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+Mundo
Passagem estreita para a Índia
Para pesquisador da UnB,
divisões étnica, religiosa e econômica podem explicar atentado de quarta passada em Mumbai
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DA REDAÇÃO
Centro financeiro e cidade mais populosa
da Índia, Mumbai foi
alvo de explosões de
granada e tiros de fuzil a esmo, num ataque terrorista iniciado na quarta-feira
passada. O país de Gandhi, da
conquista pacífica da independência, vem se acostumando
com o terror -a mesma cidade
foi alvo, em 2006, de um atentado a estações de trem que
matou 187 pessoas.
Na entrevista abaixo, o sociólogo Lytton Leite Guimarães,
do Núcleo de Estudos Asiáticos
da Universidade de Brasília, explica a realidade política e ideológica do país em meio aos ataques, que deixaram 125 mortos
até a última quinta-feira.
Na mesma noite, Guimarães
partiria para um congresso em
Nova Déli: "Estou até um pouco apreensivo", confessou, apesar de garantir que o terrorismo não representa uma ameaça à estabilidade política do
país.
(ERNANE GUIMARÃES NETO)
FOLHA - Qual é a situação política
interna da Índia?
LYTTON LEITE GUIMARÃES - A Índia
tem problemas de segurança.
Em nível regional, o problema mais sério relaciona-se com
o Paquistão, um problema histórico. Houve a partilha de território [com a saída dos colonizadores ingleses], e os dois lados ficaram descontentes. O
objetivo, segundo os ingleses,
era separar hindus e muçulmanos, mas há mais de 100 milhões de muçulmanos na Índia.
FOLHA - Como o país é dividido politicamente?
GUIMARÃES - Há o partido que
está no poder -com uma coalizão-, o Partido do Congresso,
fundado nos anos 1890, que teve o Mahatma Gandhi, é o mais
tradicional.
Desde a saída dos ingleses,
em 1947, ficou quase todo o
tempo no poder -exceto pelos
oito anos em que o partido nacionalista hindu BJP governou.
Este é mais radical, da tradição
hindu, que quer voltar à grandeza da Índia.
O Partido do Congresso é criticado por seu elitismo, ser dominado pela família Gandhi.
Há partidos menores, como
três partidos comunistas, que
gravitam em torno deles. Há
forças regionais, e por isso a
composição política para a sustentação do governo não é fácil.
FOLHA - O ato de violência pode ser
conseqüência de etnias serem politicamente subrepresentadas?
GUIMARÃES - O caso não é político. Tem fundo religioso, étnico
e, às vezes, econômico.
Na zona rural, por exemplo,
já há movimentos como os dos
sem-terra brasileiros. Hoje há
650 milhões de indianos [para
uma população de 1,1 bilhão]
abaixo da linha de pobreza
-definida pela renda de US$
1,35 por dia.
A situação é pior para os agricultores, que são afastados da
zona rural pelo crescimento industrial. Ainda há as castas, estamentos sociais que marcam o
comportamento cotidiano das
pessoas.
Mas os casos extremos de
violência também têm raízes
nacionalistas. Os nacionalistas
são acusados pelo ataque ao
trem que levava principalmente muçulmanos. Há a Caxemira
[região disputada], que não
quer ficar nem com a Índia
nem com o Paquistão, mas a Índia ocupa uma parte dela. E há
acusações de que terroristas
treinados no Paquistão entram
na Índia via Caxemira.
FOLHA - Grupos terroristas como a
Al Qaeda têm influência no país?
GUIMARÃES - Mais no Paquistão, embora também se infiltrem na Índia. Há os ataques a
estradas de ferro, por terroristas aparentemente treinados
no Paquistão -não membros
da Al Qaeda, mas com identificação religiosa e ideológica.
FOLHA - Testemunhas afirmaram
que os terroristas procuravam especificamente ingleses e norte-americanos como alvos. É ainda outro tipo
de conflito?
GUIMARÃES - Os ingleses são os
antigos "donos", os colonizadores. No caso dos EUA, acho que
é o problema do mundo inteiro,
contra a hegemonia.
FOLHA - O terror ameaça a estabilidade da maior democracia mundial?
GUIMARÃES - Não acredito na
possibilidade de ditadura. Há
eleições, há vitória da oposição
nas eleições.
FOLHA - Esses atentados afetarão o
status de Bric da Índia, quanto a
atrair investimentos externos?
GUIMARÃES - É possível que, por
um certo período, os investimentos prometidos aguardem
um pouco, mas nada que afete a
economia a médio prazo. A situação atual já é ruim para investimentos no país. Há também outros problemas como
corrupção, má infra-estrutura,
que inibem os investimentos.
A Índia já não atrai tantos investimentos. Ela é que tem investido, tem se valido de capital
doméstico.
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