|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ACADÊMICOS NO CAMARIM
OS PROFESSORES JACÓ GUINSBURG
E JOÃO ROBERTO FARIA, QUE, JUNTAMENTE COM A CRÍTICA MARIÂNGELA ALVES DE LIMA, ORGANIZARAM O "DICIONÁRIO DO TEATRO BRASILEIRO", FALAM SOBRE A ABRANGÊNCIA DO PROJETO, QUE INCORPOROU PESQUISADORES DE TODO O PAÍS
NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Há três décadas, pouco
mais, segundo Jacó Guinsburg, ou menos, segundo
João Roberto Faria, que a
pesquisa do teatro no Brasil vive
uma "explosão".
Guinsburg, 84, editor da Perspectiva e professor aposentado da Escola
de Comunicações e Artes da USP, e
Faria, professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da USP, na cadeira que foi de Décio
de Almeida Prado, são os organizadores, ao lado da crítica Mariângela
Alves de Lima, da primeira obra coletiva que busca dar forma ao sem-número de estudos pelo país -o
"Dicionário do Teatro Brasileiro"
(Perspectiva/Sesc-SP, 356 págs., R$
70), que chega às livrarias na terça.
Os números impressionam. Cinco
anos em elaboração, 39 colaboradores, 250 verbetes, bibliografia com
quase 700 títulos. Guinsburg, o idealizador da obra, explica como foi
possível chegar a isso.
"O aspecto fundamental é que a
produção acadêmica, com respeito à
pesquisa da história e estética do teatro, sofreu uma transformação vital
nos últimos 30 anos, a partir da década de 60, mais ou menos. Na pesquisa, o conhecimento é infinitamente maior. E a incorporação ainda não se fez em termos mais formais. Por sua própria natureza e colaboradores, o dicionário reflete exatamente esse aspecto. Foi o nosso
objetivo mesmo."
Explosão nas pesquisas
Faria vai na mesma direção.
"A idéia de fazer o dicionário e
convidar todas as pessoas é vinculada a um fenômeno recente no Brasil,
que tem de 25 a 30 anos: o aumento
dos cursos de graduação e depois de
pós-graduação em artes cênicas. O
profissional no ensino superior é
muito cobrado, exige-se pesquisa. Se
você pensar em quantos especialistas o Brasil tem na área de literatura
e teatro, a explosão de produção
científica é muito grande. E é preciso
aproveitar, em obras como este dicionário, o conhecimento que está
por aí."
"Por aí" também no sentido de incluir todo o país. Guinsburg sublinha a diversidade geográfica dos estudos refletidos no livro, relatando
que buscou colaboradores "por toda
parte" para mostrar "a existência de
um movimento de envergadura
muito maior do que em geral estava
registrado".
Não por preconceito, destaca ele,
mas por dificuldade de acesso: "O
que a atual pesquisa acadêmica, no
Brasil inteiro, vem demonstrando é
exatamente a amplitude da prática
do teatro em lugares nos quais não
se supunha que existisse. A idéia dominante, meio século atrás, era de
que havia Rio, São Paulo, eventualmente Belo Horizonte ou Recife, e
que o resto era circo. (risos) E não é
verdade. Não é verdade."
Enciclopédico
O editor reconhece, com alguma
relutância, que uma das inspirações
do "Dicionário do Teatro Brasileiro"
foi o "Dicionário de Teatro", de Patrice Pavis, publicado em 1999 pela
mesma Perspectiva -editora criada
por ele em 1965 e que, com a "explosão" da pesquisa teatral, já bate nos
200 títulos voltados para a área.
"É claro que o Pavis foi um elemento, por que negar? Mas o nosso
interesse levou a isso, todo o nosso
trabalho como professores, pesquisadores, o trabalho do Décio [de Almeida Prado], do Sábato Magaldi,
Yan Michalski, tudo levou realmente a privilegiar um pouco o problema não só da diacronia mas também
da sincronia."
O resultado foi um dicionário "o
mais abrangente" -e por vezes desigual- de temas, formas e conceitos do teatro brasileiro, segundo Faria: "É como se a modéstia impedisse a gente de usar o adjetivo enciclopédico. Mas é quase. Quer dizer, é
um dicionário sobre a encenação,
com todos os gêneros dramáticos
contemplados, há verbetes sobre o
edifício teatral, a censura, a legislação, a formação do ator, o teatro de
revista, de bonecos, uma enorme
abrangência".
Não falta também, destaca ele, a
interface com outros meios e artes,
nas "entradas sobre dança-teatro,
ópera, radionovela, teleteatro, o léxico do circo" (leia trechos dos verbetes na pág. seguinte). Pontualmente,
os três organizadores se permitiram
até brincar, como no verbete conciso
"merda": "Gíria teatral utilizada para desejar sucesso aos artistas, antes
da estréia do espetáculo. É costume
francês, adotado no Brasil".
Texto Anterior: + cinema: Mocinhos e bandidos em Hollywood Próximo Texto: A exceção nacional Índice
|