São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006

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Madame Bovary somos nós

Criado com a ajuda de internautas de 12 países, site disponibiliza os manuscritos do romance clássico de Flaubert

DO "LE MONDE"

Você quer "navegar" por "Madame Bovary", saber tudo sobre os muitos rascunhos de Flaubert, suas rasuras, seus trechos completamente rabiscados e ocasionalmente restabelecidos, suas escolhas definitivas? Isso agora é possível, caso você disponha de um computador, no site www.univ-rouenfr/flaubert .
Mas se tornará uma experiência verdadeiramente feliz pelo final do primeiro semestre de 2007, "quando o site definitivo com que sonhamos estiver pronto", dizem, juntos, Yvan Leclerc e Danielle Girard, dois dos responsáveis pelo projeto.
"Será um site destinado tanto ao grande público quanto aos especialistas, fácil de compreender e utilizar e que não exigirá de seus visitantes computadores superpoderosos ou acesso em banda larga." Tudo começou em 2003, quando a Biblioteca Municipal de Rouen, que abriga os manuscritos de "Madame Bovary", se tornou capaz, ao receber um computador de alto desempenho, de digitalizar todos os manuscritos. A instituição formou uma parceria com a Universidade de Rouen, e Pierre-Yves Cachard, curador de novas tecnologias, projetou a navegação do site, enquanto Yvan Leclerc, professor da Universidade de Rouen, e Danielle Girard organizavam o processo de transcrição.
"Nós nos beneficiamos também das condições de preservação de todo o manuscrito", explicou Leclerc. Flaubert preservava cada página de seus escritos. "O arquivo referente a "Madame Bovary" na Biblioteca Municipal de Rouen estava praticamente completo; a estimativa é de que só faltem 11 pastas de um total de mais de 4.549 pastas referentes a esse romance, o que representa 99,8% do manuscrito integral."

Aventura inesperada
"O início do trabalho pôde ser acelerado porque já havia trabalhos anteriores sobre o mesmo manuscrito", explicou Leclerc. Foi então que se iniciou uma aventura inesperada, para a qual mais de 300 pessoas, de 12 nacionalidades, colaboraram apaixonadamente.
"Nada disso teria sido possível sem a internet, sem a rapidez com a qual os dados podem circular", disse Girard. Ela fala com carinho da "aldeia planetária de bovaristas" reunidos via internet para levar a bom termo a insensata empreitada.
Girard, professora aposentada de segundo grau, desempenhou o papel de "vigia", para garantir a comunicação constante entre os diferentes colaboradores do projeto de transcrição (pelo menos 8.000 mensagens enviadas e recebidas). "As pessoas envolvidas tinham entre 16 e 76 anos, e havia estudantes, muitos professores, mas também médicos, trabalhadores do setor de prospecção de petróleo, blibliotecários, arrumadeiras etc." O projeto, combinação de rigor acadêmico e fervor que cruzou continentes, foi uma feliz conjugação entre trabalho erudito e princípio do prazer, e permitirá a todos os interessados que dêem pleno curso a sua curiosidade sobre Flaubert percorrer todos os caminhos do planeta do escritor, das "leituras de Emma" às cartas de Rouen no período em que estava redigindo o romance, passando pelas expressões locais normandas usadas pelo autor e por muitos outros segredos.


Tradução de Paulo Migliacci.


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