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Leia introdução do diretor norte-americano Bob Wilson ao estudo
"Pina Bausch", sobre a coreógrafa alemã, que chega amanhã às livrarias
A linguagem da dança entre vários mundos
BOB WILSON
Café Müller" foi a primeira
obra de Pina Bausch que vi,
em 1978. Desde então, já assisti a muitas outras obras e
sempre me surpreende o modo como ela criou seu próprio universo
teatral. Desenvolveu um vocabulário para iluminação de palco, gestual, movimento, cenário e figurinos, formando, assim, uma linguagem teatral completa.
A dança é seu mundo particular e,
ao mesmo tempo, é o nosso. Sua
obra se baseia em princípios clássicos como tema e variações. Poucos
artistas conseguiram criar um universo artístico completo com sua
própria linguagem.
O repertório de Pina abrange muitos mundos diferentes; ternura e
violência, crueldade e diversão, ingenuidade e sofisticação. Ela teve a
sorte de viajar e conhecer diferentes
culturas e estéticas, as quais tem incorporado ao seu trabalho, enriquecendo-o e tornando sua linguagem
cada vez mais universal.
É justamente essa diversidade unificada que creio ser a maior contribuição de Pina ao mundo das artes
cênicas contemporâneas. O que eu
mais admiro nos espetáculos da coreógrafa é o seu senso de humor e,
em particular, o humor das pequenas crueldades.
Um rugido feliz
Ela possui uma imaginação forte,
excitante, e seu trabalho é sempre
uma espécie de rugido feliz. Embora
não conheça "Água", sempre me
lembrarei das minhas próprias experiências no Brasil. De um modo
geral, a minha obra é rotulada de
teatro ou de ópera; na verdade, ela é
baseada na dança.
Os brasileiros sempre se mostraram receptivos ao meu trabalho e
próximos ao mundo da dança. São
Paulo é um lugar onde não existem
prédios antigos, o que faz com que
suas ruas formem uma platéia jovem e de mentes abertas, fazendo
com que Nova York pareça velha e
preguiçosa.
A arte não cria um mundo melhor;
ela é o que permanece de uma cultura. Ao olharmos para as culturas antigas, sua arte é das poucas coisas
que ainda podemos ver e estudar. A
influência da obra de Pina será uma
das poucas lembranças da arte do
século 20.
Este texto é a introdução ao livro "Pina
Bausch" (Cosacnaify, 176 págs., R$ 75), de
Fábio Cypriano, crítico da Folha. Com fotografias de Maarten Vanden Abeele, ele chega amanhã às livrarias.
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