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Pedofilia gráfica
Polêmica lei
contra
abuso infantil
no Reino Unido
pode tornar
ilegais
"Watchmen"
e outras HQs
JEROME TAYLOR
O Parlamento britânico discute um
novo projeto de lei
que pretende tornar crime a posse
de gibis que retratem certas
formas de abuso infantil.
Se o projeto de lei permanecer inalterado, passará a ser ilegal possuir qualquer imagem
de crianças tomando parte em
atividades sexuais ou presentes
durante atividades sexuais.
O Ministério da Justiça britânico afirma que a lei é necessária para reprimir a quantidade crescente de pornografia pedófila em quadrinhos hoje disponível na internet, especialmente vinda do Japão.
Mas os críticos da legislação
dizem que as definições atuais
são tão abrangentes que correm o risco de sufocar a expressão artística mais geral, além
de converter em potenciais infratores sexuais milhares de fãs
de quadrinhos que se pautam
pelas leis.
Uma coleção de livros que
provavelmente será atingida é
"Lost Girls", com roteiro de
Alan Moore. O renomado autor
britânico é o criador de histórias em quadrinhos aclamadas
pela crítica como "Watchmen"
e "V de Vingança" e é visto como um dos melhores escritores
de sua geração.
Trata-se de um romance gráfico erótico que imagina o despertar sexual adolescente de
três famosas personagens de
ficção. No livro, Alice, de "Alice
no País das Maravilhas", Dorothy Gale, de "O Mágico de
Oz", e Wendy Darling, de "Peter Pan", se encontram, quando são mulheres na casa dos 30
anos, e descobrem terem impulsos sexuais fortes.
Algumas páginas dos livros
poderiam cair nas malhas da
nova lei, que atualmente define
como crianças as pessoas com
menos de 18 anos.
Isso é problemático porque
muitas das experiências sexuais das mulheres em "The
Lost Girls" ocorrem no final da
adolescência, quando ainda
não chegaram aos 18.
Aliança contra a lei
Teme-se que até "Watchmen", um dos mais aclamados
romances gráficos, possa correr o risco de ser proibido, pois
um dos principais super-heróis
da história vê sua mãe transando quando ele é criança.
Autores e editoras de quadrinhos -incluindo a filha de Alan
Moore, Leah, ela própria artista
gráfica aclamada- criaram a
Aliança dos Livros de Quadrinhos para assegurar que a legislação seja usada apenas contra
gibis abertamente pedófilos e
pornográficos, e não contra
obras eróticas artísticas.
"Não somos contra nenhuma
legislação que proteja crianças
contra abusos, mas algumas
partes do projeto precisam ser
reformuladas e esclarecidas",
disse um porta-voz da Aliança.
"Essa nova legislação poderia
ser utilizada pela razão errada,
e milhares de pessoas podem
virar criminosas da noite para o
dia", completou.
A campanha ganhou o apoio
de vários autores respeitados
de livros de quadrinhos, entre
eles Bryan Talbot, John Reppion e o britânico Neil Gaiman,
autor de "O Mistério da Estrela
- Stardust" e de "Sandman".
Gaiman escreveu em seu
blog que reprimir a pornografia
em quadrinhos invariavelmente significa que os governos
aprovam leis demasiado abrangentes que sufocam a expressão artística e criminalizam
pessoas inocentes.
Ministério rebate
O Ministério da Justiça rejeita as sugestões de que o setor
britânico de livros de quadrinhos possa ser prejudicado pela lei. Um porta-voz do ministério disse:
"Não é nossa intenção criminalizar a posse de materiais que
não infrinjam a Lei de Publicações Obscenas nem criminalizar o setor do entretenimento
legal, o setor da arte ou as HQs
pornográficas."
O projeto de lei submetido ao
Parlamento no momento segue
de perto o modelo de uma legislação australiana semelhante
que provocou várias polêmicas
desde que foi promulgada.
No início do mês, um australiano foi condenado por posse
de pornografia infantil porque
descarregou, como brincadeira, seis imagens de personagens de "Os Simpsons" fazendo
atos sexuais uns com os outros.
A íntegra deste texto saiu no "Independent".
Tradução de Clara Allain.
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