São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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"Emoções podem ser incompatíveis"

Um dos primeiros a lançar mão da lei nø 6.515, Gustavo Korte acha que as relações monogâmicas são mais sólidas atualmente

MARIANA TAMARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A lei do divórcio, sancionada há quase 30 anos, foi uma enorme conquista da sociedade brasileira.
Com ela ampliaram-se as liberdades individuais na sociedade contemporânea e disseminaram-se as relações amorosas mais sólidas e sinceras, evidenciando uma conquista do que, na década de 1970, parecia ser a desordem social.
É assim que Gustavo Korte, 69, especialista em direito civil, descreve a importância da lei.
Ele foi de um dos primeiros casais a se divorciar no Brasil. No dia seguinte àquele em que entrou em vigor a norma que regula os casos de dissolução da sociedade conjugal e do casamento, Korte e sua então mulher, Glória Manzon, hoje com 67 anos, oficializaram uma separação que, efetivamente, já havia ocorrido nove anos antes, quando houve o desquite do casal.
Ele conta o que mudou em sua vida desde então.

 

FOLHA - Como ocorreu a separação?
GUSTAVO KORTE -
Quando nos casamos, em 1958, eu tinha 20 anos e Glória, 18. Tivemos que pedir o consentimento dos pais dela, pois estávamos muito apaixonados. Mas paixões são formadas de emoções e sentimentos, e há momentos em que eles se tornam conflitantes e incompatíveis. Quando nos separamos, em 1968, havia o consenso de que, ainda que tivéssemos muito amor um pelo outro, a relação era impossível.
Quando percebemos isso, decidimos nos desquitar e procuramos tratamento psicológico para nossos filhos. Eu só saí de casa quando a psicóloga disse que era o momento.

FOLHA - E o sr. se casou de novo?
KORTE -
Sim, sou hoje casado há quase 30 anos com minha atual mulher, Elisabeth. Temos cinco filhos. No total, tenho 12 filhos e 30 netos.
Eu a conheci mais ou menos em 1960, antes de me desquitar, mas nunca tivemos nada. Só fomos assumir nosso amor em 1969, depois de eu me desquitar.

FOLHA - E a família dela aceitou tranqüilamente o fato de o sr. ser desquitado?
KORTE -
Na época foi muito difícil, pois a família de minha segunda mulher é muito tradicional, descendentes de italianos, rigorosos. Eles não receberam bem o fato de ela estar com um homem que já tinha sete filhos, principalmente porque não poderia haver casamento.

FOLHA - Como o sr. vê a importância social do divórcio?
KORTE -
Essa lei, na minha opinião, foi uma conquista da sociedade brasileira. As relações monogâmicas, por força das liberdades que a sociedade contemporânea criou, me parecem hoje muito mais sinceras e sólidas do que aquelas do tempo anterior ao divórcio.
Atualmente, a possibilidade que existe de você amar quem você quiser e de sair com quem você quiser dá espaço para que possamos eleger uma pessoa com mais clareza e, com essa pessoa, dar continuidade à vida em comum.

FOLHA - E como o sr. vê a possibilidade que os casais de hoje têm de se divorciar com tanta agilidade nos cartórios (dependendo da situação, é possível divorciar-se no mesmo dia)?
KORTE -
Acho muito positivo, pois, se os processos acontecessem de forma mais agilizada, muitos conflitos poderiam ser evitados e as famílias poderiam manter-se mais unidas, e as relações, mais saudáveis.
Eu tenho uma ótima relação com minha ex-mulher, o que tenho que atribuir a ela e à minha atual mulher. Mas, quando o casal começa a se atritar, é um problema.
Se você não tem mais ânimo para levar adiante uma sociedade conjugal, para que prorrogar os problemas e tornar as coisas cada vez piores?
Por isso a rapidez para resolver as coisas, nesse caso, ajuda muito. Os atritos podem tornar a vida insuportável.


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