São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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A nova cidade luz

Ícone do mundo editorial alemão, a Suhrkamp troca Frankfurt por Berlim e divide o mundo cultural do país

LORRAINE ROSSIGNOL

Será que Berlim, que brilha cada vez mais no cenário internacional, irá absorver agora o mundo literário da outra margem do Reno, depois de já ter feito o mesmo com a arte e a música? A imprensa alemã se faz essa pergunta desde que a editora Suhrkamp, instalada em Frankfurt desde sua criação, em 1950, oficializou sua transferência para a capital até 2010.
Porém 80% dos colaboradores da editora, incluindo seus acionistas mais importantes, discordaram da mudança. Mas de nada adiantaram suas opiniões: as malas começarão a ser feitas em pouco tempo.
Para Ulla Unseld-Berkéwicz, viúva de Siegfried Unseld (o sucessor de Peter Suhrkamp, morto em outubro de 2002), não há o que discutir.
"Hoje é Berlim que assume o lugar de laboratório. A Suhrkamp precisa estar em Berlim, portanto", disse a diretora da casa que sempre se distinguiu pela posição de vanguarda, pelo talento para atrair os maiores escritores e pelo interesse pela literatura estrangeira.
E Unseld-Berkéwicz ainda cita seu marido morto: "Aquilo que Berlim talvez ainda não seja hoje, ela vai se tornar: o centro nevrálgico e decisório da cultura alemã".

Volta dos anos dourados
Frankfurt -que, como centro financeiro, não possui os encantos boêmios de Berlim, mas se orgulha de abrigar a maior feira de livros do mundo- fez de tudo para conservar seu maior nome literário.
Devido às dificuldades econômicas enfrentadas pela Suhrkamp há vários anos, a cidade chegou a doar um novo prédio para sua sede. Em vão.
Essa decisão unilateral corre o risco de não aliviar a imagem de autoritária conquistada por Unseld-Berkéwicz desde que assumiu as rédeas da Suhrkamp, em 2003, em meio a um clima de luta pelo poder.
Enquanto vários colaboradores (como o escritor Martin Walser ou o influente crítico Marcel Reich-Ranicki) já abandonaram o barco da Suhrkamp nos últimos anos, agora foi o escritor suíço Adolf Muschg que resolveu fazer o mesmo.
Só Berlim não esconde sua alegria e seu orgulho. A chegada da Suhrkamp irá assinalar a volta dos "anos dourados" (os anos 1920), quando a capital alemã irradiava sua luz para toda a Europa? É a esperança que nutrem os berlinenses na esteira da queda do Muro.
Vinte anos depois desse marco, "a cidade hoje está pronta para voltar a ser a grande metrópole alemã da edição que foi no passado", assegura o ministro da Economia da cidade-Estado, Harald Wolf.
Quase 200 editoras já teriam se instalado às margens do rio Spree. "E isso é apenas o começo", garante o prefeito da cidade, Klaus Wowereit.


A íntegra deste texto saiu no jornal "Le Monde". Tradução de Clara Allain .


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