São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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DAVID LYNCH
Estados Unidos, 1946


"ÀS VEZES INCORPORO ELEMENTOS ORGÂNICOS A MINHAS TELAS -INSETOS, CARNE- OU QUEIMO OBJETOS E USO MATERIAIS EXTERNOS"

Em filmes como "O Homem Elefante", "Veludo Azul" e "Coração Selvagem", o diretor criou um universo que é violento, macabro e enigmático. O que muitas pessoas não sabem é que Lynch também é um pintor que vem criando há anos um mundo paralelo sobre telas -pinturas que incluem objetos incomuns, materiais queimados e até insetos mortos presos à tinta espessa.


"Existe uma ressonância entre meus filmes e minha pintura -embora o observador esteja em melhor posição que eu para dizer se os temas da morte ou do erotismo se repetem. Em meu caso, esteja na frente de uma câmera ou de uma tela, sou o mesmo.
Quanto mais trabalho, mais sinto essa coerência interna baseada em meu constante relacionamento com minhas idéias. No cinema, utilizam-se vários métodos artísticos. Mas é a mesma tonalidade, a mesma ética que transpira na pintura: um mundo dominado pelo absurdo, a violência e a abstração.
Em geral eu alterno o cinema com a pintura e o resto -mas, sempre que retomo a pintura, eu me surpreendo. Nunca começo do ponto em que parei. Já estou em outro lugar e ainda não sei que lugar é esse.
Às vezes incorporo elementos orgânicos a minhas telas -insetos, carne- ou queimo objetos e uso materiais externos. Minhas pinturas narram acidentes, colisões entre mim, o mundo exterior e meu processo de criação. Um pouco como uma estrada pontilhada de eventos.
Em última instância, a pintura é uma atividade muito pessoal para mim -quase um jardim secreto. Algumas pessoas apreciam meu trabalho, outras não. Afinal, acho que tenho sorte por não precisar ganhar a vida com meus quadros. Nesse sentido, sou muito livre. Raramente mostro meu trabalho -e vendo ainda menos."



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