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O líder que
a economia enterrou
Mao Tse-tung e suas ideias vão aos poucos sendo "apagados" da história
da China
DE PEQUIM
A foto de Mao Tse-tung
está espalhada em outdoors, pontos de ônibus
e cartazes por Pequim para o
lançamento do filme "A Fundação da República", superprodução chinesa que conta como
os comunistas chegaram ao
poder.
Para evitar qualquer concorrência, a distribuição de filmes
do país (que é monopólio estatal) não deixou nenhum filme
de Hollywood em cartaz. Milhares de ingressos foram distribuídos gratuitamente. Ainda
assim, é um dos raros momentos em que Mao Tse-tung recupera protagonismo na China da
última década.
Em 2006, a imprensa estatal
praticamente ignorou os 30
anos de sua morte. Mao Tse-tung e o comunismo ficaram de
fora da cerimônia de abertura
da Olimpíada de Pequim, que
enfatizou a história imperial
chinesa.
Mao ainda tem sua face impressa em todas as cédulas de
yuan (chamado de renminbi,
"moeda do povo") e seu retrato
ainda emoldura a entrada da
Cidade Proibida, no centro de
Pequim. Mas até o retrato vem
perdendo centímetros, ano
após ano.
"Discretamente e prudentemente, há uma desmaoização
da China", diz o escritor e jornalista italiano Francesco Sisci,
há 20 anos em Pequim. "Uma
biografia crítica de Mao, escrita
por Ross Terrill, foi traduzida e
publicada recentemente pela
editora da Universidade do Povo, que é estatal."
Seu sucessor, e rival no PCC,
Deng Xiaoping, é mais citado
atualmente pela mídia do governo, que repete algumas de
suas tiradas, como "enriquecer
é glorioso" e "não interessa se o
gato é preto ou branco, contanto que pegue o rato", ou o termo "socialismo com características chinesas", quando começou a abrir a economia.
Criticado na escola
O encolhimento de Mao também acontece nos livros escolares. Alunos do equivalente à oitava série (entre 13 e 14 anos de
idade) leem livros de história
sobre a China contemporânea
que só enfatizam o período
compreendido entre a primeira
Guerra do Ópio (1839-42) e a
fundação da República Popular
(1949).
No equivalente ao ensino
médio, história se torna uma
disciplina opcional, com ênfase
em história mundial. No livro
didático "Revisão e Comentários sobre Figuras Históricas
Chinesas e Internacionais",
Mao merece destaque em cinco
das 106 páginas. Ainda assim,
três de suas mais famosas campanhas políticas são criticadas.
O movimento contra direitistas é considerado "errôneo"
pelo livro, que diz que o Grande
Salto para a Frente "usou números falsos para inflar o resultado de colheitas" e que a Revolução Cultural "trouxe grandes
perdas ao partido e à nação".
Como em várias outras áreas,
a divisão entre a China urbana
e a rural é grande quanto ao culto a Mao. Entre os camponeses,
ainda é comum ter fotos já descoloridas de Mao na sala, reverenciado como um símbolo religioso e até como amuleto.
Oficialmente o partido não o
demoniza e diz que seu legado
foi "70% positivo, 30% negativo". Após sua morte, em 1976,
sua mulher e três de seus principais assessores foram presos
e condenados à prisão perpétua. Seu candidato a sucessor
foi colocado de lado pelo reabilitado Deng Xiaoping.
"Para alguns setores do Partido, Mao ainda é estudado extensivamente, principalmente
como estrategista militar, e deixam de lado suas tendências
autocráticas e os desastres cometidos", diz o professor Victor
Shih, da Universidade Northwestern.
"Ainda acho que ele será recuperado pelas novas gerações
do partido".
(RJL)
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