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Cinema
Tinta no filme
Obra do artista plástico Rodrigo Andrade é uma comédia carregada de influências
da pintura
JULIANA MONACHESI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um filme de Rodrigo
Andrade estréia
nesta semana em
São Paulo. Sim, ele
mesmo, o artista
que despontou com a Geração
80 e, dentre os integrantes do
grupo Casa 7, foi o único que se
manteve fiel à pintura até hoje.
Sua militância na pintura
termina com o curta-metragem "Uma Noite no Escritório", que tem pré-estréia em
sessão da meia-noite nesta
quinta-feira no Espaço Unibanco de Cinema.
A rua Augusta é o lugar ideal
para lançar "Uma Noite no Escritório" tanto por ter sido um
dos primeiros lugares da cidade a concentrar charmosas e
cobiçadas lojas de luxo, nos
idos de 1950, quanto pela decadência algo glamourosa da deterioração em boca do lixo.
A produção se passa nos anos
1930 e, além dos elementos de
filme de época, tem clara influência da tradição da pornochanchada brasileira, do cinema fantástico e do filme noir.
As referências à pintura, como não poderia deixar de ser,
marcam todo o enredo do filme, que foi co-dirigido pelo artista e cineasta Wagner Morales. As referências vão de uma
pintura de Edward Hopper
(1882-1967) de 1940 às instalações de massas de tinta diretamente sobre a parede que Andrade iniciou com a exposição
"Lanches Alvorada" (2001) e,
alguns anos depois, realizou no
Projeto Parede, do Museu de
Arte Moderna, em São Paulo e,
mais recentemente, na Caixa
Cultural, no centro da cidade.
O escritório
"Paredes da Caixa", exposição que aconteceu no segundo
semestre de 2006 no museu da
Caixa Econômica Federal, é o
cenário do curta-metragem.
As intervenções pictóricas
nas salas do museu, que tem os
ambientes austeros com móveis art déco mantidos como
eram em 1939, ano da inauguração do prédio na praça da Sé,
foram o mote para o argumento
central do filme: entre funcionários imersos no contexto burocrático de seus afazeres, por
um lado, e na retórica progressista do Estado Novo, por outro, um diretor do banco começa a sofrer alucinações.
O nome do diretor acometido de uma estranha moléstia
nervosa que o faz enxergar formas geométricas coloridas no
espaço é sr. Wilson, interpretado por Rodrigo Andrade, "disfarçado" por um respeitável bigode e uma tintura acaju no cabelo engomado.
As alucinações são as próprias pinturas que Andrade
instalou nas salas da Caixa Cultural, acrescidas de pequenas
instalações pictóricas "em movimento", como os dois retângulos -um vermelho e outro
amarelo- cuidadosamente
distribuídos na parte traseira
do justíssimo vestido de cetim
azul da secretária do sr. Wilson,
Clotilde, interpretada pela atriz
pornô Morgana Dark.
O crítico de arte Alberto Tassinari, que interpreta o chefe de
Wilson, sr. William; o artista
Wagner Malta Tavares, em impagável interpretação do alucinado doutor Pirajá, que trata da
moléstia nervosa do sr. Wilson;
e o também artista Marcos
Brias, que faz o papel de contínuo no escritório e que é o primeiro a encarnar uma alucinação do personagem principal,
ao ostentar quadradinhos coloridos na testa, completam a trama metalingüística do filme
"Uma Noite no Escritório".
Mais do que um militante da
pintura, Rodrigo Andrade é um
militante da crise contínua e
inescapável da reflexão crítica
sobre o estado da arte contemporânea em nossos dias, o que
este filme vem comprovar.
O trabalho traz de lambuja
um comentário atualíssimo sobre o pensamento pictórico e
sobre o circuito de arte em São
Paulo, uma atualização dos modelos cinematográficos e culturais brasileiros e mais importante uma oportunidade para
rolar de rir durante 20 minutos. Quinta-feira, meia-noite,
na sala 3 do Espaço Unibanco.
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