São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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JAN FABRE
Bélgica, 1958


"UM ARTISTA É SEMPRE UM MÁRTIR; TENHO DESENHADO COM MEU SANGUE HÁ 20 ANOS; NÃO É UM SACRIFÍCIO, É UM ATO DE GENEROSIDADE"

Durante 25 anos, o enfant terrible flamengo Jan Fabre esteve em guerra. "Sou um guerreiro da beleza", diz ele, que trabalhou como escultor, pintor, performer, coreógrafo e dramaturgo. Bisneto de Jean-Henri Fabre (1823-1915), o entomologista mundialmente famoso que foi pioneiro no estudo do comportamento dos insetos, Fabre é embebido de catolicismo e da influência das telas sangrentas de Hieronymus Bosch, e seu trabalho tem a ver com a tentativa de reconciliar o homem e o animal.


"Quem sou eu? Trabalho com o corpo (no teatro, na dança e em performances), com sangue (desenhos), com a luz (filmes), carcaças de insetos (esculturas)... Mas o tempo todo estou tentando reabilitar o vivo em toda a sua crueza, despertar nosso lado animal. Tento localizar pontos de encontro, reconciliação e intersecção entre o animal e o humano.
Não considero meu trabalho violento. O termo "agitador" é freqüentemente usado para me descrever. Mas para mim ele oculta um sentido positivo. Provocar é despertar o espírito. A respiração, o sopro do meu trabalho, é o oposto da violência; é a energia da vida. Respondo em nome da liberdade, não da destruição. Meu trabalho tem mais a ver com aceitar e domar a morte. Vivemos em sociedades que empurraram a morte para o lado. Mas a morte nos mantém despertos. Meu ambiente cotidiano era mais violento quando eu era criança. Eu podia sentir o cheiro de sangue quando passava pelo açougueiro, por exemplo. Hoje não há mais odor...
Um artista é sempre um mártir. Tenho desenhado com meu sangue há 20 anos. Não é um sacrifício; é um ato de generosidade. A beleza ou a arte talvez pudessem nos curar das feridas que nossas guerras internas infligiram a nossos corações. É a fé por meio do desespero. A beleza é como uma borboleta -se você a tocar, ela morre. Por isso só podemos tentar, sem jamais ter êxito."



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