São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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Leia introdução do diretor norte-americano Bob Wilson ao estudo "Pina Bausch", sobre a coreógrafa alemã, que chega amanhã às livrarias

A linguagem da dança entre vários mundos

BOB WILSON

Café Müller" foi a primeira obra de Pina Bausch que vi, em 1978. Desde então, já assisti a muitas outras obras e sempre me surpreende o modo como ela criou seu próprio universo teatral. Desenvolveu um vocabulário para iluminação de palco, gestual, movimento, cenário e figurinos, formando, assim, uma linguagem teatral completa.
A dança é seu mundo particular e, ao mesmo tempo, é o nosso. Sua obra se baseia em princípios clássicos como tema e variações. Poucos artistas conseguiram criar um universo artístico completo com sua própria linguagem.
O repertório de Pina abrange muitos mundos diferentes; ternura e violência, crueldade e diversão, ingenuidade e sofisticação. Ela teve a sorte de viajar e conhecer diferentes culturas e estéticas, as quais tem incorporado ao seu trabalho, enriquecendo-o e tornando sua linguagem cada vez mais universal.
É justamente essa diversidade unificada que creio ser a maior contribuição de Pina ao mundo das artes cênicas contemporâneas. O que eu mais admiro nos espetáculos da coreógrafa é o seu senso de humor e, em particular, o humor das pequenas crueldades.

Um rugido feliz
Ela possui uma imaginação forte, excitante, e seu trabalho é sempre uma espécie de rugido feliz. Embora não conheça "Água", sempre me lembrarei das minhas próprias experiências no Brasil. De um modo geral, a minha obra é rotulada de teatro ou de ópera; na verdade, ela é baseada na dança.
Os brasileiros sempre se mostraram receptivos ao meu trabalho e próximos ao mundo da dança. São Paulo é um lugar onde não existem prédios antigos, o que faz com que suas ruas formem uma platéia jovem e de mentes abertas, fazendo com que Nova York pareça velha e preguiçosa.
A arte não cria um mundo melhor; ela é o que permanece de uma cultura. Ao olharmos para as culturas antigas, sua arte é das poucas coisas que ainda podemos ver e estudar. A influência da obra de Pina será uma das poucas lembranças da arte do século 20.


Este texto é a introdução ao livro "Pina Bausch" (Cosacnaify, 176 págs., R$ 75), de Fábio Cypriano, crítico da Folha. Com fotografias de Maarten Vanden Abeele, ele chega amanhã às livrarias.


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