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...no Ano-Novo
HUMBERTO WERNECK
ESPECIAL PARA A FOLHA
Já não seria pouco se ao fechar 2009 a gente fechasse
também algum mau livro que
por(des)ventura nos tenha caído nas mãos, desimpedindo assim a entrada de um ano novo
que também literariamente seja feliz.
A exemplo de uma boa ceia,
saborosa sem ser pesada, meu
cardápio da virada tem o indispensável repeteco das 200
Crônicas Escolhidas de Rubem Braga [Record], munição
de primeiríssima de nosso melhor cronista não só para o ano
de 2010 como para todos a vir.
Também não dispenso os
Cadernos de João [ed. José
Olympio], nos quais Aníbal
Machado mesclou histórias
breves, pequenos poemas e reflexões leves e finas para compor um livro em que -para
roubar palavras do próprio autor- está "ventando em cada
folha e fazendo sol nas margens".
Ainda sem chance de errar,
ponho na mesa Vista do Rio
[ed. Cosac Naify], romance recente (2004) e já clássico de
Rodrigo Lacerda, de uma delicadeza viril bem pouco encontradiça.
Delicados são também os
contos de Iniciantes, do americano Raymond Carver [tradução de Rubens Figueiredo,
Cia. das Letras], com destaque
para o que dá título ao livro.
Fico, por fim e sempre, com
aquele que considero o melhor
Drummond, o de Claro Enigma [ed. Record], publicado aos
49 anos (pouco antes de poder
anunciar num soneto célebre:
"Na curva perigosa dos cinquenta derrapei neste amor").
Desencantado de um engajamento político que deixara rastros em "A Rosa do Povo", aqui
está um Drummond um tanto
cético, sobretudo maduro e pleno, na aceitação tranquila de
que "brote uma ordem outra de
seres e coisas não figuradas".
Não deixa de ser uma ótima
disposição para entrar num novo ano.
HUMBERTO WERNECK é jornalista e autor de
"O Pai dos Burros" (ed. Arquipélago).
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