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"A Camorra não é um primo pobre da máfia"
DO "EL PAÍS"
Tomamos um café
napolitano, delicioso, e vamos rapidamente conhecer um
dos melhores amigos de Saviano: o general
Gaetano Maruccia, homem
afável, culto e cortês.
PERGUNTA - Por que o livro de Saviano foi tão importante?
GAETANO MARUCCIA - Porque
chamou a atenção do grande
público para a Camorra e tornou mais compreensível seu
potencial criminal.
Antes as pessoas pensavam
que eram meros gângsteres
urbanos, e não criminosos organizados, como a Cosa Nostra [na Sicília] ou a Ndrangheta [na Calábria]. Pareciam os
parentes pobres das máfias, e
não é verdade.
São um poder armado e horizontal, com diversas estruturas e uma hierarquia pouco
clara, composta de grupos autônomos, que às vezes se enfrentam entre si.
E em vários níveis. Os pequenos bandos locais, que vivem sobretudo da extorsão de
dinheiro para "proteção" e do
tráfico local de drogas, são
responsáveis pelo gangsterismo urbano e, às vezes, trabalham para quadrilhas que não
ficam a dever em nada às "endrine" calabresas ou às "famílias" sicilianas.
PERGUNTA - O sr. teme pela vida
de Saviano?
MARUCCIA - O dispositivo é
adequado ao nível de risco.
Obviamente, é preciso manter a guarda alta sempre e agir
com extrema prudência.
PERGUNTA - O sr. já o conhece faz
anos. Poderia defini-lo em poucas
linhas?
MARUCCIA - Isso não se pergunta a um amigo, e menos
ainda se ele está à sua frente.
É um jovem brilhante, inteligentíssimo, sabe manejar as
informações com enorme visão, analisando o presente e
prevendo o futuro.
Seu grande talento para escrever lhe permitiu fazer esse
livro, baseado no estudo analítico do fenômeno e em seu
grande conhecimento do terreno. Sabe enxergar coisas
que escapam a outros.
PERGUNTA - Saviano vai acabar
se exilando?
MARUCCIA - Acredito que suas
declarações sobre uma possível mudança ao exterior foram apenas um momento de
desmoralização de um jovem
que se viu de repente no centro da fama e de uma rede
muito complexa de responsabilidades e tarefas.
Se isso acontecesse, não seria coerente com sua forma
de ser, nem com sua mensagem de compromisso social.
Mas, conhecendo-o, estou
certo de que isso não vai
acontecer.
PERGUNTA - Vocês vão vencer esta guerra?
MARUCCIA - Estou convencido
disso, não lutamos sozinhos.
Não existem tempos; é uma
batalha diária.
É preciso, essencialmente,
reforçar as intervenções sociais, dar oportunidades para
que se possa sair do circuito
criminal perverso.
Com repressão, apenas,
não iremos a lugar algum.
Precisamos de todos os recursos -cultura, trabalho, educação, paciência e tempo, escritores, jornalistas. Trata-se
de erradicar a violência como
conceito de vida.
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