São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 2009

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...com cerveja, caipirinha ou água de coco

CLÁUDIO ASSIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Trilogia Suja de Havana
de Pedro Juan Gutiérrez, tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht, ed. Alfaguara
Este livro traz, com muito talento, relatos de uma franqueza que não se usa atualmente. Existem muitas especulações sobre o caráter político ou não dos livros de Gutiérrez, mas acho que o grande lance é a capacidade e a sabedoria de botar a cabeça para fora de sua janela, olhar ao seu redor e estar em sintonia com o momento histórico que sua gente vive.

Melhores Poemas
de Carlos Pena Filho, org. Edilberto Coutinho, ed. Global
É o poeta da cor, da imagem. Cantou as ruas de Recife e Olinda com um lirismo romântico da mais alta qualidade. Meu segundo filme, "Soneto do Desmantelo Blue", é inspirado em sua obra, e começo "Baixio das Bestas" com um poema seu sobre o tempo. Sou um grande amante de sua poesia e lamento seu esquecimento e a não publicação de suas obras.

Meu Último Suspiro
de Luis Buñuel, trad. André Telles, ed. Cosac Naify
Entre muitos livros sobre o cinema e seus autores, esse é sem dúvida o meu preferido. Ajudado por seu roteirista, Jean-Claude Carrière, Buñuel deu um depoimento sobre a vida, a arte e o cinema, marcado pela simplicidade e pela lucidez.
Neste livro, tece uma delicada teia de memória que nos projeta com leveza nos momentos mais importantes para a arte no século 20. É uma autobiografia que ensina muito mais sobre cinema que mil livros de teoria.
O cineasta surge, sobretudo, como um homem de seu tempo, atento, político e conectado com diversas formas de expressão artística.
Hoje vejo que a importância deste livro é cada vez maior para o cinema mundial, pois nos mostra que o cineasta não é simplesmente um imediatista que procura sucesso ou simplesmente agradar o público.
Ele é muito mais um artesão de sentimentos, comprometido com ideias e ideais.

Sempre aos Domingos
de Renato Carneiro Campos, ed. Bagaço
Segundo suas próprias palavras, o jornalista e cronista Renato Carneiro Campos é um homem "preso ao Recife com a resignação de um condenado à prisão perpétua".
Com muito senso crítico e inteligência, narra os principais acontecimentos no Recife entre 1969 e 1977. Traz em si toda a tradição do cronista nordestino de uma forma moderna e divertida.
Rompe com o estereótipo do intelectual de elite ao lançar-se em uma jornada de paixão pela sua cidade e por sua gente.
Seu trabalho nos jornais é uma das faces desse homem que soube transformar a erudição em um bem comum.

Poesia Completa e Prosa
de Vinicius de Moraes, org. Alexei Bueno, ed. Nova Aguilar
Poeta universal, capaz de exprimir da forma mais bela os sentimentos mais tristes. Entre tantos poemas seus, nutro apreço especial por "Mensagem à Poesia".
Meu próximo filme ["Febre do Rato"] é sobre um poeta e sua atitude libertária. O poeta não é somente quem escreve poesia, é também aquele que se extasia, vibra e se emociona com a vida, tem fome e sede de infinito.
Eu persigo a poesia em todos os meus filmes, embora saiba que essa busca nunca acabará, não terá uma conclusão ou um fim provável. Para mim, a poesia é a melhor leitura que existe.


CLÁUDIO ASSIS é cineasta. Dirigiu "Amarelo Manga" e "Baixio das Bestas".


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