São Paulo, domingo, 27 de maio de 2007 |
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+ Cinema De volta ao cinema mudo
O diretor Eric Rohmer fala de seu romance "A Casa de Elisabeth", escrito há 61 anos e só agora reeditado PERGUNTA - O senhor publicou "Elisabeth" em 1946. Esse primeiro romance, que jamais seria seguido de outro, permaneceu esgotado desde então. Por que só hoje ele é reeditado, sob o título ligeiramente diferente de "A Casa de Elisabeth"? ERIC ROHMER - Eu tinha perdido o último exemplar que me restava e não o havia relido desde sua publicação. Há alguns anos me perguntaram se eu queria que o livro fosse reeditado. Eu respondi que não. Preferia que o fosse postumamente. Aconteceu que um alemão me perguntou se eu concordaria que ele fosse traduzido na Alemanha. Era uma idéia engraçada. Assim, ele foi editado lá e depois na Itália. Então eu me disse: "Por que não na França?". Para mim, meus filmes não pareciam ter mais qualquer relação com esse romance. No entanto, quando o reli, achei que havia relações. Posso dizer modestamente que o romance não é tão ruim. Há situações que se parecem com as dos meus filmes e que em certos trechos não são inferiores aos meus filmes. Pelo menos foi o que pensei. De todo modo, eu não gostava do título original, "Elisabeth". Então procurei durante muito tempo. O tema do romance não é a visão de uma mulher e também não é a casa. É tudo o que acontece nessa casa. PERGUNTA - A geração de cineastas da nouvelle vague queria escrever romances. A grande ambição de Godard, por exemplo, era ter um romance publicado pela Nouvelle Revue Française. PERGUNTA - Por que o sr. não persistiu no caminho da escrita? PERGUNTA - No prefácio de "Seis Contos Morais", publicados em 1974, o sr. escreveu de maneira muito severa: "A idéia desses contos me ocorreu em uma idade em que eu ainda não sabia se seria cineasta. Se fiz filmes, é porque não consegui escrevê-los". Devemos compreender que a escrita dos "Contos Morais" foi, segundo o sr., um fracasso? PERGUNTA - Em uma entrevista em 1983, o sr. explicou: "Creio que existe no mundo algo diferente do cinema, e que o cinema, ao contrário, se alimenta das coisas que existem ao seu redor. O cinema é de fato a arte que menos pode alimentar-se de si mesma. Para outras artes, certamente é menos perigoso". Nessa época, o sr. já percebia a erosão do elo entre cinema e literatura?
A íntegra deste texto saiu no "Le Monde". Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves. ONDE ENCOMENDAR - "La Maison d"Elisabeth" (ed. Gallimard, 17 euros, R$ 44,90) pode ser encomendado no site http://www.alapage.com Texto Anterior: Mídia a 7 Chávez Próximo Texto: Palcos nômades Índice |
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