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+ livros
Em "Brás
Cubas em Três Versões",
Alfredo Bosi
volta a estudar
a obra
de Machado
de Assis
O eterno retorno
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
A
produção de Machado de Assis se
tornou, nos últimos
anos, um dos temas
centrais de Alfredo
Bosi, como atestam seus cursos
de pós-graduação na USP, o volume dedicado ao autor da série "Folha Explica" (2003) e os
livros "O Enigma do Olhar"
(Ática, 1999) e este "Brás Cubas
em Três Versões". Nele, o crítico reúne três ensaios: o que dá
título à obra, "O Teatro Político
nas Crônicas de Machado de
Assis" e "Raymundo Faoro Leitor de Machado".
No inicial, estuda como três
diferentes linhagens explicaram o "bizarro narrador" do romance em que o escritor começa a utilizar o foco narrativo em
primeira pessoa, associando a
presença "física" do protagonista nos acontecimentos que
descreve ao fato "sui generis"
de que quem ali contava a própria história era um "defunto
autor": 1) A versão "construtiva", que destaca a ligação do
texto com a tradição da sátira-menipéia e seus jogos intertextuais; 2) a versão "expressiva",
na qual sobressai a preocupação com o humor machadiano,
"misto de galhofa e melancolia", sua compreensão do "barro humano" e seus vínculos
com a tradição dos moralistas;
e 3) a versão "mimética", cujo
propósito é compreender a representação dos tipos sociais e
desnudar na ficção a estrutura
da sociedade brasileira no século 19.
Ainda que defenda que a interpretação só adquire "força e
pleno sentido" quando os caminhos são relacionados, o autor não esconde como julga especialmente relevante o segundo deles, percepção que os dois
ensaios seguintes comprova.
Visada satírica
Em "O Teatro Político nas
Crônicas de Machado de Assis", Bosi analisa várias peças
jornalísticas do escritor para
demarcar os limites da visada
satírica e a preponderância de
seu moralismo cético: "A política reforça, como instrumento
global que é, as tendências defensivas e agressivas de cada indivíduo que entra no seu palco.
Como construir uma república
equitativa a partir de indivíduos centrados em seus interesses próprios?".
Já em "Raymundo Faoro
Leitor de Machado", sublinha o
valor de "A Pirâmide e o Trapézio", apontando como o cientista político conseguiu, em sua
investigação, aliar a análise tipológica a uma outra dimensão: "A compreensão do nexo
escritor-sociedade vista do lado
do olhar, e não do puro quadro
empírico; vista do lado da reflexão, e não do puro reflexo".
Como se percebe pela citação
acima, ao mesmo tempo em
que ressalta a aplicação de um
ponto de vista sociológico à
obra de Machado de Assis, Bosi
também dá seguimento, neste
livro, a uma antiga e importante polêmica que mantém com o
principal representante dessa
corrente, Roberto Schwarz
-com ênfase, neste caso, na validade de pensar o Brasil do século 19 a partir de suas "idéias
fora do lugar".
Vale a pena notar, por fim,
que, das três linhagens muito
resumidamente apresentadas
no espaço limitado desta resenha, os ensaios acabam se detendo com mais atenção nas
duas últimas, na disputa "Machado nacional" x "Machado
universal", deixando um pouco
de lado a primeira, supostamente "formalista", que foge da
questão e tem recentemente,
com o instrumental de uma série de teorias da narrativa, ampliado de modo significativo a
compreensão dos romances e
contos do criador de "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e
"Dom Casmurro".
Adriano Schwartz é professor de literatura na
Escola de Artes, Ciências e Humanidades da
USP e autor de "O Abismo Invertido - Pessoa,
Borges e A Inquietude do Romance em "O Ano
da Morte de Ricardo Reis"" (editora Globo).
BRÁS CUBAS
EM TRÊS VERSÕES
Autor: Alfredo Bosi
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 33,50 (144 págs.)
NA INTERNET - Leia trecho
www.folha.com.br/061734
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