São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 2009

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...no Ano-Novo

HUMBERTO WERNECK
ESPECIAL PARA A FOLHA

Já não seria pouco se ao fechar 2009 a gente fechasse também algum mau livro que por(des)ventura nos tenha caído nas mãos, desimpedindo assim a entrada de um ano novo que também literariamente seja feliz.
A exemplo de uma boa ceia, saborosa sem ser pesada, meu cardápio da virada tem o indispensável repeteco das 200 Crônicas Escolhidas de Rubem Braga [Record], munição de primeiríssima de nosso melhor cronista não só para o ano de 2010 como para todos a vir.
Também não dispenso os Cadernos de João [ed. José Olympio], nos quais Aníbal Machado mesclou histórias breves, pequenos poemas e reflexões leves e finas para compor um livro em que -para roubar palavras do próprio autor- está "ventando em cada folha e fazendo sol nas margens".
Ainda sem chance de errar, ponho na mesa Vista do Rio [ed. Cosac Naify], romance recente (2004) e já clássico de Rodrigo Lacerda, de uma delicadeza viril bem pouco encontradiça.
Delicados são também os contos de Iniciantes, do americano Raymond Carver [tradução de Rubens Figueiredo, Cia. das Letras], com destaque para o que dá título ao livro.
Fico, por fim e sempre, com aquele que considero o melhor Drummond, o de Claro Enigma [ed. Record], publicado aos 49 anos (pouco antes de poder anunciar num soneto célebre: "Na curva perigosa dos cinquenta derrapei neste amor").
Desencantado de um engajamento político que deixara rastros em "A Rosa do Povo", aqui está um Drummond um tanto cético, sobretudo maduro e pleno, na aceitação tranquila de que "brote uma ordem outra de seres e coisas não figuradas".
Não deixa de ser uma ótima disposição para entrar num novo ano.


HUMBERTO WERNECK é jornalista e autor de "O Pai dos Burros" (ed. Arquipélago).


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