
prometeu que não a internaria
no hospital. Como o pai que
não ousa obrigar o filho, que
mata aulas e se droga, a consultar um psicólogo.
O que falta aqui não é amor,
mas legitimidade para manter
seu papel de educador, para dizer "não" quando consideramos necessário.
Essa problemática é o fio
condutor do livro de Philippe
Jeammet, "Pour Nos Ados, Soyons Adultes" (Por Nossos
Adolescentes, Sejamos Adultos, ed. Odile Jacob, 314 págs.,
22,50, R$ 60), que dirigiu o
serviço de psiquiatria do adolescente e do jovem no Instituto Montsouris, em Paris.
O livro é pontuado de exemplos de jovens sofredores, cujos
pais não tiveram coragem de
detê-los em seus devaneios.
Como se chegou a isso? A capacidade dos adultos de afirmar
sua autoridade se erodiu nos últimos 15 anos, enquanto o "educativo era desqualificado pelo
psicológico", reflete o psiquiatra e psicanalista.
A autoridade foi comparada a
um "abuso de poder", como se
bastasse amar os filhos para que
eles se desenvolvessem. Os psicoterapeutas, que se recusavam
a receber jovens contra sua
vontade, deram crédito à idéia
de que não se deve impor nada.
Para Philippe Jeammet, tal
atitude se assemelha a um
abandono. Estar mal é um apelo. Após 40 anos de prática, o
psiquiatra considera que os
pais têm o dever de fazer o bem
a seus filhos, mesmo contra a
vontade destes.
"É preciso ter sido testemunha desse renascimento possível, às vezes depois de 15 anos
de trabalho duro, para lamentar a vida inteira não ter conseguido ou sabido como impedir
que outros morressem ou estragassem sua vida com comportamentos que não haviam
escolhido", escreve.
Retomar a distância
Para ajudar os pais a retomar
seu papel de educadores, ele os
orienta em meio às necessidades paradoxais dos adolescentes, decifrando seus comportamentos patológicos que também são sinais de alerta.
A adolescência é uma transição tumultuada, em que os sentimentos em relação aos adultos nunca foram tão contraditórios. É a idade em que o corpo
se transforma, em que as ligações se "sexualizam".
Uma proximidade excessiva
com os pais é vivida como perigosa, potencialmente incestuosa. O jovem deve retomar sua
distância, o que implica provar
sua capacidade de levar o barco
sozinho, contando apenas com
seus próprios recursos. "É uma
necessidade, um prazer, mas
também um risco e um medo"
que tornam esse período da
adolescência "fundamentalmente desconfortável", diz.
A maioria dos jovens passa
por essa fase sem dificuldades,
mas outros, mais frágeis, vacilam. Se o adolescente duvida e
não tem os recursos necessários para seguir adiante, vai
procurar nos adultos a confiança e as bases que lhe faltam. E,
quanto mais forte for essa necessidade de ajuda, menos o jovem a suportará. Esse paradoxo torna a intervenção e o apoio
dos pais ainda mais difíceis.
A diferença de geração confere aos adultos um papel educativo e exemplar. Cabe a eles assumir esse papel de "portadores de esperança". Renunciar a
isso significa abandonar seu filho "à tirania de suas necessidades e de suas contradições, sem
referência externa que lhe permita controlá-las".
Ao fechar o livro de Jeammet, nos perguntamos se os
mais frágeis são os adolescentes que sofrem ou seus pais.
A íntegra deste texto saiu no "Le Monde".
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.
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