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Madame Bovary somos nós
Criado com a ajuda de internautas de 12 países, site disponibiliza os manuscritos do romance clássico de Flaubert
DO "LE MONDE"
Você quer "navegar"
por "Madame Bovary", saber tudo
sobre os muitos
rascunhos de Flaubert, suas rasuras, seus trechos
completamente rabiscados e
ocasionalmente restabelecidos, suas escolhas definitivas?
Isso agora é possível, caso você disponha de um computador, no site www.univ-rouenfr/flaubert .
Mas se tornará uma experiência verdadeiramente feliz
pelo final do primeiro semestre
de 2007, "quando o site definitivo com que sonhamos estiver
pronto", dizem, juntos, Yvan
Leclerc e Danielle Girard, dois
dos responsáveis pelo projeto.
"Será um site destinado tanto ao grande público quanto
aos especialistas, fácil de compreender e utilizar e que não
exigirá de seus visitantes computadores superpoderosos ou
acesso em banda larga."
Tudo começou em 2003,
quando a Biblioteca Municipal
de Rouen, que abriga os manuscritos de "Madame Bovary", se tornou capaz, ao receber um computador de alto desempenho, de digitalizar todos
os manuscritos. A instituição
formou uma parceria com a
Universidade de Rouen, e Pierre-Yves Cachard, curador de
novas tecnologias, projetou a
navegação do site, enquanto
Yvan Leclerc, professor da
Universidade de Rouen, e Danielle Girard organizavam o
processo de transcrição.
"Nós nos beneficiamos também das condições de preservação de todo o manuscrito",
explicou Leclerc. Flaubert preservava cada página de seus escritos. "O arquivo referente a
"Madame Bovary" na Biblioteca
Municipal de Rouen estava
praticamente completo; a estimativa é de que só faltem 11
pastas de um total de mais de
4.549 pastas referentes a esse
romance, o que representa
99,8% do manuscrito integral."
Aventura inesperada
"O início do trabalho pôde
ser acelerado porque já havia
trabalhos anteriores sobre o
mesmo manuscrito", explicou
Leclerc. Foi então que se iniciou uma aventura inesperada,
para a qual mais de 300 pessoas, de 12 nacionalidades, colaboraram apaixonadamente.
"Nada disso teria sido possível sem a internet, sem a rapidez com a qual os dados podem
circular", disse Girard. Ela fala
com carinho da "aldeia planetária de bovaristas" reunidos
via internet para levar a bom
termo a insensata empreitada.
Girard, professora aposentada de segundo grau, desempenhou o papel de "vigia", para
garantir a comunicação constante entre os diferentes colaboradores do projeto de transcrição (pelo menos 8.000 mensagens enviadas e recebidas).
"As pessoas envolvidas tinham entre 16 e 76 anos, e havia estudantes, muitos professores, mas também médicos,
trabalhadores do setor de prospecção de petróleo, blibliotecários, arrumadeiras etc."
O projeto, combinação de rigor acadêmico e fervor que cruzou continentes, foi uma feliz
conjugação entre trabalho erudito e princípio do prazer, e
permitirá a todos os interessados que dêem pleno curso a sua
curiosidade sobre Flaubert
percorrer todos os caminhos
do planeta do escritor, das "leituras de Emma" às cartas de
Rouen no período em que estava redigindo o romance, passando pelas expressões locais
normandas usadas pelo autor e
por muitos outros segredos.
Tradução de Paulo Migliacci.
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