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Biblioteca básica
Guerra e Paz
BORIS SCHNAIDERMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
Eis uma obra que tem sempre algo a nos ensinar.
Já se consagrou a opinião de que se trata da grande epopéia moderna. Mas, se eu tomo a palavra
epopéia no sentido dos dicionários, "poema de
longo fôlego acerca de assunto grandioso e heróico"
("Aurélio"), "Guerra e Paz" aparece, antes de tudo, como
uma anti-epopéia. Pois ali se desmascaram e se reduzem
à simples condição humana os grandes mitos ligados às
guerras em geral. Aparece então um verdadeiro achincalhe às representações grandiloqüentes da guerra popular
e patriótica (veja-se o episódio da pilhagem de uma rica
propriedade rural pelos camponeses), à auto-imolação
que teria sido, em 1812, o incêndio de Moscou ocupada
pelos franceses etc.
O que passa para o primeiro plano, em meio às vicissitudes de uma guerra, são os sentimentos e vivências pessoais. O grande mito do eterno feminino, encarnado por
Natacha, aparece mais forte que todos os relatos épicos.
Não importa que seja impossível levar a sério, hoje em
dia, a concepção de Tolstói sobre história ou sobre o papel dos grandes dirigentes de povos.
O que nos fica do livro, por meio de uma tessitura prodigiosa de argumento, é realmente uma epopéia, mas a
epopéia do humano e familiar, nunca os clangores impingidos pelas leituras escolares.
Boris Schnaiderman é tradutor, crítico literário, escritor e fundador
do departamento de russo da USP.
A obra
"Guerra e Paz", de Leon Tolstói. Trad. Gustavo Nonnenberg. 1.340
págs. Ed. Prestígio (esgotado).
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